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Quarta-feira, 23 de agosto de 2000

Um troféu novo, uma prateleira cheia

Régis Andaku
     
Diego Medina


E Gustavo Kuerten conquistou finalmente seu primeiro torneio fora das quadras de saibro. Muita gente duvidava, alguns não acreditavam, mas o catarinense chegou lá, bem e de maneira convincente, aliás.
Não foi um torneio qualquer, não foi um Challenger no Bronx, nem contra tenistas de terceira linha, pretendentes à estrela da ATP.
Foi em Indianápolis, um torneio bastante concorrido, nesta última semana, com vitórias contundentes, de virada, sobre Lleyton Hewitt e Marat Safin, jovens como o brasileiro e que mais têm se destacado nesta temporada.
A festa do primeiro título fora da areia teve agradecimentos em português, frases já manjadas em outros lugares ("Foi um jogo muito duro...", "Vou para Nova York bem preparado, com confiança e ritmo de jogo..."), o sorriso maroto, a sinalização de surfista com os dedos da mão, champagne... Tudo merecido, sim, oras.
Que Gustavo Kuerten é atualmente o mais destacado esportista brasileiro, quase nenhuma dúvida restava. Que Gustavo Kuerten é um dos melhores tenistas do mundo na atualidade, pouca gente duvidava.
Esse título no "sertão" americano coroou o número um da Corrida dos Campeões, limou umas poucas dúvidas que alguns insistiam em ter sobre ele e mostrou que o "surfista do saibro" tem, sim, lugar na história de muita coisa no tênis.
Na página da história do tênis brasileiro, desnecessário argumentar, Kuerten já estava fazia alguns anos, mais precisamente 1997, com o título em Roland Garros. Jamais sairá, nunca será esquecido.
No quadro da história do tênis sul-americano? Igualando feitos, ultrapassando marcas, claro, estava lá já. Tem seu lugar cativo, ninguém tira, ninguém pega.
Na prateleira da história do tênis mundial? Sim, Kuerten certamente pregou firme a sua plaquinha com o título no piso que antes não dominava.
De qualquer maneira, o espaço que Kuerten vai ocupar nessa prateleira, a estante de estrelas da história do tênis, ainda não é definitivo. Ainda. A prateleira, na verdade, não é pequena.
Tem gente lá que hoje não significa nada para ninguém. Está no cantinho, quase caindo. O que significa Sergi Bruguera para a história do tênis? E Thomas Muster? Sim, ganharam Grand Slam, dezenas de títulos, mas...
Ok, ok, tem gente que também se colocou lá, não ficou empoeirado, mas também não brilha entre tantos. Quem, fora de fãs-clubes, se lembrará em 20 anos de Jim Courier. de Mats Wilander?
Mas tem gente também que, além da plaquinha, tem estatueta. Pete Sampras! Andre Agassi! Ivan Lendl! Bjorn Borg!
Kuerten, à beira de completar meros 24 aninhos, dificilmente ficará empoeirado. É jovem, tem carisma, tem talento, tem vontade. Tudo isso. E tem tempo para empurrar outros nomes igualmente consagrados para o lado e ficar ali no meio, do meio para a frente.

*

Ao dizer que Kuerten é, por enquanto, mais um na prateleira de estrelas da história do tênis, não desrespeito nem compro briga com quem discorda. Só não quero confundir hoje prateleira com altar.


Notas

AQUI

Em um país onde ídolos do esporte se envolvem em brigas, escândalos e malvadezas, Kuerten mostra como faz uma estrela de verdade. Inaugurou o Instituto Guga Kuerten, cujo objetivo é ajudar portadores de deficiência e incentivar o esporte aqui.


Kuerten já treina e, por que não?, se diverte em Nova York, cidade que hospeda o Aberto dos EUA a partir da próxima semana. O catarinense gosta da cidade, curte o clima e, agora, se diz mais confiante que nunca lá.

DO OUTRO LADO
Kuerten é esperado no Japão em outubro. A organização do Aberto daquele país acabou de convidar o brasileiro. Foi lá, do outro lado, que, em 1974, Maria Esther Bueno conquistou seu último grande título.



E-mail: reandaku@uol.com.br



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