Diego Medina
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A
vitória contundente de Carlos Moyá em Estoril,
batendo facilmente
seu ompatriota Francisco Clavet na final do último
domingo, foi bem recebida pelo público do circuito.
Pela mulherada, que elege constantemente o espanhol como o
bonitão número um das raquetes, e por todos
aqueles que gostam de tênis bem jogado.
Moyá é um tenista sólido, com um poderoso
jogo de fundo, um saque tático que sabe empregar muito
bem e uma boa desenvoltura junto à rede.
Aliás, tratando-se de um espanhol, ele tem um ótimo
desempenho na rede. Depois de muito sofrer com dores nas costas
e uma fratura por estresse, Moyá teve um retorno demorado
à boa forma. O troféu em Portugal é seu
primeiro triunfo desde seu título em Roland Garros,
em 1998.
É curioso observar que o começo de temporada
pífio do espanhol neste ano provocou muitas críticas
da imprensa especializada de seu país. Vale lembrar
que a imprensa espanhola é a que mais entende de tênis
no mundo, embora os americanos e australianos possam torcer
o nariz diante de tal afirmação.
O que importa nessa história é ver que até
quem entende de tênis muitas vezes deixa o fanatismo
pelo ídolo falar mais alto do que a análise
ponderada da situação do atleta. Cada derrota
de Moyá para um tenista medíocre (e elas não
foram poucas nos últimos meses) foi tratada como desastre
nacional.
A principal revista de tênis de seu país dedicou
um precipitado editorial procurando razões para a demorada
recuperação técnica do ídolo.
Parabéns para Moyá, que soube levar as críticas
numa boa e foi treinando duro, sem desespero. Qualquer carreira
é feita de fases boas e ruins, e muitas vezes a transição
entre elas é traumática.
Com a capacidade inesgotável do brasileiro em tratar
seus ídolos um dia como heróis inabaláveis
e no outro como alguém que já deu o que tinha
para dar, a longa carreira que Gustavo Kuerten ainda tem pela
frente vai estar recheada de situações de pressão
e críticas sem sentido.
Uma preparação psicológica para isso
é um investimento válido. Kuerten precisa ter
a cabeça no lugar para lidar com a pressão da
torcida. Ele não estava bem na Davis, e a derrota de
ontem para Kucera não ajuda em nada, principalmente
em um torneio no qual Kuerten defendia o título.
O maior desafio para um atleta deve estar em sua mente, ele
tem de buscar forças para conquistar seu triunfo pessoal,
não para satisfazer exigências do público.
Precisa suportar essa pressão insana, o mesmo tipo
de pressão que faz um Ronaldo entrar em campo com todo
o peso do mundo nas costas.
No futebol, e em outros esportes coletivos, você ainda
tem a turma para dar uma força. No tênis,
é só você, a maldita raquete que não
acerta a bolinha direito, a maldita bolinha que não
vai no lugar certo e o maldito cara do outro lado da rede
que nunca erra na hora em que deve errar. Tênis é
muito cruel.
NOTAS
Ainda
a Davis
Só para explicar uma coisa da coluna da semana passada,
que foi bombardeada por e-mails criticando o colunista pelo
desprezo à Copa Davis. Uma coisa é eu defender
que a competição seja extinta, pelo anacronismo
e outras razões explicadas aqui. Outra coisa é
torcer contra o Brasil. Ora, já que a Davis ainda está
por aí, o negócio é tratar de ganhar
a taça. Acho que a pedreira diante da Austrália
vai ser duríssima, mas entro na turma que vai torcer
pelos brasileiros, lógico. Mas sem aquele corneteiro
desgraçado do meu lado.
Muito
carisma
David Ellis Ferguson, grande teórico do marketing esportivo
nos EUA (foi consultor do comitê organizador da Copa
do Mundo de 1994), disse em um chat na semana passada que
fica surpreendido com a capacidade do Brasil para lançar
atletas carismáticos e de forte apelo emocional junto
ao público. Cita os jogadores de futebol, Ayrton Senna
e a dupla Kuerten/Meligeni. Eles transformam as arquibancadas
de tênis em arquibancadas de futebol. Ele está
certo.
E-mail: thalesmenezes@uol.com.br
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Copa Davis já era
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