Pensata

Kennedy Alencar

20/10/2006

"Civilizado", debate não deve virar votos

Passadista, com poucas propostas concretas e sem os golpes duros do confronto na Rede Bandeirantes, o debate do SBT deverá ter pouca influência na disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).

O tucano foi muito mais contido do que no debate da TV Bandeirantes, confirmando o diagnóstico de pesquisas qualitativas de que teria se comportado um pouco acima do tom ao bater ferozmente em Lula.

Alckmin foi bem. Mas Lula também. Houve um relativo equilíbrio entre momentos de ofensiva e defensiva de ambos os candidatos. Nessa toada, o petista tende a ser favorecido por ter ampliado na última semana a dianteira nas pesquisas --20 pontos percentuais de intenção de votos válidos sobre o tucano no Datafolha divulgado na terça-feira.

No primeiro bloco, em que responderam a temas sorteados, Lula não fez uma pergunta sobre agricultura. Na prática, defendeu o que implementou em quatro anos na área. Alckmin tampouco falou de proposta. Ou seja, de futuro. Criticou o que Lula teria deixado de fazer na agricultura.

Esse comportamento passadista, no qual o presidente defendia sua gestão e o ex-governador atacava a administração do adversário, prejudicou a discussão de propostas.

Algo verborrágico, Lula foi mal quando exagerou na leitura de números. Alckmin tirou mais proveito da câmera, falando diretamente aos telespectadores.

O presidente, porém, estava mais preparado do que no debate anterior. Fez um treinamento mais intensivo. Estava também mais confiante, sobretudo por causa das pesquisas favoráveis. O petista deu chutes na canela. Um exemplo: insistiu em carimbar Alckmin como defensor das privatizações.

Em resumo, foi um debate mais "civilizado", sem a agressividade do debate anterior. Não parece ter sido um evento capaz de produzir grandes viradas de voto no eleitorado.




Mão pesada

É relativa a máxima de que candidato que ataca perde voto. Basta olhar o tom da campanha negativa da propaganda de Lula no horário eleitoral gratuito. Colou os carimbos de "privatista" e de algoz da área social em Alckmin. E Lula subiu seis pontos no Datafolha em uma semana. Já Alckmin, que também tem batido, perdeu terreno.




Ponto futuro

O retorno ao figurino bom moço no debate do SBT e na campanha de TV levanta uma questão: Alckmin já não jogaria para tentar sair da eleição maior do que entrou? Já não estaria pensando em acumular forças para se reapresentar em 2010?

Como escreveu Eliane Cantanhêde na versão imprensa da Folha, mesmo que seja derrotado, o ex-governador sai desta eleição maior do que entrou. A ida ao segundo turno lhe deu musculatura política. Os governadores eleitos José Serra e Aécio Neves, potenciais candidatos do PSDB em 2010, não poderão ignorá-lo.
Kennedy Alencar, 39, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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