Na década de 60, Caetano Veloso cantava "O Sol nas bancas de revista me enche de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia?"
Vale repetir, era a década de 60 e o número de títulos de revista nas bancas não era um décimo do que há hoje, não existiam rádios com noticiário 24 horas por dia, nem TVs a cabo como CNN ou Globo News. Nem ao menos Internet e jornais on line com notícias novas a cada minuto.
Também não era possível ler notícias num aparelho de bip ou no celular. O que dizer então agora, quem lê, vê, ouve tanta notícia?
Isso me veio à cabeça ao acompanhar a cobertura do acidente com o cantor e compositor Herbert Vianna, no qual morreu sua mulher, Lucy.
Desde domingo (dia 4) à tarde, quando o ultraleve caiu em Mangaratiba (litoral sul do Rio de Janeiro), foi colocado à disposição de ávidos leitores, ouvinte e telespectadores toneladas e toneladas de material sobre o músico e sua família.
Durante toda a semana, cada novo exame, cada nova tomografia, cada novo coágulo retirado estava explicitado na mídia. Passamos a conhecer os médicos que cuidam dele, a reconhecer seus irmãos e pais.
Agora, revistas semanais trazem nas suas capas os últimos passeios da família Vianna, o piquenique entre os pais e os três filhos.
E graças a essa exposição de uma tragédia familiar, jornais e revistas vendem mais. Rádios, TV e Internet aumentam sua audiência.
Mas por que é que queremos saber de tudo isso? De onde nasce essa curiosidade que sempre se associa a tragédias? Por que precisamos ver os irmãos do músico chorando, o relato de como foi duro ter contado aos filhos do casal que Lucy havia morrido e que Herbert está em coma? Por que não temos preguiça com relação a essas "notícias"?
Talvez porque sejamos viciados em tristeza. Talvez porque precisamos presenciar manifestações de dor. Precisamos tanto que, quando não temos essas manifestações na "vida real", recorremos à ficção, e isso explica o mega sucesso de novelas como "Laços de Família", com todas as suas doenças e mortes.
E se a pergunta "quem lê tanta notícia" ainda vale, nesse caso a resposta é todo mundo. Porque, por ser alguém famoso, Herbert se transforma na hora de um tragédia num parente de todos. E a mídia, por sua vez, se transforma naquela tia que fica o dia todo no hospital e liga para todo mundo para contar os detalhes.
Não sendo sensacionalista, essa tia é essencial.