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André Singer
asinger@uol.com.br
  22 de novembro
  Mistura Fina
   
   
Primeiros acordes do balé presidencial

Volto à política. Depois de breves férias (não do trabalho, mas sim do jogo partidário), em que descansei os neurônios com as canções de Roberto Carlos (sei que muitos acharão esquisito, mas é a tal da força estranha) e a casa de Gilberto Freyre em Apipucos (Recife, PE), retomo o fio dos comentários que fiz no Eleições OnLine.

Antes de começar, um esclarecimento. Espero que a mistura de temas, a que alude o título desta coluna, seja agradável e não indigesta a você, leitor. A política estará presente, embora não como assunto exclusivo. Aguardo os seus comentários no asinger@uol.com.br.

Agora voemos direto para 2002. Quem serão os candidatos à Presidência da República? A pergunta anda por todos os lados.
Pelas bandas do PT, o senador Eduardo Suplicy esquentou o ambiente ao lançar-se à disputa.

Suplicy criou um fato novo. Nunca antes havia aparecido, dentro do PT, uma candidatura tão autônoma em relação à de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder incontestável do partido.

Quando Tarso Genro, o atual prefeito de Porto Alegre, apresentou-se em 1998, condicionou a postulação a uma decisão de Lula. Suplicy, não. Além de dizer que desejava ser presidente, o senador paulista declarou na segunda-feira (20/11/00) que Lula deveria abrir mão de ser candidato.

"A população considerará um gesto de grande generosidade a decisão dele de não ser candidato e de ajudar o partido a eleger o presidente do Brasil", afirmou Suplicy. É a primeira vez que uma figura nacional afirma com todas as letras que Lula não deve ser candidato pela quarta vez.

Com Lula ou sem Lula, Suplicy quer uma prévia interna e pretende disputá-la. Agora a palavra cabe aos demais dirigentes partidários. A primeira carta foi posta na mesa.

Lula pediu um tempo até março, o que também constitui um fato político importante. Março está aí, é pouco tempo. As atenções ficarão presas em saber o que ele decidirá e o que fará até então para decidir.

À revista Caros Amigos Lula disse ter "consciência de que tenho um patrimônio construído com meu partido e que tem um peso". Traduzindo: Lula sabe que sai de um patamar alto (30%), que ninguém mais tem no PT. A dúvida é como ampliar o cabedal de votos, de modo a disputar com chances de vitória.

O presidente de honra do PT é um político pragmático. Convém prestar atenção no que ele diz e faz, porque o seu cérebro perspicaz funciona de um jeito prático. Se ele sentir que há um caminho para crescer, tomará as rédeas. Se achar que o espaço fechou, deixará para outro.

Por isso, Lula está de olho nos movimentos dos outros pré-candidatos. O que fará o imprevisível Itamar Franco? Vai se filiar ao PSB para apresentar-se como um postulante de centro-esquerda? Meu palpite é que Itamar prefere uma opção mais ao centro. Ocorre que o PMDB ou fica com o bloco governista ou lança Pedro Simon. Situação complicada para Itamar.

Garotinho poderá, então, lançar-se pelo PSB, caso a legenda não seja ocupada por Itamar? Parece-me difícil. O espaço de centro-esquerda está disputado demais, uma vez que as intenções de voto creditam quase 20% (uma enormidade) a Ciro Gomes (PPS).
Este último, a meu ver, é candidatíssimo. Lula declarou que Ciro deseja fazer-se candidato do PSDB. Poder ser. Lula sabe das coisas. Mas há grandes chances de o bloco de governo permanecer unido e sair com um candidato único. A razão, a meu ver, é simples. Existem hoje razoáveis chances de vitória, caso não sobrevenha uma crise econômica.

Quem será o candidato governista? Com Mário Covas e Roseana Sarney afetados por problemas de saúde, restam Tasso Jereissati, José Serra e Antônio Carlos Magalhães. Creio que iremos assistir, cada vez mais, articulações por parte dos três com vistas a viabilizar os próprios nomes.

Tasso precisa provar que o coração aguenta e que um candidato nordestino seria aceito no sudeste. Serra necessita contornar o veto de Antônio Carlos Magalhães e mostrar que tem carisma popular. Antônio Carlos Magalhães busca aparar a rejeição dos setores populares que o vêem como tubarão. Daí a bandeira do salário mínimo.

Por falar em salário, vale a pena ler um texto que apareceu no site Primeira Leitura sobre a falta de agenda propositiva do governo FHC, até mesmo no que diz respeito ao problema do mínimo. No artigo argumenta-se que a falta de iniciativa presidencial pode gerar um vácuo no qual o PT ameaça ganhar as eleições de 2002. Lembrem-se que o site é mantido pelo ex-ministro Luís Carlos Mendonça de Barros e Luiz Felipe D'Avila, editor das revista República e Bravo.
Vai ser interessante acompanhar o balé pré-eleitoral. Pode parecer precipitado, mas nas democracias é assim mesmo. A discussão dos grandes temas passa pela cogitação de nomes e partidos que compõem e podem vir a compor o governo.

P.S. Não conheci o médico sanitarista Davi Capistrano Filho, ex-prefeito de Santos, que morreu no dia 10 de novembro, aos 52 anos. Quando soube de sua morte, entretanto, senti que uma parcela da História do Brasil se ia com ele. Recomendo, a propósito, a leitura do artigo do professor Marco Aurélio Nogueira no www.werbo.com.br.

Leia colunas anteriores
17/11/2000 - Conhaque de Pitanga
15/11/2000 - Volta apoteótica
10/11/2000 - Está tudo na voz

 


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