Diego
Medina
|
|
E Gustavo Kuerten conquistou finalmente seu primeiro torneio fora das
quadras de saibro. Muita gente duvidava, alguns não acreditavam, mas o
catarinense chegou lá, bem e de maneira convincente, aliás.
Não foi um torneio qualquer, não foi um Challenger no Bronx, nem contra
tenistas de terceira linha, pretendentes à estrela da ATP.
Foi em Indianápolis, um torneio bastante concorrido, nesta última
semana, com vitórias contundentes, de virada, sobre Lleyton Hewitt e
Marat Safin, jovens como o brasileiro e que mais têm se destacado nesta
temporada.
A festa do primeiro título fora da areia teve agradecimentos em
português, frases já manjadas em outros lugares ("Foi um jogo muito
duro...", "Vou para Nova York bem preparado, com confiança e ritmo de
jogo..."), o sorriso maroto, a sinalização de surfista com os dedos da
mão, champagne... Tudo merecido, sim, oras.
Que Gustavo Kuerten é atualmente o mais destacado esportista brasileiro,
quase nenhuma dúvida restava. Que Gustavo Kuerten é um dos melhores
tenistas do mundo na atualidade, pouca gente duvidava.
Esse título no "sertão" americano coroou o número um da Corrida dos
Campeões, limou umas poucas dúvidas que alguns insistiam em ter sobre
ele e mostrou que o "surfista do saibro" tem, sim, lugar na história de
muita coisa no tênis.
Na página da história do tênis brasileiro, desnecessário argumentar,
Kuerten já estava fazia alguns anos, mais precisamente 1997, com o
título em Roland Garros. Jamais sairá, nunca será esquecido.
No quadro da história do tênis sul-americano? Igualando feitos,
ultrapassando marcas, claro, estava lá já. Tem seu lugar cativo, ninguém
tira, ninguém pega.
Na prateleira da história do tênis mundial? Sim, Kuerten certamente
pregou firme a sua plaquinha com o título no piso que antes não
dominava.
De qualquer maneira, o espaço que Kuerten vai ocupar nessa prateleira, a
estante de estrelas da história do tênis, ainda não é definitivo. Ainda.
A prateleira, na verdade, não é pequena.
Tem gente lá que hoje não significa nada para ninguém. Está no cantinho,
quase caindo. O que significa Sergi Bruguera para a história do tênis? E
Thomas Muster? Sim, ganharam Grand Slam, dezenas de títulos, mas...
Ok, ok, tem gente que também se colocou lá, não ficou empoeirado, mas
também não brilha entre tantos. Quem, fora de fãs-clubes, se lembrará em
20 anos de Jim Courier. de Mats Wilander?
Mas tem gente também que, além da plaquinha, tem estatueta. Pete
Sampras! Andre Agassi! Ivan Lendl! Bjorn Borg!
Kuerten, à beira de completar meros 24 aninhos, dificilmente ficará
empoeirado. É jovem, tem carisma, tem talento, tem vontade. Tudo isso. E
tem tempo para empurrar outros nomes igualmente consagrados para o lado
e ficar ali no meio, do meio para a frente.
*
Ao dizer que Kuerten é, por enquanto, mais um na prateleira de estrelas
da história do tênis, não desrespeito nem compro briga com quem
discorda. Só não quero confundir hoje prateleira com altar.
Notas
AQUI
Em um país onde ídolos do esporte se envolvem em brigas, escândalos e
malvadezas, Kuerten mostra como faz uma estrela de verdade. Inaugurou o
Instituto Guga Kuerten, cujo objetivo é ajudar portadores de deficiência
e incentivar o esporte aqui.
LÁ
Kuerten já treina e, por que não?, se diverte em Nova York, cidade que
hospeda o Aberto dos EUA a partir da próxima semana. O catarinense gosta
da cidade, curte o clima e, agora, se diz mais confiante que nunca lá.
DO OUTRO LADO
Kuerten é esperado no Japão em outubro. A organização do Aberto daquele
país acabou de convidar o brasileiro. Foi lá, do outro lado, que, em
1974, Maria Esther Bueno conquistou seu último grande título.
E-mail: reandaku@uol.com.br
Leia
mais:
Colunas anteriores:
16/08/00 -
Gustavo Gustav Guga Caverna Kuerten
09/08/00 - Começos
02/08/00 - Match point
26/07/00 - Carta aos pais
19/07/00 - Crise Americana
12/07/00 - Made in USA
05/07/00 - Desprezo geral
28/06/00 - O rei da
grama
21/06/00 - Um outro
esporte
14/06/00 - Não
tem pra ninguém
07/06/00 - Simplesmente um
show
31/05/00 - Paris é
uma festa
24/05/00 - O melhor do mundo
17/05/00
- Atacar ou atacar
10/05/00 - A voz do povo
03/05/00
- A volta da matadora
26/04/00
- Um esporte para fortes
19/04/00
- Panela
de pressão
12/04/00
- A Copa Davis já era
|