O
que esperar do século 21? Com a virada formal do milênio,
que acontece agora, não de 1999 para 2000, essa pergunta
é a mais ouvida. O que queremos são certezas, mas
é pouco provável que elas venham neste século
ou nos próximos. Continuaremos caminhando na escuridão
das incertezas com relação a Deus, à morte,
ao destino, ao futuro, enfim.
Mas
há esperanças e especulações fora
da metafísica.
Por
exemplo na medicina, que é um dos ramos que mais nos interessam,
uma vez que somos hipocondríacos e só temos a certeza
(ela de novo) de que a morte virá.
Afinal,
vamos poder desfrutar das descobertas na área da genética?
Será que com o mapeamento do DNA vamos poder acabar com
as doenças e viveremos para além dos 120 anos?
Que
a engenharia genética vai nos ajudar não há
dúvida. Que o ser humano estenderá sua expectativa
de vida também não. Há até aqueles
que acreditam que o homem vai morrer de tédio, não
mais de doenças.
Por
exemplo, me lembro da profecia do professor Marvin Minsky do MIT
(Massachusetts Institute of Technology) feita num seminário
para céticos em 1998. Segundo ele, num futuro não
muito distante os avanços da medicina vão permitir
que o homem viva quanto quiser. "Basta consertar alguns genes",
disse ele.
Além
disso, vamos poder passar em uma loja para comprar mais capacidade
de memória para nós mesmo, como fazemos hoje com
os computadores.
Mas
o mesmo professor ressaltava que para muitos a vida vai ser um
pouco chata, tediosa, e que vários vão preferir
é morrer mesmo.
De
qualquer forma, tomara que essa profecia não siga o caminho
de tantas outras e se concretize. Afinal, é melhor morrer
de tédio quando quiser que inesperadamente, sem querer.
Outro
avanço deve estar ligado à Internet, que nem existia
na última virada do século. Talvez nada muito radical
tecnologicamente aconteça, mas já está ocorrendo
uma revolução silenciosa, uma revolução
de acesso, que deve tornar o mundo ainda mais aberto para a troca
de informações e conhecimentos.
Um
exemplo é Cuba, onde a Internet tem permitido furar o bloqueio
de informações externas decretado pelo Estado. Hoje,
ainda são poucos os cubanos com acesso a computadores e
Internet, mas quem consegue esse acesso não respeita a
determinação de Fidel de não consultar sites
noticiosos estrangeiros.
Isso
deve ocorrer em todos os lugares e vai ser cada vez mais difícil
manter um país fechado, sem informações do
mundo. Vai ser cada vez mais difícil controlar as mentes
humanas.
E com relação à economia. Será que
a ela também trará boas novidades? A globalização
e o neoliberalismo, por exemplo, vão se transformar numa
força para reduzir a desigualdade no mundo ou vão
apenas contribuir para a total segregação dos países
pobres?
E
a nova economia, vai provocar um crash global e jogar toda a economia
mundial numa recessão?
Bom,
nesse campo é bem mais difícil dar um "chute"
e há argumentos convincentes para os múltiplos cenários
possíveis.
Além
disso, certezas nessa área tornariam qualquer um bilionário.
Por
fim, para não se alongar muito, o que acontecerá
com a nossa religiosidade? Vamos nos tornar ateus radicais ou
vamos iniciar uma era de crenças, principalmente esotéricas,
como o final do milênio prenuncia?
Isso
vai depender de Deus, caso ele exista. Darci Ribeiro costumava
dizer que Deus era culpado por ele ser ateu. E explicava: se Deus
fez tudo, como afirmam aqueles que acreditam nele, me fez um homem
descrente, e isso eu não posso mudar.
Se
isso é verdade ou mentira, muito provavelmente nem nos
próximos milênios nos vamos saber, ou ter certeza.
Feliz
ano novo, década nova, século novo, milênio
novo
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