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Quarta-feira, 29 de novembro de 2000

A dança do adeus em Lisboa

Régis Andaku
     

Diego Medina

Eles se preparam para ir embora. Discretamente, sem dizer tchau, já abrem
caminho para quem está chegando por aí. Andre Agassi e Pete Sampras, sim, estão já prontos para deixar o tênis em segundo plano.

Nenhum dos dois admite, mas é nítido que não têm mais a empolgação necessária para fazer frente a Marat Safin, Gustavo Kuerten, Magnus Norman...

Como "desculpa", Sampras diz que está entrando em uma nova fase de sua vida, pessoal. Nos três meses pós-casamento, treinou, se tanto, três semanas. "Só quero me casar uma vez, então preferi ficar curtindo essa".

Questionado sobre a dura decisão de ficar longe das quadras na temporada indoor de carpete na Europa, aquela que tanto gosta, responde com um tranquilo "não foi difícil escolher isso".

Em quase uma hora de conversa com jornalistas, o momento de maior empolgação é quando fala da mulher, que está longe. "Nunca estivemos tão longe. Adoraria se ela estivesse aqui."

O melhor jogador da década reconhece que precisaria se dedicar intensamente ao tênis para ficar no topo. "O futuro do tênis está ali", disse aqui em Lisboa, apontando Safin, Hewitt e Kuerten.

Uma outra frase de Sampras mostra seu menor envolvimento com o tênis: "Tenho certeza que o espaço será cada mais maior para os jovens, aqueles que têm as pernas mais novas".

A um jornalista simpático, que lhe pergunta quase afirmando que ele pode compensar com a experiência, Sampras diz que não. Que, experiência, todos os "top players" já têm de sobra.

E Agassi? Ainda menos paciente e contente que Sampras (que está apaixonado, não se esqueça), deixa claro que não suporta mais rodar o circuito profissional.

"Que dia é hoje? É dezembro? Ainda é novembro? Ainda não acabou a temporada, ainda", afirma, indignado.

Um membro da ATP então balbucia, um tanto constrangido, que a temporada já está acabando. "Só vou acreditar quando acabar mesmo", responde, seco, Agassi, olhando para o teto.

"É difícil quando se tem uns 30 anos. Fica cada vez mais e mais difícil. A temporada precisa ser mais curta, um pouco menor."

Sozinho em Lisboa (diferentemente de Hannover, onde, motivado, não desgrudou da namorada, Steffi Graf), Agassi não esconde também seu descontentamente com a Corrida dos Campeões.

E se atreve a fazer críticas mais pesadas aí, nesse ponto. "Você tem a Corrida, tem o ranking de entradas, tudo isso. Em vez de vender esse sistema, existem coisas mais importantes para vender, como simplesmente dizer que o jogo é um programa bacana", fala, sem se policiar.

Olhar morto, Agassi mostra-se uma "presa", fraco fora de quadra (dentro, ainda não se sabe). Se vai jogar a Copa Davis no próximo, responde que é essa a última coisa que vai pensar. Se conseguiria viver sem jogar tênis, a resposta de Agassi é uma só palavra, sem hesitação: sim.

É assim, melancólico, que Agassi termina a conversa. E assim levanta-se e vai embora, mudo, sozinho. Discretamente, sem sorrir, sem dar tchau a ninguém.

Notas

Terra estrangeira

Os tenistas que disputam o Masters Cup estão aparentemente estranhando a disputa do torneio em Lisboa, uma cidade onde poucos haviam estado antes.

Futebol

Jornalistas portugueses insistiam em saber de Sampras se ele usaria uma camiseta da seleção portuguesa de futebol que havia ganhado. Depois, tentavam arrancar uma declaração de amor pelo futebol. "Estou aprendendo a gostar", falou, para em seguida virar a um amigo e dizer "boa resposta essa, hein?"

Bacalhau

Magnus Norman até disse que gostou da comida portuguesa, mas, sua namorada, não. No cocktail após o sorteio dos grupos, ela o apressava para ir embora, de volta para o hotel.

Cama

Ainda é aguardada em Lisboa a chegada de Steffi Graf, namorada de Agassi. Na lista de convidados do tenista consta seu nome. E, no hotel Ritz, uma cama king size foi colocada em seu quarto.



E-mail: reandaku@uol.com.br



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