Diego
Medina
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Pete Sampras vai conquistar seu sétimo título em Wimbledon, passando a ser
o
homem que mais venceu torneios de Grand Slam?
Sei lá.
Lleyton Hewitt vai finalmente ter em um Grand Slam o ótimo desempenho que
consegue em torneios menores?
Sei lá.
Gustavo Kuerten vai calar a boca de quem ainda duvida de suas qualidades
no
piso rápido?
Sei lá.
Pois é, Wimbledon é isso, uma fileira de questões sem resposta. Porque,
sem
dúvida, é o torneio mais imprevisível do circuito. E não se trata da
pressão
de jogar o mais tradicional evento tenístico do planeta. Afinal, um Roland
Garros ou um US Open também mexe com a cabeça do jogador. O problema é,
definitivamente, essa idéia de maluco que é disputar uma partida de tênis
na
grama.
Quando este colunista dava suas raquetadas, muitos anos e muitos quilos
atrás, teve oportunidade de jogar em quadra de grama. Amigos, é outro
esporte. Deixa de ser o tênis que todos nós conhecemos na primeira quicada
da bolinha.
O tempo da bola é outro, assim como a altura que ela sobe, ou melhor, que
ela não sobe, já que a desgraçada insiste em deslizar na grama e passar
como
um foguete na altura do seu joelho. O que é pior: essa baita diferença é
capaz de enervar qualquer um, do principiante ao profissional.
O argentino Guillermo Vilas era o melhor jogador do mundo na temporada de
1977, triturando quem passasse pela frente dele. Campeão de Roland Garros
naquele ano sem perder nenhum set (e vencedor de outros oito torneios só
no
primeiro semestre), Vilas chegou a Wimbledon com status merecidíssimo de
superestrela.
Aí, na primeira rodada, ele foi eliminado por Billy Martin (quem?), em
três
sets. Tenista pesadão, verdadeira máquina de rebater no fundo de quadra,
Vilas foi jogado de um lado para outro por Martin. O argentino mostrou a
agilidade de um hipopótamo na grama inglesa.
Arrasado na quadra e fuzilado pelas perguntas dos jornalistas na coletiva,
Vilas sentenciou: "A grama é para as vacas. Não sei jogar aqui, não
voltarei
mais". Dito e feito. Apesar de ter permanecido entre os "top ten" por mais
sete anos, Vilas não retornou a Wimbledon.
Apesar de todo o respeito por um ídolo de infância, acho que Vilas não
percebeu que não estava sozinho. A mesma sensação incômoda que ele sentia
é
vivenciada pela maioria dos tenistas, com mais ou menos intensidade. O
sujeito passa o ano inteiro no saibro ou no piso rápido, sintético. Aí,
durante duas ou três semanas, é obrigado a encarar uma quadra em que tudo
é
diferente. Não é fácil.
Não existe uma regra para a adaptação dos jogadores à grama. Teoricamente,
os craques em quadra rápida costumam ter mais facilidade. É o caso de Pete
Sampras, Goran Ivanisevic, Richard Krajicek. Mas um dos reis de Wimbledon
destruiu totalmente essa teoria.
O sueco Bjorn Borg era o exemplar perfeito do jogador de saibro. Ficava no
fundo, rebatendo bolas seguidas sem errar, e usava como principal
"aditivo"
de seu jogo o top spin, efeito que faz a bola quicar mais alta. No
entanto,
Borg jogava em Wimbledon como se tivesse nascido na grama. Ganhou cinco
títulos consecutivos, de 1976 a 1980, e provavelmente ganharia outros se
não
optasse pela aposentadoria precoce aos 26 anos.
Wimbledon não é futebol, mas também é uma caixinha de surpresas. Vamos
conferir todas a partir da próxima segunda-feira.
Notas
Estréia boa
Gustavo Kuerten não deve ter problemas com Chris Woodruff. Tudo bem que o
americano ganhou do brasileiro na final de Montreal em 97, mas de lá para
cá
Kuerten transformou-se em outro jogador. E Woodruff não fez nada de
memorável.
Estréia perigosa
Fernando Meligeni precisa abrir o olho com o sueco Thomas Johansson.
Seguindo a escola de seu país, Johansson é daqueles jogadores que vão bem
em
qualquer piso. Ele e Meligeni devem fazer um grande duelo.
Estréia complicada
André Sá pega um osso duro de roer. O inglês Arvind Parmar tem nome
esquisito, mas joga muito. Principalmente na grama. Na última
segunda-feira,
ele eliminou Cedric Pioline do Torneio de Nottingham em dois sets. É fera.
E-mail: thalesmenezes@uol.com.br
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