Diego
Medina
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Pouco antes de viajar para disputar o Aberto da França, torneio que o
consagraria em junho de 1997, Gustavo Kuerten estava em São Paulo. Pouca
gente sabia, quase ninguém viu.
O catarinense, franzino, não era famoso. Não era conhecido pelo público
como Gustavo Kuerten, nem como Kuerten, nem como Guga. Para alguns da
sua turma, tinha um outro apelido, que até hoje pouca gente sabe:
"Caverna".
Naqueles tempos, ninguém na rua acenava para o catarinense. Portas de
hotéis, festas, clubes e carros não se abriam automaticamente, mulheres
não o olhavam com tanta malícia, garotos, raquete à mão, não o imitavam.
Tempos nada fáceis, aqueles. Gustavo Kuerten não tinha facilidades. Era
obrigado, como eu, como você, a pagar por tudo, de corridas de táxi a
chesse-saladas, de raquetes de tênis a revistas em banca de jornal.
Certa vez, o cartão do banco não funcionou. E o garoto Gustavo Kuerten
se viu obrigado a esperar alguém, o irmão, uma amiga, um amigo, para
pagar uma continha, ínfima, mas cobrada, implacavelmente. Dias depois,
Kuerten viajou para Roland Garros, e o resto desta história já é
conhecido.
*
Já campeão uma vez em Roland Garros, estrela em ascensão na ATP, Gustavo
Kuerten era mais que Gustavo Kuerten. Para alguns, torcedores em sua
maioria, Guga. Para outros, mídia e alguns céticos, Kuerten.
Para seus amigos, para o circuito, para o mundo, nas revistas, no seu
Web site, começou então a se chamar Guga Kuerten. Foi assim que passou a
assinar as dezenas de autógrafos por onde quer que estivesse,
Florianópolis ou Nova York, Monte Carlo ou Miami, Londres ou Santiago.
Os primeiros autógrafos que dava saíam com um caprichado Guga Kuerten.
Outros tantos, várias assinaturas depois, saíam com um nem tão
caprichado Guga Kuerten. Na correria, os últimos saíam com o papel onde
se lia Guga.
*
Depois, primeiro brasileiro a disputar uma Copa do Mundo de tênis,
Gustavo Kuerten chegou a Hannover no fim do ano passado como estrela de
primeira grandeza da ATP.
A organização da Copa do Mundo se referia ao brasileiro "com ancestrais
alemães" como Gustavo Kuerten. Os brasileiros na arquibancada do
Hannover Messe gritavam "Guuuugaaaaa". Os europeus, um tanto tímidos,
falavam alto um Kuerten com som de "Kiurten".
Crianças de uma escola alemã se referiam ao brasileiro, na terceira
pessoa, como Guga Kuerten. Na hora de pedir o autógrafo, brilho no
rosto, o chamavam de Kuerten.
Mas um tenista chamado Pete, também conhecido como Sampras, se referia à
nova estrela da ATP como Gustavo. Com leve sotaque, praticamente comendo
a última letra. "Gustav"...
*
A briga que existe em torno do nome do tenista número um do país é
inútil.
Gustavo Kuerten é hoje o número um na Corrida dos Campeões, número dois
no ranking de entradas. Guga representa, ao lado de Rubens Barrichello
(Rubinho, aliás), o que o país tem de melhor no esporte. Guga Kuerten é
um sucesso de marca, de mídia. "Gustav" é um tenista temido por qualquer
jogador do circuito profissional.
No fundo, todavia, estamos, você, eu, Pete Sampras e dona Alice, falando
da mesma pessoa.
Notas
GUSTAV
O tenista caiu diante do único jogador capaz de detê-lo na semana
passada, em Cincinnati. Não tivesse cruzado com Tim Henman, ousaria
dizer que Gustav sairia de Ohio como campeão.
GUGA
Sorriso no rosto, Guga festejou sua melhor posição no ranking de
entradas até agora. É segundo, atrás só de Andre Agassi. "Falta pouco",
disse, sobre ser número um também nesse ranking. Comemoração? Montanhas
russa em parque de diversões nos EUA.
KUERTEN
Kuerten é o número um da Corrida dos Campeões pelo menos por mais um
mês. Com os pontos de Cincinnati, não pode ser alcançado nesta semana,
nem em Indianápolis, nem em Washington. Nem na próxima semana, em Long
Island. Só no Aberto dos EUA (e depois da final).
E-mail: reandaku@uol.com.br
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