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Quarta-feira, 9 de agosto de 2000

Começos

Régis Andaku
     
Diego Medina


Começar não é fácil. Na melhor das hipóteses, dá um trabalhão.
Em 1997, Anna Kournikova não era quem é hoje; era alguma coisa: bonita, um tanto badalada, atraía as atenções, masculinas e femininas, onde quer que estivesse.
Naquele setembro, estava em Nova York, disputando o Aberto dos EUA e adorando tudo. Longe de ser grande favorita, divertia-se com os autógrafos, fotógrafos, o assédio, as pessoas que a adulavam, as luzes que acendiam à sua frente.
Mas a russa, para seus mentores, estava apenas começando. E, em uma tarde de calor, plena Nova York, foi obrigada a tirar os óculos escuros, largar a caneta, os pôsteres que assinava, o público que a desejava para entrar em quadra e... treinar!
Treino físico. O preparador que a esperava tinha os olhos no relógio. Anna havia se atrasado, provavelmente por conta dos autógrafos, da bajulação. Nem teve tempo para se aquecer. Com cinco minutos de trabalho, entrou um garoto, sparring, sim, mas louco para tirar uma casquinha da garota meio famosa do outro lado da rede.
Cinco minutos de bate-bola, e o preparador físico colocou outro garoto na quadra. Mais do que a troca de bolas, queria que Anna corresse, suasse.
Talvez Anna nunca tivesse sofrido o que sofreu. Dois adversários em quadra, loucos para destroçar a garota, duas bolas em jogo, sol, calor e, pior, todo mundo vendo.
Cinco minutos de massacre, e Anna pediu água. Foi para a rede, cara de choro, reclamar com seu preparador físico. Dizia que era impossível treinar daquela maneira, que preferia e queria só um bate-bola, normal, sem crueldade.
O preparador, paciente, ouviu apenas. E, quando falou, mandou Anna de volta à quadra, para mais uma sessão de tortura, aliás, treino. Quando Anna, mais cara de choro ainda, voltava para a quadra, ele gritou: "Você está apenas começando, querida. Mexa a sua bunda, corra, corra e quem sabe um dia será reconhecida".

*

Quem viu Alexandra Stevenson, a jovem e bela norte-americana negra, chegar de maneira fantástica às semifinais de Wimbledon em 1999 pode imaginar que sua carreira até agora tenha sido só flores.
Mas não é bem assim. Em um torneio juvenil nos EUA, menos de três anos atrás, Alexandra disputava a final de duplas. Tinha como parceira a amiga Marissa Irvin.
O jogo parecia encaminhado. Vitória por 6-2 no primeiro set, vantagem de 5-3 no segundo. Eis que, em um saque de Alexandra, alguém começa a gritar. As cerca de 30 pessoas que acompanham o jogo começam a se movimentar. O saque de Alexandra não sai, e o sujeito, um norte-americano com cara de quem tinha se excedido nos alcoólicos, continua com seus berros e palavras desconexas.
A tenista olha para os lados. Não, não há ninguém da organização para resolver o problema. Alexandra olha, então, para a mãe e pede a ela, voz alta, que dê um jeito na situação. Tarimbada, a mãe de Alexandra convence o beberrão a se afastar da quadra. Só aí o jogo recomeça, para alívio de todos.

*

Eu estou começando agora, não nas quadras de tênis, mas neste espaço. Com a tarefa de substituir à altura o amigo Thales, vou correr e correr, tanto quanto Anna. Tanto quanto Alexandra, vivo sendo surpreendido por esse negócio chamado tênis, mas vou continuar jogando.


Notas

PODE SER

Alexandre Simoni, paulista que, no começo da carreira, já esperou convite de Kuerten ou Meligeni para comer um lanche em um Campeonato Brasileiro, ganhou seu primeiro torneio challenger, em Gramado.


FOI
Marat Safin, russo que começou no mesmo clube que Anna Kournikova e foi para a Espanha com 13 anos, brilhou não só com o título em Toronto, mas com uma atuação sensacional contra Pete Sampras nas quartas-de-final.


SERÁ
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