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Domingo, 1º de outubro de 2000

Fora daqui

Rodrigo Bueno
     


Na minha primeira coluna após Wanderley Luxemburgo ter assumido a seleção brasileira, apresentei números curiosos do treinador, que jamais havia vencido um jogo oficial no exterior.

Se é que posso me orgulhar disso, fui o primeiro colunista do
país a criticar Luxemburgo no comando do time nacional. Agora,
em sua saída, quando todos não poupam pedras ao técnico, tentarei fazer um balanço racional de sua incursão no futebol mundial.

Fora do Brasil, Luxemburgo confirmou sua fama de ‘‘caseiro’’.
Por mais que tenha se empenhado em conseguir ternos europeus
e aprender a língua inglesa, o técnico conseguiu resultados pouco
expressivos mundo afora.

Com a seleção principal, venceu fora de casa amistosos só con­ tra equipes de pouca expressão, como Tailândia, Equador, Japão e País de Gales. Ganhou apenas um jogo no exterior pelas elimi­ natórias da Copa, batendo por 1 a 0 o Peru, que já mostrou ter um time bastante limitado.

Contra Espanha, Holanda e Inglaterra, Luxemburgo ‘‘arrancou’’ empates, ou seja, a igualdade no marcador foi bem mais co- memorada pelo time brasileiro do que o contrário dado o que aconteceu nas partidas.

¦A conquista da Copa América, maior façanha do técnico, foi pra­
ticamente uma conquista caseira. Isso porque a seleção brasileira
montou base em Foz do Iguaçu, jogou em cidade quase na fron- teira com o Paraguai e não enfrentou a seleção anfitriã. Encarou equipes reservas, mistos, times jovens e ficou com o título.

Na Copa das Confederações,no México (onde a seleção brasi­
leira tradicionalmente se sente em casa), Luxemburgo ousou le­
var um time jovem, que fez o nome em cima de uma decadente
Alemanha (4 a 0), mas sucumbiu quando jogou de fato fora de casa (3 a 4 diante de uma seleção mexicana só esforçada e motivada).

A imprensa, de uma forma geral, enalteceu demais a participa­ ção do time brasileiro nessas duas competições, mesmo tendo ambas um nível técnico baixo.

Em contrapartida, a mídia talvez tenha exagerado nos ‘‘vexa- mes’’ da seleção. Uma derrota de 2 a 0 para a Argentina em Buenos Aires é algo perfeitamente normal, em qualquer condição. Um tropeço de 2 a 1 para o Paraguai em Assunção, no futebol atual, não chega a ser surpreendente.

A primeira derrota na história para a Coréia do Sul já era para ter
acontecido com Zagallo. O treinador tetracampeão penou para segurar os sul-coreanos em Seul. Ainda existe bobo sim no futebol mundial, mas a Coréia do Sul já superou há bom tempo essa fase.

Derrota acachapante do time principal de Luxemburgo, a bem da verdade, foi só os 3 a 0 diante do Chile. Jogar em Santiago é difí­
cil, contra Salas e Zamorano mais ainda. Mas os chilenos não se acertaram até agora nas eliminatórias, e o placar dilatado é pouco aceitável para time de alto nível.

Quanto à seleção olímpica, a história é bem diferente. O Brasil é um dos poucos países que mantêm o mesmo técnico para o time principal e o sub-23. Tal planejamento, certo ou errado, é bem anterior à gestão de Luxemburgo.

O time cumpriu boa fase de preparação, mas venceu o Pré- Olímpico, outro título que foi superestimado, em casa.

Na Austrália, a equipe sofreu até para ganhar de times locais. A
derrota para a África do Sul por 3 a 1 foi vexatória, tanto que os sul- africanos conseguiram apenas os três pontos contra o Brasil.

Os frágeis adversários e a tabela favorável me fizeram inclusive apostar na seleção na coluna anterior à Olimpíada, mas o que a
equipe brasileira conseguiu fazer diante de nove jogadores de Ca­
marões que não ficaram na retranca é algo impensável.

Os 2 a 1 que eliminaram a seleção foram muito piores que os 4 a
3 diante da Nigéria em 96. Não há justificativa técnica para a forma como o Brasil deixou os Jogos.

Luxemburgo começou como um técnico caseiro na seleção brasileira. E deixa a seleção da mesma forma. Recado aos times que buscam sucesso internacional: cuidado com o Wanderley.

 



E-mail:

rbueno@folhasp.com.br



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