Gustavo Kuerten já está em Sydney. Entre uma semana e outra,
tempo suficiente para se armar o maior barraco e, graças,
desarmá-lo. Agora, final feliz: nosso melhor tenista estará
disputando a Olimpíada e (por que não?) brigando pela medalha
de ouro.
Se o final é feliz, os capítulo que o antecederam não foram
dos melhores. A quem perdeu o seriado (alguém perdeu?), um
breve relato: o Comitê Olímpico Brasileiro exigia que Kuerten
vestisse em Sydney um uniforme da Olympikus, com quem fechara
contrato. O tenista, que tem contrato com a Diadora, queria,
claro, prestigiar sua marca.
No passo seguinte, a Diadora recuou: admitia que o tenista
deixasse de usar sua marca, jogasse sem propaganda. A Olympikus
não recuou. Queria Kuerten com seu logotipo nos Jogos. Diante
disso, o tenista alegou fidelidade a seu patrocinador e optou
por não jogar em Sydney.
Capítulos finais, COB e Olympikus recuaram também, permitiram
que Kuerten fosse a Sydney "limpo". E o tenista viajou, feliz,
com seu violão, suas raquetes, seu treinador e seus CDs.
A novela teve o mocinho, o vilão, os coadjuvantes, as idas
e vindas. Como em toda novela, terminou com os torcedores,
digo, espectadores, felizes com o final do mocinho.
De qualquer maneira, foi uma novela que ninguém esperava ver,
que ninguém gostaria, queria ver. Uma novela que desgastou
todos. Que deixou o Comitê Olímpico Brasileiro e seu presidente,
Carlos Arthur Nuzman, na corda bamba, isolados. Que deixou
o público revoltado. E que deixou Gustavo Kuerten, no mínimo,
triste.
A novela mostrou o quanto a vontade e a competência para ir
disputar uma Olimpíada podem, por incrível que pareça, não
ser suficientes para fazer um atleta de alto nível disputar
os Jogos.
E o quanto contratos tornam reféns dirigentes e atletas, países
e federações, empurrando para lá e para cá, quando é o desejo,
competições histórias como os Jogos Olímpicos e eventos desnecessários,
caça-níqueis.
*
Se a novela Kuerten-COB terminou bem (dentro de quadra, pelo
menos), outro seriado, mais para dramalhão, acabou na surdina,
mas com um resultado muito mais decepcionante. A quem não
sabe, São Paulo perdeu o direito de ser sede da Copa do Mundo
de 2001.
Depois de muita cabeçada, capítulos entediantes, tramas sem
explicação, terminou que o evento final da temporada do circuito
profissional vai ser disputado (ora, ora) em Sydney.
O enredo, com a incapacidade dos donos do direito de organização
em conseguir um lugar minimamente decente para abrigar os
jogos em São Paulo, já prenunciava um final trágico para a
novela. E esta, diferentemente do que acontece nas novelas
brasileiras que fazem sucesso até no exterior, terminou sem
surpresas.
*
Já que tudo e todos vão para Sydney, por que nós devemos voltar
as atenções para outro lugar?
Venus Williams e Marat Safin, grandes campeões no Aberto dos
Estados Unidos, estarão lá, embalados por campanhas belíssimas
em Nova York. Gustavo Kuerten já chegou. Patrick Rafter aparece
em fotos e fotos de Sydney, mostrando-se muito à vontade entre
seu público.
Que a competição olímpica de tênis nos dê gosto de ver. Diferentemente
de outras novelas.
*
Esta coluna está sendo publicada apenas em sua versão online.
As próximas duas também assim serão. No jornal papel, abro
espaço para a cobertura primorosa da Folha de S.Paulo em Sydney.
E-mail: reandaku@uol.com.br
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