Quarta-feira, 12 de abril de 2000
A Copa Davis
já era

Thales de Menezes
     
Diego Medina

Antes de mais nada, parabéns para todos. Para Kuerten, pela sexta-feira. Para Oncins, pelo surpreendente sábado. E para Meligeni, que segurou o rojão no domingo.

Dadas as devidas congratulações, é hora de falar sério: Copa Davis é um saco! A coisa mais anacrônica do universo tenístico. Um dinossauro que insiste em vagar pela Terra. Uma chateação sem nenhum propósito.

Tênis é um esporte individual. Muito individual. O sujeito vira cidadão do mundo, cai na estrada pelo menos umas 30 semanas do ano, descansa algumas em lugares paradisíacos (como é bom ter grana!) e volta para seu país por uns dois meses ou um pouquinho mais.

Quer dizer, quando o cara ainda mora em seu país, porque eu duvido que o Kafelnikov troque seu apartamento na Riviera pela comidinha caseira da Rússia, só para dar um exemplo.

Está certo que muitos tenistas têm uma turma de compatriotas viajando com eles, como técnico, assessores, até outros tenistas, às vezes seus parceiros de duplas. Mas isso está longe de ser uma regra.

É coisa comum um tenista sueco ter técnico australiano, preparador físico americano, assessora de imprensa italiana, massagista coreano e nutricionista norueguês. Para quem se interessar, tal configuração era a trupe de Stefan Edberg.

O circuito profissional de tênis iguala espanhóis e indianos, americanos e tailandeses, brasileiros e alemães. Se há um esporte que não está impregnado de caráter nacionalista, esse esporte é o tênis.

Aí, a rapaziada fica uma semana reunida, para lembrar os tempos de torneio interclubes. Joga debaixo de uma barulheira dos diabos, às vezes numa maratona insana, como a de Kuerten, que jogou quase 9 horas em um intervalo de 26 horas.

Tudo isso para manter um campeonato que não cumpre a função dos Mundiais de outras modalidades, que é medir a potência de cada país naquele esporte.

A Davis nunca consegue espelhar com fidelidade esse quadro de forças. Basta ver os semifinalistas deste ano. EUA, Espanha e Austrália são o que existe de mais organizado no tênis planetário.

O Brasil? Está na turma pelo esforço individual de seus tenistas, sem apresentar uma infra-estrutura no esporte. Outro exemplo? A Rússia, que chegou a várias finais e semifinais nos últimos anos carregada nas costas de Kafelnikov, um fenômeno de jogador que ajuda a esconder o total sucateamento do tênis russo.

A falta de representatividade da Davis só cresce com o aumento de competitividade no circuito. O tenista fica se esfolando o ano inteiro, jogando com a pressão dos patrocinadores que investem um bom dinheiro nele, e está sempre ansioso por uma semaninha de folga.

Jogar a Davis? Nem pensar. Muitas vezes, ele só vai se a Federação soltar uma boa grana. Os alemães Boris Becker e Michael Stich cansaram de tirar dinheiro dos dirigentes de seus país para depois posarem de defensores da glória nacional.

Ver jogos de tenistas desgastados fisicamente, com a arquibancada urrando e batucando? Desculpe, mas nunca gostei de interclubes.


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