O personagem


 

France Presse
Lleyton Hewitt


A pergunta de hoje

O colunista responde

Aconteceu na semana
Esporte em números
Veja na TV


PENSATA

Quarta-feira, 21 de junho de 2000

Um outro esporte

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Pete Sampras vai conquistar seu sétimo título em Wimbledon, passando a ser o homem que mais venceu torneios de Grand Slam?
Sei lá.
Lleyton Hewitt vai finalmente ter em um Grand Slam o ótimo desempenho que consegue em torneios menores?
Sei lá.
Gustavo Kuerten vai calar a boca de quem ainda duvida de suas qualidades no piso rápido?
Sei lá.
Pois é, Wimbledon é isso, uma fileira de questões sem resposta. Porque, sem dúvida, é o torneio mais imprevisível do circuito. E não se trata da pressão de jogar o mais tradicional evento tenístico do planeta. Afinal, um Roland Garros ou um US Open também mexe com a cabeça do jogador. O problema é, definitivamente, essa idéia de maluco que é disputar uma partida de tênis na grama.

Quando este colunista dava suas raquetadas, muitos anos e muitos quilos atrás, teve oportunidade de jogar em quadra de grama. Amigos, é outro esporte. Deixa de ser o tênis que todos nós conhecemos na primeira quicada da bolinha.

O tempo da bola é outro, assim como a altura que ela sobe, ou melhor, que ela não sobe, já que a desgraçada insiste em deslizar na grama e passar como um foguete na altura do seu joelho. O que é pior: essa baita diferença é capaz de enervar qualquer um, do principiante ao profissional.

O argentino Guillermo Vilas era o melhor jogador do mundo na temporada de 1977, triturando quem passasse pela frente dele. Campeão de Roland Garros naquele ano sem perder nenhum set (e vencedor de outros oito torneios só no primeiro semestre), Vilas chegou a Wimbledon com status merecidíssimo de superestrela.

Aí, na primeira rodada, ele foi eliminado por Billy Martin (quem?), em três sets. Tenista pesadão, verdadeira máquina de rebater no fundo de quadra, Vilas foi jogado de um lado para outro por Martin. O argentino mostrou a agilidade de um hipopótamo na grama inglesa.

Arrasado na quadra e fuzilado pelas perguntas dos jornalistas na coletiva, Vilas sentenciou: "A grama é para as vacas. Não sei jogar aqui, não voltarei mais". Dito e feito. Apesar de ter permanecido entre os "top ten" por mais sete anos, Vilas não retornou a Wimbledon.

Apesar de todo o respeito por um ídolo de infância, acho que Vilas não percebeu que não estava sozinho. A mesma sensação incômoda que ele sentia é vivenciada pela maioria dos tenistas, com mais ou menos intensidade. O sujeito passa o ano inteiro no saibro ou no piso rápido, sintético. Aí, durante duas ou três semanas, é obrigado a encarar uma quadra em que tudo é diferente. Não é fácil.

Não existe uma regra para a adaptação dos jogadores à grama. Teoricamente, os craques em quadra rápida costumam ter mais facilidade. É o caso de Pete Sampras, Goran Ivanisevic, Richard Krajicek. Mas um dos reis de Wimbledon destruiu totalmente essa teoria.

O sueco Bjorn Borg era o exemplar perfeito do jogador de saibro. Ficava no fundo, rebatendo bolas seguidas sem errar, e usava como principal "aditivo" de seu jogo o top spin, efeito que faz a bola quicar mais alta. No entanto, Borg jogava em Wimbledon como se tivesse nascido na grama. Ganhou cinco títulos consecutivos, de 1976 a 1980, e provavelmente ganharia outros se não optasse pela aposentadoria precoce aos 26 anos.

Wimbledon não é futebol, mas também é uma caixinha de surpresas. Vamos conferir todas a partir da próxima segunda-feira.


Notas

Estréia boa
Gustavo Kuerten não deve ter problemas com Chris Woodruff. Tudo bem que o americano ganhou do brasileiro na final de Montreal em 97, mas de lá para cá Kuerten transformou-se em outro jogador. E Woodruff não fez nada de memorável.

Estréia perigosa
Fernando Meligeni precisa abrir o olho com o sueco Thomas Johansson. Seguindo a escola de seu país, Johansson é daqueles jogadores que vão bem em qualquer piso. Ele e Meligeni devem fazer um grande duelo.

Estréia complicada
André Sá pega um osso duro de roer. O inglês Arvind Parmar tem nome esquisito, mas joga muito. Principalmente na grama. Na última segunda-feira, ele eliminou Cedric Pioline do Torneio de Nottingham em dois sets. É fera.



E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



Leia mais:


Colunas anteriores
:


14/06/00 - Não tem pra ninguém
07/06/00 - Simplesmente um show
31/05/00 - Paris é uma festa
24/05/00 - O melhor do mundo
17/05/00 - Atacar ou atacar
10/05/00 - A voz do povo
03/05/00 - A volta da matadora
26/04/00 - Um esporte para fortes
19/04/00 - Panela de pressão
12/04/00 - A Copa Davis já era