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Vaguinaldo Marinheiro

Vaguinaldo Marinheiro
vmarinheiro@uol.com.br
  21 de janeiro de 2001
  Considerações sobre o Rock in Rio
 

Pode parecer estranho, mas hoje vou tentar encarnar o Lúcio Ribeiro e escrever sobre rock. Alguns podem achar que o assunto é fútil. Mas o Rock in Rio 3 é algo gigantesco. Um público de cerca de 1,4 milhão de pessoas nos sete dias de shows, e movimento financeiro que deve ultrapassar os R$ 500 milhões, maior que o faturamento anual de grandes empresas, como mostrou reportagem publicada na Folha.

Como foram sete dias de shows, lá vão sete considerações:

1- Slogan piegas, mas importante - Foi do que mais se falou antes do início do festival, que o slogan "por um mundo melhor" e os três minutos de silêncio pela paz eram demagógicos, bregas, sem sentido algum e que não mudariam o mundo. Bom, dá para concordar que é demagógico e brega. Mas muitos no mundo rock sempre tiveram a intenção de construir um mundo melhor, seja no longínquo paz e amor dos anos 60, sejam nas ainda panfletárias músicas de grupos como U2.

Além disso, os organizadores do festival fizeram algo de prático: destinar 5% do faturamento para a Associação Viva o Rio e para a Unesco, que vão usar o dinheiro em programas educacionais voltados para crianças carentes. É demagógico, mas o que importa nesse caso é que entidades sérias vão receber um bom dinheiro.

2- Bandas brasileiras que dizem não - Isso também foi assunto para o antes do festival. Seis bandas brasileiras, entre elas Skank, o Rappa e Charlie Brown Jr, decidiram não tocar no Rock in Rio 3 porque não estavam tendo o mesmo tratamento dispensado às bandas estrangeiras. Ora, a música brasileira é muito boa e rica, mas não fazemos rock como os americanos e ingleses. E esse é um festival de rock. Alguém imaginaria um festival na Inglaterra, chamado Samba in London, cujas principais atrações fossem bandas inglesas? É mais ou menos a mesma coisa.

3- Teens dubladores - Não é possível ficar pulando sem parar e não desafinar, não ficar ofegante, não soprar no microfone. Os ídolos teens que se apresentaram na quinta-feira sabem disso e optaram por não cantar "de verdade", pular e manter a afinação por meio de playbacks. Isso valeu para todos, de Sandy e Junior a Britney Spears, passando também por Five e N'Sync.

Parte do público chiou. Afinal, show ao vivo é legal para ver versões diferentes daquelas que estão nos discos, com improvisações, desafinações, alterações de voz etc. Mas isso talvez não caiba no esquema superprofissional e arrumadinho dos astros da quinta-feira.

4- Vaia para a bandeira americana - Isso foi a festa para os nacionalistas (e para aquelas bandas que reclamavam dos privilégios aos "yankees"). A musa teen Britney Spears foi vaiada quando colocou no telão uma gigantesca bandeira americana. O público vaiou e gritou Brasil, Brasil. Carlinhos Brown, que levou garrafadas dos fãs do Guns N'Roses no domingo passado, deve ter pensado que esse público, sim, raciocina.

5- São Paulo com inveja - Além de o Rio de Janeiro ser muito mais bonito que São Paulo, a cidade conseguiu pela terceira vez fazer um festival de música que pode entrar, sem nenhum demérito, entre os grandes eventos de rock do mundo. É apenas mais uma razão para os paulistas invejarem os cariocas.

6- Dinheiro movimentado - Os principais números já estão no início deste texto. Mas há mais detalhes. Como todos acreditam que o turismo e a indústria do entretenimento serão responsáveis pelas maiores movimentações financeiras neste novo século, o Rock in Rio deu um novo exemplo. A Associação Brasileira das Agências de Viagem acredita que só os turistas movimentem R$ 300 milhões em estadia, passagens e alimentação nos sete dias de festival.

7- Vocalista preso e juiz star - O mais novo candidato a pop star, o juiz Siro Darlan, conseguiu mais uma vez ser notícia. Depois de colocar tarjas nos outdoors do grupo francês Crazy Horse e na bunda de Carla Perez, e de proibir crianças de aparecer na novela "Laços de Família", ele mandou deter o baixista e vocalista da banda "Quens of the Stone Age", Nick Oliveri, por aparecer no show pelado.

Se ele tivesse ficado pelado na noite teen faria algum sentido, mas na noite dos metaleiros, quando a maioria dos presentes era homem? O juiz deveria saber que pelados em festivais de rock são tão comuns quanto sujeira nos banheiros.




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