Pensata

Carlos Heitor Cony

21/10/2003

A cabeça e o pão

Numa homenagem prestada ao Castelinho, Carlos Castelo Branco, tido como modelo do colunismo político, mestre de gerações de jornalistas, foi levantada a sua produção ao longo de sua carreira. Chegaram aos 10 mil artigos assinados por ele em diversos jornais, sobretudo no "Jornal do Brasil". Como sempre, houve um desocupado que mediu suas colunas, que geralmente cobriam um canto da página de alto a baixo, e chegou à conclusão de que, enfileirados, eles dariam uma volta inteira em nosso planeta e ainda sobrava alguma coisa.

Evidente que não foi a quantidade quedeu brilho à sua atuação na imprensa. Era bem informado, escrevia bem, publicou um romance, alguns contos, pertenceu à Academia Brasileira de Letras, era querido pelos colegas de ofício e respeitado pela classe política.

Dez mil artigos! Troço pra burro! (Uso pontos de exclamação porque eles existem, e se existem, existem por algum motivo). Deve haver por aí alguns escribas que chegaram perto desta marca, e talvez a tenham superado.

Um deles deve ter sido Humberto Campos,o maior cronista de seu tempo. Escrevia três artigos diários para edições diferentes. Quando morreu, o comércio do centro da cidade fechou, teve uma apoteose fúnebre. Deixou este lamento que serve para todos os que são obrigados a escrever: " Vendo miolo da cabeça para poder comprar miolo de pão".
Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000. Escreve para a Folha Online às terças.

E-mail: cony@uol.com.br

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