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Quarta-feira, 28 de junho de 2000

O rei da grama

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Gustavo Kuerten foi bem. Enfiou quase 30 aces no rival, reclamou da arbitragem (ao que parece uma constante em sua atual fase), mas não perdeu a cabeça. Grand Slam é assim: uma maratona, duas semanas de jogos em cinco sets, uma dureza. Por isso, ganhar bonito nunca é o mais importante. O que vale é passar para a outra fase.
Enquanto isso, os leitores mandam mensagens perguntando de onde vem esse favoritismo todo atribuído a Pete Sampras em Wimbledon. É o tema principal da correspondência da semana.
Só posso acreditar que a maioria dos missivistas esteja começando a acompanhar o tênis nesta temporada. O reinado de Sampras é tão evidente em Wimbledon (seis títulos nas sete últimas edições do torneio) que apenas esse histórico já serviria para colocá-lo como principal favorito.
No entanto, a observação do comportamento de Sampras na grama é que realmente explica seu domínio. A grama é, definitivamente, o piso que mais valoriza a precisão do jogador. Os pontos tendem a ser definidos pela via rápida. É raro um ponto passar da quarta rebatida. A bola desliza velozmente, dificultando todos os golpes. Assim, os erros aparecem logo.
O grande desafio de Kuerten, que tem um estilo de jogar apoiado em muitas trocas de bola, é manter o volume de jogo, o peso da bola. Kafelnikov, Enqvist e Hewitt têm o mesmo problema.
Aí, um cara com a precisão cirúrgica de Sampras aumenta sua superioridade diante do resto. Em Wimbledon, apesar da característica de velocidade da quadra, sacar rápido não basta. Tem de ser bem colocado, e Sampras põe a bola onde quer.
O título do holandês Richard Krajicek em 1996, o único que interrompeu a série de triunfos de Sampras na grama inglesa, não foi por acaso. Krajicek tem um dos voleios mais matadores do circuito. Quando chega bem na bola, invariavelmente mata o ponto.
Se Kuerten, Norman, Kafelnikov ou outro trocador de bola desses levar o troféu em Wimbledon, pode ser reverenciado com muito mais vigor do que Sampras, Rafter ou Krajicek. Trocar bola em Wimbledon é quase um suicídio estratégico. Para ganhar assim, o cara tem de estar em seu ápice físico e técnico.
A discussão sobre quem é o melhor tenista do mundo deveria ser "congelada" durante Wimbledon. Nos últimos anos, por coincidência, Sampras dominou o circuito e também o torneio inglês. Nos anos 80, por exemplo, Ivan Lendl fez barba e cabelo por todas as quadras do planeta, menos em Wimbledon. É um torneio tão peculiar que não deveria ser incluído nas estatísticas gerais do circuito.
Numa comparação, Wimbledon é o GP de Mônaco do tênis. Um evento anacrônico, onde o desempenho dos participantes pode não ter nada a ver com sua atuação no resto do circuito. Mas é sustentado por seu caráter histórico, seu charme imbatível. É tão bacana que ninguém pensa em riscá-lo da agenda.
Sampras é o melhor tenista da história e, também, o rei de Wimbledon. Todos precisam saber disso.

Notas

Com toda a razão

A chiadeira dos tenistas espanhóis Alex Corretja, Albert Costa e Juan Carlos Ferrero, que abandonaram Wimbledon por não serem incluídos entre os cabeças-de-chave, é mais do que justificada. Os organizadores do torneio inglês não podem continuar a desprezar o ranking da ATP. É uma palhaçada.
Derrota precoce
Lleyton Hewitt perdeu logo na estréia e continua sua sina de não ir bem nos torneios de Grand Slam. Antes que os analistas de plantão comecem a depreciar o rapaz, é bom lembrar como Wimbledon é esse torneio peculiar, que não reproduz o desempenho real do tenista na temporada. E, aos 19 anos, Hewitt tem tempo bastante para amadurecer e ser o número um do planeta.



E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



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