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Vaguinaldo Marinheiro

Vaguinaldo Marinheiro
vmarinheiro@uol.com.br
  14 de janeiro de 2001
  A saúde de Covas,
Roosevelt e a imprensa
 

Nas décadas de 30 e 40, a imprensa americana fez um acordo com o presidente Franklin Delano Roosevelt, que governou os EUA de 1933 a 1945. Não mostrariam fotos que revelassem que ele tinha uma deficiência física, resultado de uma poliomielite, e usava cadeira de rodas.

O presidente que enfrentou o período da grande depressão americana e a 2ª Guerra Mundial temia que as pessoas o considerassem fraco, devido a sua deficiência. E muitos norte-americanos nem sequer desconfiavam que seu 32º presidente tinha paralisia.

Agora, associações de deficientes físicos dos EUA conseguiram inaugurar em Washington DC uma estátua que mostra Roosevelt em uma cadeira de rodas, apesar da resistência da família do presidente, que era contra.

A avaliação das organizações é exatamente oposto à de FDR. Elas acreditam que a exibição de um herói americano numa cadeira de rodas vai ajudar a melhorar a imagem dos deficientes e mostrar que deficiências físicas não impedem que uma pessoa chegue ao cargo mais importante de um país.

Coincidentemente, essa notícia sobre Roosevelt apareceu na mesma semana em que os meios de comunicação mostraram que o estado de saúde do governador Mário Covas, ou a quantidade de remédios que está sendo obrigado a tomar, lhe causaram dificuldades de raciocínio e de articulação quando da posse do novo presidente da Febem, na quarta-feira.

A divulgação dos problemas de Covas causaram indignação em muitas pessoas, que acusam meios de comunicação de sensacionalismo e de desrespeito com o governador. Preferem mais discrição ou uma espécie de censura.

Não quero aqui defender a mídia, que muitas vezes é mesmo sensacionalista e desrespeitosa. Acho também que devem existir limites para a publicação de determinados fatos relacionados à saúde de qualquer pessoa e que nem tudo é notícia. Mas Mário Covas é um homem público que em nenhum momento tentou esconder sua doença ou os efeitos que ela está causando em sua vida.

Covas poderia ter preferido ficar trancado no Palácio dos Bandeirantes enquanto está sob tratamento. Mas não quer. Faz questão de que as pessoas acompanhem a evolução de seu estado de saúde e nunca esquece de agradecer a solidariedade que recebe.

O governador não quer, como quis Roosevelt, esconder suas atuais deficiências. Talvez porque tenha um histórico democrático e saiba que esconder problemas de saúde de governantes é característica de regimes ditatoriais, sejam os brasileiros, no período militar, sejam os da extinta União Soviética ou atualmente o iraquiano, de Saddam Hussein.

Outra possibilidade, tão plausível quanto, é que Covas esteja mais afinado com o que pensam as associações de deficientes americanas hoje do que pensava Roosevelt na primeira metade do século. Ele deve saber que pode servir de exemplo e incentivo para outras pessoas que também lutam contra o câncer.

ABSURDO DA SEMANA

Foi o depoimento do jogador Ronaldo na CPI. Os deputados pareciam fãs num bar. Houve até um deputado que perguntou: "Por que o Brasil perdeu a Copa de 98?" O jogador, com uma ironia que poderia ter sido ainda mais ferina, disse: "Porque a França fez três gols".

Qualquer membro de CPI deveria se preparar para esses depoimentos e apenas fazer perguntas pertinentes, que pudessem ajudar na investigação de irregularidades. Não dá para um parlamentar pedir a palavra apenas para dizer, "como todo brasileiro, também sou um aficionado por futebol".

Essa nossa CPI acabou sendo até motivo de piada para o cantor Sting, que afirmou: "Só mesmo aqui no Brasil. Alan Shearer (ex-capitão da seleção inglesa) nunca seria chamado pelo governo para explicar uma derrota. Até porque perdemos sempre".


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