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Domingo, 17 de setembro de 2000

Excessivo excesso de otimismo

Rodrigo Bueno
     


Quando um time entra em uma disputa acreditando demais em suas chances, falamos em excesso de otimismo. Agora o que falar quando vários times na mesma disputa acreditam demais em suas chances?

O torneio de futebol em Sydney está marcado pelo excessivo excesso de otimismo. Brasil, Itália, Espanha, EUA, Japão e até Honduras esbanjam confiança.

Todas essas equipes têm méritos e qualidades para apostar em uma boa campanha em Sydney, mas talvez as expectativas criadas por todas elas tenham extrapolado todos os limites (está na ‘‘moda’’ agora falar nos limites).

O Brasil, é sem dúvida, o grande favorito à medalha de ouro, o que me fez até apostar no time de Wanderley Luxemburgo em minha coluna passada. Mas isso não quer dizer que a seleção brasileira sub-23 é de alto nível, que está jogando de forma brilhante etc.

Os ‘‘meninos do Brasil’’ vão sofrer para ganhar uma medalha, especialmente a partir das semifinais. O time tem apenas dois craques, Alex e Ronaldinho, e faz da união sua maior arma (isso traz sim um ganho em espírito olímpico, mas aponta também para muitas deficiências individuais).

Jornalistas e torcedores estão ‘‘unidos’’ com o time, até como forma de protesto contra a equipe principal, mas isso está fazendo com que muita gente superestime a seleção nacional olímpica.

A Itália vive uma situação parecida com a do Brasil, mas muito mais inusitada. É comum a seleção italiana partir para importantes competições carregada de críticas, com seus jogadores rompidos com a imprensa, como aconteceu na Copa de 1982.

O que se vê agora na Itália é um verdadeiro casamento entre a seleção olímpica, os jornalistas e os torcedores. Talvez o time italiano que estará em Sydney seja o que mais apoio teve em toda a história da ‘‘Squadra Azzurra’’.

Conversando com Giorgio Farina, um amigo que trabalha no departamento de esportes da Rai, até entendi as razões para a adoração dos italianos pelo time de Abbiati, Ventola e Zambrotta.

‘‘A equipe tem jovens que não acham espaço em seus times na Itália devido aos jogadores estrangeiros. Eles jogam com coração. Atuam bem taticamente, mas estão livres para mostrar seu talento. Os torcedores e a imprensa amam Tardelli (técnico que dirige o time e que foi um dos campeões de 82)’’, me disse Farina, convicto, como todos os italianos, de que a ‘‘Azzurra’’ irá ao pódio.
Acredito que a Itália, de fato uma boa seleção, tem tudo mesmo para fazer a final com o Brasil, mas acho também ser exagerado o deslumbramento dos italianos com seu time sub-23.

Mesmo países que não têm equipes tão qualificadas e tradicionais como Brasil e Itália estão certos dos louros olímpicos.

A Espanha pouco se importou com Raúl, 23, e Casillas, 19, astros do Real Madrid, tamanha era a confiança na geração que ganhou o último Mundial júnior. Os EUA continuam preconizando um título mundial a médio prazo. O Japão apresenta aquele que considera um dos melhores times de todos os tempos. E até Honduras pôs as mangas de fora após a vitória no Pré-Olímpico da Concacaf.

Lembro: só um será campeão.


Notas

Brasil
Poucos são os são-paulinos que estão sentindo a falta de Álvaro, Fabiano, Fábio Aurélio e Edu, jogadores que gozam de prestígio em Sydney.

Itália
‘‘Abbiati não é um grande goleiro. Cirillo e Ferrari não são titulares em seus times. Zambrotta é um cavalo doido. Ventola faz muitos gols, mas porque o time cria muito. Pirlo é um talento que precisa sentir-se líder, o que não é possível na Inter. Baronio é forte e inteligente, um meio-campista completo.’’ Assim Giorgio Farina, da Rai, descreve o time italiano, já garantido nas quartas-de-final.

Honduras
Após a derrota de sábado por 3 a 1 para a Itália, os jogadores hondurenhos saíram de cabeça em pé, dizendo que só foram derrotados porque enfrentaram uma ‘‘potência’’.

Nigéria
O excesso de otimismo, já uma tradição dos nigerianos, curiosamente não se repete em Sydney. A ausência de alguns astros, como Kanu, fez com que o time fosse mais humilde nas declarações.

E-mail:

rbueno@folhasp.com.br



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