O personagem


 

France Presse
Franco Squillari


A pergunta de hoje

O colunista responde

Aconteceu na semana
Esporte em números
Veja na TV


PENSATA

Quarta-feira, 7 de junho de 2000

Simplesmente um show

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Alguém ainda duvida que Gustavo Kuerten é o melhor do mundo?
Pelo amor de Deus, que jogaço o de ontem contra Ievguêny Kafelnikov. Pontos e mais pontos mereceram replay, e cada repetição mostrava uma plasticidade poucas vezes vista no circuito.

Kuerten tem jogo de movimentos amplos, de bolas em ângulos abertos, com
longas trajetórias. Kafelnikov mantém os braços perto do corpo e dispara verdadeiras chicotadas, com a bola espirrando rápida e baixa, matando o rival.

Os dois fizeram um incrível jogo sem bola fácil. É até idiota
tentar contabilizar os chamados erros não-forçados, já que cada troca de bola esteve carregada de pressão constante.

Cada tenista forçou o adversário a jogar em seu limite. Se a evolução tática e técnica do brasileiro é evidente, a partida de
ontem foi sob medida para testar suas condições psicológicas.

O cenário parecia desolador no quarto set, com Kafelnikov tendo 4/2 e o saque para ampliar a vantagem e partir para o final. Mas os papéis historicamente atribuídos a latinos e russos foram invertidos. Kuerten foi mais frio do que Kafelnikov, que esboçou nervosismo em tiques incontidos.

Mais uma vez, a atual geração de tenistas enterrou o estilo defensivo dos especialistas de saibro do passado. Kuerten e Kafelnikov jogaram no ataque o tempo todo. A prova disso foram as dezenas de chances de break na partida. Ninguém teve tranquilidade para fechar seus games de serviço.

O que mais impressiona na evolução de Kuerten é a abertura do repertório de jogadas do brasileiro. Até o final da temporada passada, ele dependia demais do bom aproveitamento do saque e da força e precisão dos golpes de fundo de quadra, principalmente o backhand matador.

Hoje, numa rápida metamorfose, Kuerten perdeu todos os cacoetes de jogador de saibro.

As pessoas gostam de louvar seu melhor aproveitamento no voleio, um golpe que realmente foi aprimorado nos últimos meses, mas a grande diferença no seu jogo de rede é mais sutil. Na verdade, ele melhorou excepcionalmente o golpe de aproximação, aquele que antecede a subida do jogador à rede. Kuerten nunca esteve tão firme nesse fundamento, e essa melhora pode deixar seus fãs muito otimistas quanto às perspectivas do brasileiro no segundo semestre, nos torneios de quadra rápida.

O desenvolvimento desse bom golpe de aproximação aumenta os recursos de Kuerten para atacar. E ele está mostrando um bom controle do saque, abrindo mão da pancada furiosa em busca do ace porque tem confiança no saque “tático”, colocado com precisão para movimentar o adversário na quadra. Tudo leva a crer que seu jogo nas quadras sintéticas deve decolar. Até a grama de Wimbledon, que ele já tratou de “domar” no ano
passado, deve ser um fantasma esquecido.

O brasileiro nunca esteve tão bem. Vai ganhar mesmo seu segundo título em Roland Garros? Com o tênis que ele e os outros que ainda restam na chave já mostraram, Kuerten deve erguer o troféu mais uma vez. Claro que um tropeço pode vir, mas faz parte do esporte.

Embora muita gente já fique pensando na decisão, a semifinal pode ser um osso duro de roer.

Juan Carlos Ferrero está tendo uma temporada espetacular. Está firme entre os “top ten” da Corrida dos Campeões e ontem deu um passeio em três sets de quase treinamento contra Alex Corretja. Mais do que uma vitória acachapante, foi um jogo que talvez simbolize a renovação da “armada espanhola”.
Ferrero tem um jogo de fundo bem sólido e, como Carlos Moyá, até que se vira bem junto à rede.

Ferrero é a surpresa, é o Kuerten de 1997. O brasileiro assume agora, definitivamente, a posição de número um. Ele é o tenista a ser batido.

Ferrero, Norman, Safin... Alguém vai encarar?

Notas

No futuro
Stan Smith, ex-campeão de Wimbledon e atento observador do circuito juvenil, diz que o importante é olhar um jogador no presente e visualizar seu jogo no futuro, conseguir avaliar todo o potencial do atleta. Dica que vale para juvenis e também profissionais, em qualquer estágio da carreira.
Olhando assim para as quadras de Roland Garros, a verdade é uma só: as pessoas podem ficar impressionadas com Marat Safin
e outros reis das bordoadas, mas o melhor tenista do mundo daqui a algum tempo (um ano, dois?) chama-se Lleyton Hewitt.
A bola que o moleque joga é espantosa. Falta só dosar o golpe certo, saber quando é melhor retrair e deixar para atacar depois. Falta só isso.

Ainda rainha
Quem viu os jogos garante: o melhor saque feminino em Roland Garros está na chave de duplas e atende pelo nome de... Martina Navratilova.





E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



Leia mais:


Colunas anteriores
:


31/05/00 - Paris é uma festa
24/05/00 - O melhor do mundo
17/05/00 - Atacar ou atacar
10/05/00 - A voz do povo
03/05/00 - A volta da matadora
26/04/00 - Um esporte para fortes
19/04/00 - Panela de pressão
12/04/00 - A Copa Davis já era