O personagem


 

Reuters
Pete Sampras


A pergunta de hoje

O colunista responde

Aconteceu na semana
Esporte em números
Veja na TV


PENSATA

Quarta-feira, 4 de outubro de 2000

Uma bolinha sem fronteiras

Régis Andaku
     

Diego Medina

Esse tal espírito olímpico, que tomou de assalto jornais e TVs, despachou as três últimas colunas deste jornalista apenas para a Web e dominou as discussões entre torcedores (e finalmente acabou!), deixou na minha cabeça uma discussão intrigante: afinal, que países dominam quais modalidades atualmente?

O Brasil não é mais o país do futebol? Na natação, é a Holanda que agora faz barulho? Ou a Austrália? E no atletismo, os EUA ainda dominam? O tênis, ainda bem, não cai nessa mais. Está, aliás, muito longe de cair nessa. E, cheguei à conclusão definitiva mesmo, ainda bem!

Nunca a geografia do tênis esteve tão aberta. E isso é que tem tornado o tênis um esporte mais visível, emocionante e imprevisível. Mais gostoso de ver.

Se em 1977 apenas nove países tinham tenistas campeões, hoje, em apenas dois minutos, passa-se essa contagem facilmente quando se pensa em que nações têm tido atletas dando raquetadas e conquistando torneios.

Essa história de império norte-americano, sucedido pela chamada armada espanhola, não existe mais. Falamos agora de tenistas sem saber se pertencem à escola sueca, americana, blablabla.

Já não se pode dizer que espanhóis são só os reis do saibro (Alex Corretja e Carlos Moyá já foram finalistas em Copa do Mundo em piso rápido).

Dizer que Gustavo Kuerten é só surfista no saibro é balela (e as quartas-de-final em Wimbledon e o título em Indianápolis?).

Que os tenistas suecos são mestres no piso rápidoé um rótulo falso (e Magnus Norman e seu desempenho em Roma e Roland Garros?).

Hoje, um tenista só se torna notícia por ser deste ou daquele país quando vem de algum lugar chamado Benin. E joga contra o número um do mundo.

O que quero dizer que é não faz a mínima diferença no tênis mundial hoje saber de que país vem Marat Safin, Marcelo Ríos ou Nicolas Kiefer. No tênis, eles são maiores que seus países. Seu sucesso, a curiosidade que despertam, isso tudo vem de seus estilos, vem da história pessoal de cada um, não da ligação com o lugar onde aprender a jogar.

Gustavo Kuerten não representa o tênis brasileiro, mas um estilo de jogo bonito, forte e ofensivo. Yevgeny Kafelnikov não tem nada a ver com o tênis russo, mas com uma maneira clássica, eficiente e consistente.

Gostem ou não aqueles torcedores que aprenderam a ser torcedores gritando "Bra-sil, Bra-sil", o tênis mundial não tem Brasil, mas Gustavo Kuerten. Assim como é Marat Safin, que virou tenista na Espanha, ou Yevgeny Kafelnikov, que gosta mesmo é de jogar na Austrália, e não Rússia.

Que importa, aliás, em um ATP Tour, em pleno circuito mundial, saber de que país vem tal tenista? A que "escola" ele pertence? Vale mais saber a história pessoal do sujeito, o estilo que ele tem, como se formou, como se mostra, se aprimora.

É isso que distancia Marat Safin da Rússia, Gustavo Kuerten do Brasil e Marcelo Riós do Chile, a raquete da bandeira.


Notas
Em Lisboa
Andre Agassi também está garantido na Copa do Mundo. Nesta semana, a ATP confirmou o norte-americano, que entra na oitava vaga, destinada a um vencedor de Grand Slam que não chegasse entre os oito primeiros. Por essa regra, está garantido porque fica entre os oito primeiros ou é o único campeão de Grand Slam fora da lista de classificados.

Em São Paulo
Uma etapa do Circuito Juvenil Banco do Brasil está rolando no clube Espéria, com bons jogos e entrada franca todos os dias, a partir de 9h. Vale a pena uma passada para ver gente jogand com vontade de virar campeão.

Em Sydney
Yevgeny Kafelnikov, que adora jogar na Austrália, terminou mesmo com o ouro. Na chave feminina, a festa foi de Venus Williams, mais medalhas de ouro que muito país inteiro. E, sem festa, acabou a parceria entre os "Woodies", Mark Woodford e Todd Woodbrige. "Nós somos ouro", disse Woodford, prata no peito.



E-mail: reandaku@uol.com.br



Leia mais:


Colunas anteriores
:

27/09/00 - Luzes no homem russo
20/09/00 - O importante é estar lá
13/09/00 - Quem vai para Sydney? O que vai para Sydney?
06/09/00 - Erro não-forçado, coração triste
30/08/00 - Quem ele pensa que é?
23/08/00 - Um troféu novo, uma prateleira cheia
16/08/00 - Gustavo Gustav Guga Caverna Kuerten
09/08/00 - Começos
02/08/00 - Match point
26/07/00 - Carta aos pais
19/07/00 - Crise Americana
12/07/00 - Made in USA
05/07/00 - Desprezo geral
28/06/00 - O rei da grama
21/06/00 - Um outro esporte
14/06/00 - Não tem pra ninguém
07/06/00 - Simplesmente um show
31/05/00 - Paris é uma festa
24/05/00 - O melhor do mundo
17/05/00 - Atacar ou atacar
10/05/00 - A voz do povo
03/05/00 - A volta da matadora

26/04/00 - Um esporte para fortes
19/04/00 - Panela de pressão
12/04/00 - A Copa Davis já era