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Quarta-feira, 19 de julho de 2000

Crise americana

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Bom, perder as cinco partidas para a Austrália não foi nada bonito, mas faz parte do jogo, são resultados normais. Não é para esquentar a cabeça.
Talvez a ducha de água fria sirva para a imprensa brasileira baixar um pouco a bola da Davis, que, definitivamente, não é a "pátria de raquetes".
Mas, já que o assunto é esse torneio de seleções, é possível usá-lo como pretexto para uma reflexão sobre o atual momento do tênis dos EUA. Nesse caso, sim, trata-se do país do tênis. Americano adora jogar tênis, mais de 40 milhões deles já pegaram numa raquete pelo menos uma vez na vida. Lá tem de tudo: iniciativa governamental, investimento privado, tênis nas escolas, quadras públicas, as mais completas academias particulares, muita ação na mídia... Bem, não falta nada.
Não é por acaso que o país tem dois dos três melhores tenistas do circuito, Pete Sampras e Andre Agassi. O terceiro da lista é uma exceção, porque, apesar do sobrenome alemão, é um garotão com cara de surfista que vem de um país sem tradição e sem a mínima infra-estrutura para o tênis. No entanto, os EUA estão sem Sampras e Agassi para a disputa da semifinal da Davis contra a Espanha, no próximo fim-de-semana. Com isso, a equipe fica com Todd Martin, Jan-Michael Gambill, Chris Woodruff e... John McEnroe! E, no saibro, a Espanha é mais favorita do que nunca.
Deixando de lado o inusitado da coisa, a inclusão do capitão e quarentão McEnroe como "jogador de emergência" é o maior atestado da crise americana nas raquetes. Depois de décadas com o maior número de representantes no grupo de elite do esporte, os EUA não conseguem substitutos para Sampras e Agassi, já veteranos em um esporte tão precoce como o tênis.
É bom lembrar que a crise é masculina, já que Lindsay Davenport e as incríveis irmãs Williams estão por aí, cheias de amor para dar. Mas, do lado dos homens, parece que a fonte secou.
Desde 1968, início do circuito profissional, a linhagem de craques ianques não deixou a peteca cair. Stan Smith e Arthur Ashe reinaram por pouco tempo, logo ofuscados pelo "all-american boy" Jimmy Connors, que surgiu para ficar duas décadas entre os "top ten". Os anos 80 viram o domínio do fenômeno John McEnroe. Quando uma decadência americana parecia próximo, isso lá por 1988, 1989, veio uma nova geração vencedora: Michael Chang, Andre Agassi, Jim Courier e... Pete Sampras, curiosamente o que demorou mais para engrenar.
Agora, Chang e Courier já entregaram os pontos, e Sampras e Agassi estão virando "balzaquianos". Quem surge para ocupar o lugar deles? Ninguém.
Ninguém mesmo. Basta olhar a equipe da Davis. Todd Martin também é veterano, já não está cumprindo todo o circuito, preferindo um ritmo light, pré-aposentadoria. Jan-Michael Gambill, Chris Woodruff, Paul Goldstein, Justin Gimelstob, Vincet Spadea, Bob Bryan... Nossa! Pode somar todos esses que não dá um Jim Courier.
Como foi dito no início deste texto, os EUA fazem tudo certo. Os recursos conhecidos hoje para o desenvolvimento de tenistas de ponta estão disponíveis. O número de garotos que começa a praticar o esporte continua crescendo. Resta, para explicar a situação, o fator difícil de ser medido, que é o surgimento daquele jogador com algo mais, aquela carga de talento capaz de transformar o sujeito no melhor do mundo.
Os dirigentes do tênis americano sabem o que fazem. Só precisam de uma mãozinha do destino.


Notas

Neura

E já começou a ladainha. Gustavo Kuerten perdeu o primeiro lugar na Corrida dos Campeões. De novo, a imprensa vai bater o bumbo e entupir o fã de tênis com contas e mais contas. Coisas do tipo "Se Kuerten ganhar o torneio desta semana e chegar às quartas na semana que vem, e Norman não passar das semifinais nos dois, o brasileiro recupera a liderança...". Barbaridade!
Isso é muito chato. Pior: os tenistas não dão a mínima. Eles querem os títulos. E o público também. Ranking é circunstância, só isso.

Ainda a Davis
Não dá para não registrar. Jaime Oncins jogou muita bola contra os australianos. Carregou Kuerten nas costas em vários momentos da partida. É incrível como Oncins, depois até de uma anunciada aposentadoria, encontrou seu lugar no mundo das duplas. É isso aí..



E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



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