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Quarta-feira, 19 de abril de 2000
Panela de pressão

Thales de Menezes
     
Diego Medina


A vitória contundente de Carlos Moyá em Estoril, batendo facilmente seu ompatriota Francisco Clavet na final do último domingo, foi bem recebida pelo público do circuito.

Pela mulherada, que elege constantemente o espanhol como o bonitão número um das raquetes, e por todos aqueles que gostam de tênis bem jogado.

Moyá é um tenista sólido, com um poderoso jogo de fundo, um saque tático que sabe empregar muito bem e uma boa desenvoltura junto à rede.

Aliás, tratando-se de um espanhol, ele tem um ótimo desempenho na rede. Depois de muito sofrer com dores nas costas e uma fratura por estresse, Moyá teve um retorno demorado à boa forma. O troféu em Portugal é seu primeiro triunfo desde seu título em Roland Garros, em 1998.

É curioso observar que o começo de temporada pífio do espanhol neste ano provocou muitas críticas da imprensa especializada de seu país. Vale lembrar que a imprensa espanhola é a que mais entende de tênis no mundo, embora os americanos e australianos possam torcer o nariz diante de tal afirmação.

O que importa nessa história é ver que até quem entende de tênis muitas vezes deixa o fanatismo pelo ídolo falar mais alto do que a análise ponderada da situação do atleta. Cada derrota de Moyá para um tenista medíocre (e elas não foram poucas nos últimos meses) foi tratada como desastre nacional.

A principal revista de tênis de seu país dedicou um precipitado editorial procurando razões para a demorada recuperação técnica do ídolo. Parabéns para Moyá, que soube levar as críticas numa boa e foi treinando duro, sem desespero. Qualquer carreira é feita de fases boas e ruins, e muitas vezes a transição entre elas é traumática.

Com a capacidade inesgotável do brasileiro em tratar seus ídolos um dia como heróis inabaláveis e no outro como alguém que já deu o que tinha para dar, a longa carreira que Gustavo Kuerten ainda tem pela frente vai estar recheada de situações de pressão e críticas sem sentido.

Uma preparação psicológica para isso é um investimento válido. Kuerten precisa ter a cabeça no lugar para lidar com a pressão da torcida. Ele não estava bem na Davis, e a derrota de ontem para Kucera não ajuda em nada, principalmente em um torneio no qual Kuerten defendia o título.

O maior desafio para um atleta deve estar em sua mente, ele tem de buscar forças para conquistar seu triunfo pessoal, não para satisfazer exigências do público. Precisa suportar essa pressão insana, o mesmo tipo de pressão que faz um Ronaldo entrar em campo com todo o peso do mundo nas costas.

No futebol, e em outros esportes coletivos, você ainda tem a turma para “dar uma força”. No tênis, é só você, a maldita raquete que não acerta a bolinha direito, a maldita bolinha que não vai no lugar certo e o maldito cara do outro lado da rede que nunca erra na hora em que deve errar. Tênis é muito cruel.


NOTAS

Ainda a Davis
Só para explicar uma coisa da coluna da semana passada, que foi bombardeada por e-mails criticando o colunista pelo desprezo à Copa Davis. Uma coisa é eu defender que a competição seja extinta, pelo anacronismo e outras razões explicadas aqui. Outra coisa é torcer contra o Brasil. Ora, já que a Davis ainda está por aí, o negócio é tratar de ganhar a taça. Acho que a pedreira diante da Austrália vai ser duríssima, mas entro na turma que vai torcer pelos brasileiros, lógico. Mas sem aquele corneteiro desgraçado do meu lado.

Muito carisma
David Ellis Ferguson, grande teórico do marketing esportivo nos EUA (foi consultor do comitê organizador da Copa do Mundo de 1994), disse em um chat na semana passada que fica surpreendido com a capacidade do Brasil para lançar atletas carismáticos e de forte apelo emocional junto ao público. Cita os jogadores de futebol, Ayrton Senna e a dupla Kuerten/Meligeni. “Eles transformam as arquibancadas de tênis em arquibancadas de futebol.” Ele está certo.



E-mail: thalesmenezes@uol.com.br


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