Jornalistas
do Rio e de São Paulo devem estar em festa. Aquela máxima
da profissão, de que falta de notícias é
má notícia, está totalmente afastada com
as posses de César Maia e Marta Suplicy. Com esses dois,
não faltaram manchetes.
Os
primeiros dias já deram o tom do que será o início
das duas administrações nas maiores cidades do país.
Só
no dia da posse, César Maia, o rei dos factóides,
baixou um pacote com 90 medidas, sendo 84 decretos, quatro mensagens
e dois avisos de audiência pública.
Resolveu
também revogar as 43 últimas medidas tomadas por
seu antecessor, Luiz Paulo Conde.
Maia
atirou para todos os lados. Mandou baixar o pedágio na
Linha Amarela, proibiu a divulgação de pesquisas
de opinião na cidade, mexeu na cobrança do ISS dos
bancos, regulamentou a atuação das funerárias,
anunciou que vai desapropriar o prédio do Cassino da Urca,
proibiu os videojogos e cirurgias experimentais em animais. Ontem,
mandou a Guarda Civil retirar todos os mendigos, e seus animais,
da rua.
Muitas
medidas do prefeito carioca serão consideradas inconstitucionais,
outras não sairão do papel, por dependerem da Câmara
Municipal ou por serem esquecidas pelo próprio prefeito.
Mas ele não deve parar de fazer marola, faz parte de seu
estilo.
Marta,
por enquanto, está gerando mais notícias referentes
a seu relacionamento com a imprensa do que com medidas efetivas.
Primeiro achou estranho que repórteres estivessem de manhã
na porta de sua casa. Depois, seus seguranças na prefeitura
confinaram alguns jornalistas numa sala para impedir que eles
acompanhassem a prefeita numa visita pelo Palácio das Indústrias.
Ontem
(3/1), Marta admitiu que não sabe lidar com o assédio
da imprensa. Mas terá que se acostumar, uma vez que tem
ambições maiores que a Prefeitura de São
Paulo.
A
prefeita também vai dar trabalho aos jornalistas com seus
atos fora da prefeitura, como aconteceu na terça-feira,
quando decidiu almoçar com moradores de rua. Por erro de
sua assessoria e dos organizadores do evento, mais de 800 pessoas
apareceram para o almoço, programado para 60. Houve confusão
no centro, até que restaurantes resolveram distribuir lanches
para os "sem-convite"
O
próximo evento do tipo da nova prefeita será pintar,
com torcedores de times de futebol, o estádio do Pacaembu,
no dia 20.
Os
dois novos administradores também parecem estar num concurso
de citações. No longo discurso de posse (36 minutos),
Marta foi eclética. Parafraseou Karl Marx e citou o jazzista
Thelonious Monk, o poeta e tradutor Augusto de Campos, o escritor
uruguaio Eduardo Galeano e o arquiteto espanhol Jordi Borja Sebastiá.
Maia,
por sua vez, ataca de ditadores e clássicos da ciência
política em qualquer entrevista: Maquiavel, para falar
da relação com o governador Antony Garotinho; Mussolini
para tratar de nepotismo.
Tomara
que no meio das exibições de erudições
e de factóides sobrem mesmo medidas para a melhoria das
cidades. Afinal, foi para isso que eles foram eleitos, não
para alegrar ou dar serviço para jornalistas.
Leia colunas anteriores:
31/12/2000 - Ainda uma era de incertezas, mas com esperanças
24/12/2000 -Não
racionalize o Natal, ou feliz aniversário Jesus Cristo
17/12/2000 - Um caipira
no topo do mundo
29/10/2000 - A festa de Marta;
a sobrevida de Maluf
22/10/2000 - Debate político só vale com detector de mentira