Saiu
o "Drudge Manifesto". Sérgio Dávila mandou
de Nova York. É o livro em que o americano Matt Drudge, do
Drudge Report, site que deu o furo do escândalo Mônica
Lewinsky, entre outros, diz o que pensa. Se é que pensa.
O
livro é frustrante, como era de esperar, na verdade. Orgulhoso
de seu domínio da fofoca hollywoodiana e de Washington,
ele passa boa parte do tempo elogiando a si mesmo, arrolando programas
de televisão de que participou, escrevendo poesia (sic)
de quinta e distribuindo oráculos da era da Internet.
O
mais repisado é "a TV morreu" _embora ele não
pare de questionar a televisão ou de aceitar convites para
participar dela. Mas Matt Drudge é fascinante não
no discurso, que segue repetitivo, mas em si mesmo. Ele é
o grande personagem, o protagonista, de fato, do webjornalismo.
O
escândalo sexual de Bill Clinton é paradigmático:
não foi seu o "furo", mas sim a divulgação.
O que ele divulgou _e a imprensa demorou quatro dias para ecoar,
embora não se falasse de outra coisa nos círculos
políticos e jornalísticos_ foi que a revista "Newsweek"
havia derrubado uma reportagem com a história.
Daí
o discurso todo de Drudge contra os editores, que estariam em
extinção, como a TV. Na era da Internet, eles podem
até derrubar, mas as notícias encontram caminhos
outros para chegar ao leitor, em sites como o Drudge Report. Nas
palavras do próprio, no "Drudge Manifesto" (ed.
New American Library):
_
Este é o momento mais excitante da história do jornalismo.
Qualquer um, de qualquer lugar, pode cobrir qualquer coisa. E
mandar para todo o mundo.
O
problema, já explorado ao extremo, é que sites como
o de Drudge jogam qualquer coisa no ar, sem checar nem se importar
se é fato ou não. A discussão disso, em que
pesem os seus efeitos serem sentidos cotidianamente, não
é novidade para o leitor da web.
Vale
mais registrar, do "Drudge Manifesto", a aproximação
que faz das figuras do próprio Drudge e do lendário
Walter Winchell, retratado por Stanley Tucci no filme "O
Poder da Notícia". A capa do livro, aliás,
remete à imagem de seu mentor na capa de "Winchell:
Gossip, Power and the Culture of Celebrity", ou Fofoca, Poder
e a Cultura da Celebridade, biografia escrita por Neal Gabler.
Winchell
foi o que se pode descrever como um jornalista romântico,
no melhor e no pior sentido. Como se diz, ele pisava no pescoço
da mãe para conseguir uma notícia. Escrevia mal,
portanto, contratava outros para escreverem por ele. Em suas transmissões
de rádio, era antes e declaradamente o personagem de um
repórter, não o próprio.
Confundia
fofocas de Hollywood com fofocas da corte de Washington. Em suma,
Winchell foi o que Drudge é. Seu palco foram os jornais
tablóides dos anos 30 a 50, nos Estados Unidos, como hoje
o palco de Drudge é a web, no mundo todo.
Antes
deles, outros foram os Winchells e os Drudges. Quem se interessar
pode ler "Ilusões Perdidas", que deveria estar
no currículo de qualquer escola de jornalismo, da mesma
forma que este "Drudge Manifesto" _com todos os seus
defeitos. São ambos perfeitos para o idealista ter uma
idéia do que se trata, desde logo.
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Yankees
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11/10/2000 - Fora
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