Eliane Cantanhêde
02/11/2005
Primeiro, foi o senador tucano Arthur Virgílio, dizendo que seus filhos andam sendo espionados pelo governo e que, se isso se confirmar, ele vai dar "uma surra" nos culpados. Leia-se: em Lula.
Depois, o deputado pefelista ACM Neto, que foi ao plenário com a versão de que igualmente estaria sendo investigado e que não titubearia em também "dar uma surra" nos responsáveis, até no presidente.
Enfim, a senadora valentona do PSol, Heloisa Helena, foi na mesma linha, mas mudando o tempo do verbo. Ela não deixaria para o futuro, ela se disse capaz de dar logo uma surra.
Num ano de tanta pancadaria no Congresso, no sentido figurado e também no literal, esse tipo de retórica não faz bem a ninguém, nem à imagem já tão machucada da instituição. Se fizer, faz bem a Lula. Até porque se encaixa perfeitamente na contra-ofensiva dele.
Passado o pior do vendaval das denúncias envolvendo o governo e o PT, Lula agora quer reforçar a imagem de vítima da direita, da oposição e da mídia, aproveitar-se de reportagens capengas para comprovar que se usam quaisquer métodos contra ele e vender os êxitos de sua política econômica.
Quando Virgílio, ACM Neto e Heloisa Helena ameaçam bater no presidente da República, a reação imediata de todo mundo é ficar contra eles e a favor de Lula. Imagine-se isso quando o cidadão já é petista e já apóia o governo. Vira uma fera.
O mesmo raciocínio vale para quando a oposição, vira e mexe, fala de impeachment de Lula. O resultado político é inverso ao esperado. Em vez de acirrar os ânimos contra Lula, mobiliza o sentimento e os movimentos a favor dele. Simples como água.
O mais interessante é que ninguém de fato quer agora, como não queria antes, o impeachment. E quem fala nisso só por falar não consegue algum benefício político e ao mesmo tempo atrai um malefício. É a estratégia da autodestruição.
E, por falar nisso, a imprensa entrou na roda. Depois de cinco meses veiculando as denúncias das CPIs e os resultados das investigações próprias, em várias áreas, a mídia começa a perder o fôlego e passa a apanhar.
Neste caso, quem ameaça bater não é a oposição, mas sim o governo. Aliás, o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, em carne e osso, acenando até com medidas a la Chávez, para cortar publicidade de órgãos considerados como "inimigos". Caso, por exemplo, da revista "Veja".
A ira de presidentes contra a imprensa pode parecer novidade, como gostaria Lula, mas não é. Ao contrário, nada mais corriqueiro. Fernando Henrique Cardoso passou a maior parte dos seus 8 anos tendo ataques por causa da imprensa (Sivam, compra de votos, privatizações, dossiê Cayman, Eduardo Jorge; alguns eram casos verdadeiros, outros não). Faz parte da difícil e nervosa convivência da mídia com os poderosos de plantão.
Difícil e nervosa, sim. Desde que democrática, viu, Lula?
Ameaça (literal) de pancadaria
Se pensam que estão prejudicando Lula com suas ameaças de "bater" no presidente, os oposicionistas estão redondamente enganados. Tudo o que ele quer é sair como vítima e sair por cima de toda essa crise.Primeiro, foi o senador tucano Arthur Virgílio, dizendo que seus filhos andam sendo espionados pelo governo e que, se isso se confirmar, ele vai dar "uma surra" nos culpados. Leia-se: em Lula.
Depois, o deputado pefelista ACM Neto, que foi ao plenário com a versão de que igualmente estaria sendo investigado e que não titubearia em também "dar uma surra" nos responsáveis, até no presidente.
Enfim, a senadora valentona do PSol, Heloisa Helena, foi na mesma linha, mas mudando o tempo do verbo. Ela não deixaria para o futuro, ela se disse capaz de dar logo uma surra.
Num ano de tanta pancadaria no Congresso, no sentido figurado e também no literal, esse tipo de retórica não faz bem a ninguém, nem à imagem já tão machucada da instituição. Se fizer, faz bem a Lula. Até porque se encaixa perfeitamente na contra-ofensiva dele.
Passado o pior do vendaval das denúncias envolvendo o governo e o PT, Lula agora quer reforçar a imagem de vítima da direita, da oposição e da mídia, aproveitar-se de reportagens capengas para comprovar que se usam quaisquer métodos contra ele e vender os êxitos de sua política econômica.
Quando Virgílio, ACM Neto e Heloisa Helena ameaçam bater no presidente da República, a reação imediata de todo mundo é ficar contra eles e a favor de Lula. Imagine-se isso quando o cidadão já é petista e já apóia o governo. Vira uma fera.
O mesmo raciocínio vale para quando a oposição, vira e mexe, fala de impeachment de Lula. O resultado político é inverso ao esperado. Em vez de acirrar os ânimos contra Lula, mobiliza o sentimento e os movimentos a favor dele. Simples como água.
O mais interessante é que ninguém de fato quer agora, como não queria antes, o impeachment. E quem fala nisso só por falar não consegue algum benefício político e ao mesmo tempo atrai um malefício. É a estratégia da autodestruição.
E, por falar nisso, a imprensa entrou na roda. Depois de cinco meses veiculando as denúncias das CPIs e os resultados das investigações próprias, em várias áreas, a mídia começa a perder o fôlego e passa a apanhar.
Neste caso, quem ameaça bater não é a oposição, mas sim o governo. Aliás, o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, em carne e osso, acenando até com medidas a la Chávez, para cortar publicidade de órgãos considerados como "inimigos". Caso, por exemplo, da revista "Veja".
A ira de presidentes contra a imprensa pode parecer novidade, como gostaria Lula, mas não é. Ao contrário, nada mais corriqueiro. Fernando Henrique Cardoso passou a maior parte dos seus 8 anos tendo ataques por causa da imprensa (Sivam, compra de votos, privatizações, dossiê Cayman, Eduardo Jorge; alguns eram casos verdadeiros, outros não). Faz parte da difícil e nervosa convivência da mídia com os poderosos de plantão.
Difícil e nervosa, sim. Desde que democrática, viu, Lula?
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Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Participou intensamente da cobertura do choque entre o Boeing da Gol e o jato Legacy, em setembro de 2006. E-mail: elianec@uol.com.br |