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  15 de novembro
  Fofoca, poder e a cultura da celebridade
 
Saiu o "Drudge Manifesto". Sérgio Dávila mandou de Nova York. É o livro em que o americano Matt Drudge, do Drudge Report, site que deu o furo do escândalo Mônica Lewinsky, entre outros, diz o que pensa. Se é que pensa.

O livro é frustrante, como era de esperar, na verdade. Orgulhoso de seu domínio da fofoca hollywoodiana e de Washington, ele passa boa parte do tempo elogiando a si mesmo, arrolando programas de televisão de que participou, escrevendo poesia (sic) de quinta e distribuindo oráculos da era da Internet.

O mais repisado é "a TV morreu" _embora ele não pare de questionar a televisão ou de aceitar convites para participar dela. Mas Matt Drudge é fascinante não no discurso, que segue repetitivo, mas em si mesmo. Ele é o grande personagem, o protagonista, de fato, do webjornalismo.

O escândalo sexual de Bill Clinton é paradigmático: não foi seu o "furo", mas sim a divulgação. O que ele divulgou _e a imprensa demorou quatro dias para ecoar, embora não se falasse de outra coisa nos círculos políticos e jornalísticos_ foi que a revista "Newsweek" havia derrubado uma reportagem com a história.

Daí o discurso todo de Drudge contra os editores, que estariam em extinção, como a TV. Na era da Internet, eles podem até derrubar, mas as notícias encontram caminhos outros para chegar ao leitor, em sites como o Drudge Report. Nas palavras do próprio, no "Drudge Manifesto" (ed. New American Library):

_ Este é o momento mais excitante da história do jornalismo. Qualquer um, de qualquer lugar, pode cobrir qualquer coisa. E mandar para todo o mundo.

O problema, já explorado ao extremo, é que sites como o de Drudge jogam qualquer coisa no ar, sem checar nem se importar se é fato ou não. A discussão disso, em que pesem os seus efeitos serem sentidos cotidianamente, não é novidade para o leitor da web.

Vale mais registrar, do "Drudge Manifesto", a aproximação que faz das figuras do próprio Drudge e do lendário Walter Winchell, retratado por Stanley Tucci no filme "O Poder da Notícia". A capa do livro, aliás, remete à imagem de seu mentor na capa de "Winchell: Gossip, Power and the Culture of Celebrity", ou Fofoca, Poder e a Cultura da Celebridade, biografia escrita por Neal Gabler.

Winchell foi o que se pode descrever como um jornalista romântico, no melhor e no pior sentido. Como se diz, ele pisava no pescoço da mãe para conseguir uma notícia. Escrevia mal, portanto, contratava outros para escreverem por ele. Em suas transmissões de rádio, era antes e declaradamente o personagem de um repórter, não o próprio.

Confundia fofocas de Hollywood com fofocas da corte de Washington. Em suma, Winchell foi o que Drudge é. Seu palco foram os jornais tablóides dos anos 30 a 50, nos Estados Unidos, como hoje o palco de Drudge é a web, no mundo todo.

Antes deles, outros foram os Winchells e os Drudges. Quem se interessar pode ler "Ilusões Perdidas", que deveria estar no currículo de qualquer escola de jornalismo, da mesma forma que este "Drudge Manifesto" _com todos os seus defeitos. São ambos perfeitos para o idealista ter uma idéia do que se trata, desde logo.

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