Diego
Medina
|
|
Alguém
ainda duvida que Gustavo Kuerten é o melhor do mundo?
Pelo amor de Deus, que jogaço o de ontem contra Ievguêny
Kafelnikov. Pontos e mais pontos mereceram replay, e cada
repetição mostrava uma plasticidade poucas vezes
vista no circuito.
Kuerten tem jogo de movimentos amplos, de bolas em ângulos
abertos, com
longas trajetórias. Kafelnikov mantém os braços
perto do corpo e dispara verdadeiras chicotadas, com a bola
espirrando rápida e baixa, matando o rival.
Os dois fizeram um incrível jogo sem bola fácil.
É até idiota
tentar contabilizar os chamados erros não-forçados,
já que cada troca de bola esteve carregada de pressão
constante.
Cada tenista forçou o adversário a jogar em
seu limite. Se a evolução tática e técnica
do brasileiro é evidente, a partida de
ontem foi sob medida para testar suas condições
psicológicas.
O cenário parecia desolador no quarto set, com Kafelnikov
tendo 4/2 e o saque para ampliar a vantagem e partir para
o final. Mas os papéis historicamente atribuídos
a latinos e russos foram invertidos. Kuerten foi mais frio
do que Kafelnikov, que esboçou nervosismo em tiques
incontidos.
Mais uma vez, a atual geração de tenistas enterrou
o estilo defensivo dos especialistas de saibro do passado.
Kuerten e Kafelnikov jogaram no ataque o tempo todo. A prova
disso foram as dezenas de chances de break na partida. Ninguém
teve tranquilidade para fechar seus games de serviço.
O que mais impressiona na evolução de Kuerten
é a abertura do repertório de jogadas do brasileiro.
Até o final da temporada passada, ele dependia demais
do bom aproveitamento do saque e da força e precisão
dos golpes de fundo de quadra, principalmente o backhand matador.
Hoje, numa rápida metamorfose, Kuerten perdeu todos
os cacoetes de jogador de saibro.
As pessoas gostam de louvar seu melhor aproveitamento no voleio,
um golpe que realmente foi aprimorado nos últimos meses,
mas a grande diferença no seu jogo de rede é
mais sutil. Na verdade, ele melhorou excepcionalmente o golpe
de aproximação, aquele que antecede a subida
do jogador à rede. Kuerten nunca esteve tão
firme nesse fundamento, e essa melhora pode deixar seus fãs
muito otimistas quanto às perspectivas do brasileiro
no segundo semestre, nos torneios de quadra rápida.
O desenvolvimento desse bom golpe de aproximação
aumenta os recursos de Kuerten para atacar. E ele está
mostrando um bom controle do saque, abrindo mão da
pancada furiosa em busca do ace porque tem confiança
no saque tático, colocado com precisão
para movimentar o adversário na quadra. Tudo leva a
crer que seu jogo nas quadras sintéticas deve decolar.
Até a grama de Wimbledon, que ele já tratou
de domar no ano
passado, deve ser um fantasma esquecido.
O brasileiro nunca esteve tão bem. Vai ganhar mesmo
seu segundo título em Roland Garros? Com o tênis
que ele e os outros que ainda restam na chave já mostraram,
Kuerten deve erguer o troféu mais uma vez. Claro que
um tropeço pode vir, mas faz parte do esporte.
Embora muita gente já fique pensando na decisão,
a semifinal pode ser um osso duro de roer.
Juan Carlos Ferrero está tendo uma temporada espetacular.
Está firme entre os top ten da Corrida
dos Campeões e ontem deu um passeio em três sets
de quase treinamento contra Alex Corretja. Mais do que uma
vitória acachapante, foi um jogo que talvez simbolize
a renovação da armada espanhola.
Ferrero tem um jogo de fundo bem sólido e, como Carlos
Moyá, até que se vira bem junto à rede.
Ferrero é a surpresa, é o Kuerten de 1997. O
brasileiro assume agora, definitivamente, a posição
de número um. Ele é o tenista a ser batido.
Ferrero, Norman, Safin... Alguém vai encarar?
Notas
No
futuro
Stan Smith, ex-campeão de Wimbledon e atento observador
do circuito juvenil, diz que o importante é olhar um
jogador no presente e visualizar seu jogo no futuro, conseguir
avaliar todo o potencial do atleta. Dica que vale para juvenis
e também profissionais, em qualquer estágio
da carreira.
Olhando assim para as quadras de Roland Garros, a verdade
é uma só: as pessoas podem ficar impressionadas
com Marat Safin
e outros reis das bordoadas, mas o melhor tenista do mundo
daqui a algum tempo (um ano, dois?) chama-se Lleyton Hewitt.
A bola que o moleque joga é espantosa. Falta só
dosar o golpe certo, saber quando é melhor retrair
e deixar para atacar depois. Falta só isso.
Ainda rainha
Quem viu os jogos garante: o melhor saque feminino em Roland
Garros está na chave de duplas e atende pelo nome de...
Martina Navratilova.
E-mail: thalesmenezes@uol.com.br
Leia
mais:
Colunas anteriores:
31/05/00 - Paris é
uma festa
24/05/00 - O melhor do mundo
17/05/00
- Atacar ou atacar
10/05/00 - A voz do povo
03/05/00
- A volta da matadora
26/04/00
- Um esporte para fortes
19/04/00
- Panela
de pressão
12/04/00
- A Copa Davis já era
|