Manifesto ARTE CONTRA A BARBÁRIE 3

O Movimento "Arte Contra a Barbárie" volta a público para reafirmar e aprofundar as posições defendidas nos dois manifestos lançados em 1999.
O Teatro é um elemento insubstituível para um país por registrar, difundir e refletir o imaginário de seu povo.
A produção artística vive uma situação de estrangulamento que é resultado da mercantilização imposta à cultura e à sociedade brasileiras.
Reafirmamos o compromisso ético com a função social de nosso ofício e de nossa Arte.
Hoje o pensamento está sendo reduzido a mercadoria. A Cultura ocupa apenas 0,2% no Orçamento Geral da União. O pensamento artístico no Brasil vale 0,2 % das preocupações oficiais.
O resultado a nação sente diariamente. É o aumento da violência e da selvageria.
Cultura é prioridade de Estado, por fundamentar o exercício crítico da cidadania na construção de um sociedade democrática.
Entre nossas ações, no ano passado, solicitamos aos órgãos oficiais ligados à Cultura, nas instâncias Municipal, Estadual e Federal, informações sobre os recursos para o fomento das atividades de Artes Cênicas e os critérios para seu efetivo gasto.
Os dados oficiais refletem uma evidente dedicação dos governos à quantidade numérica de suas realizações e total desprezo com a qualidade e o fundamento das atividades culturais que deveriam fomentar.
Não é difícil chegar a uma conclusão óbvia: os recursos são mal distribuídos e geridos por uma política que privilegia o mercado e eventos promocionais.
Os governos transferiram – através das leis de incentivo fiscal – a administração de dinheiro público destinado à produção cultural para as mãos das empresas. Isto é, o dinheiro público , através de renúncia fiscal, é utilizado com critérios que beneficiam interesses privados. As leis fazem com que o fomento e a difusão da cultura financiem o marketing das empresas. Essa política não trouxe nenhum beneficio à produção em geral: não barateou o preço dos ingressos, não ampliou o acesso aos bens culturais e principalmente não garantiu a produção continuada de Artes Cênicas.
No plano federal, o chamado Fundo Nacional de Cultura - que foi criado para fomentar a produção artística que não se rege pela "lei de mercado" - não tem tido seus recursos utilizados para essa finalidade.
Para que o país encontre o caminho da promoção das humanidades e se afaste da barbárie, oficial e não-oficial, são necessárias medidas urgentes e concretas. Em nossa área, isso significa o fomento da produção artística continuada e comprometida com a formação crítica do cidadão.

Com base nessa análise, propomos:

A criação de Programas Permanentes para as Artes Cênicas nos âmbitos municipal, estadual e federal com recursos orçamentários e geridos com critérios públicos e participativos.

A realização do Espaço da Cena , encontros públicos quinzenais para o debate permanente de política cultural e dos fundamentos éticos de nosso ofício, o Teatro, a partir de 3 de julho de 2000.

Que o teatro ocupe seu espaço na sociedade como interlocutor das questões humanas e da brasilidade!

ARTE CONTRA A BARBÁRIE
26 de junho de 2000