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Quarta-feira, 13 de setembro de 2000

Quem vai para Sydney? O que vai para Sydney?

Régis Andaku
     


Gustavo Kuerten já está em Sydney. Entre uma semana e outra, tempo suficiente para se armar o maior barraco e, graças, desarmá-lo. Agora, final feliz: nosso melhor tenista estará disputando a Olimpíada e (por que não?) brigando pela medalha de ouro.

Se o final é feliz, os capítulo que o antecederam não foram dos melhores. A quem perdeu o seriado (alguém perdeu?), um breve relato: o Comitê Olímpico Brasileiro exigia que Kuerten vestisse em Sydney um uniforme da Olympikus, com quem fechara contrato. O tenista, que tem contrato com a Diadora, queria, claro, prestigiar sua marca.

No passo seguinte, a Diadora recuou: admitia que o tenista deixasse de usar sua marca, jogasse sem propaganda. A Olympikus não recuou. Queria Kuerten com seu logotipo nos Jogos. Diante disso, o tenista alegou fidelidade a seu patrocinador e optou por não jogar em Sydney.

Capítulos finais, COB e Olympikus recuaram também, permitiram que Kuerten fosse a Sydney "limpo". E o tenista viajou, feliz, com seu violão, suas raquetes, seu treinador e seus CDs.

A novela teve o mocinho, o vilão, os coadjuvantes, as idas e vindas. Como em toda novela, terminou com os torcedores, digo, espectadores, felizes com o final do mocinho.

De qualquer maneira, foi uma novela que ninguém esperava ver, que ninguém gostaria, queria ver. Uma novela que desgastou todos. Que deixou o Comitê Olímpico Brasileiro e seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, na corda bamba, isolados. Que deixou o público revoltado. E que deixou Gustavo Kuerten, no mínimo, triste.

A novela mostrou o quanto a vontade e a competência para ir disputar uma Olimpíada podem, por incrível que pareça, não ser suficientes para fazer um atleta de alto nível disputar os Jogos.

E o quanto contratos tornam reféns dirigentes e atletas, países e federações, empurrando para lá e para cá, quando é o desejo, competições histórias como os Jogos Olímpicos e eventos desnecessários, caça-níqueis.

*

Se a novela Kuerten-COB terminou bem (dentro de quadra, pelo menos), outro seriado, mais para dramalhão, acabou na surdina, mas com um resultado muito mais decepcionante. A quem não sabe, São Paulo perdeu o direito de ser sede da Copa do Mundo de 2001.

Depois de muita cabeçada, capítulos entediantes, tramas sem explicação, terminou que o evento final da temporada do circuito profissional vai ser disputado (ora, ora) em Sydney.

O enredo, com a incapacidade dos donos do direito de organização em conseguir um lugar minimamente decente para abrigar os jogos em São Paulo, já prenunciava um final trágico para a novela. E esta, diferentemente do que acontece nas novelas brasileiras que fazem sucesso até no exterior, terminou sem surpresas.

*

Já que tudo e todos vão para Sydney, por que nós devemos voltar as atenções para outro lugar?

Venus Williams e Marat Safin, grandes campeões no Aberto dos Estados Unidos, estarão lá, embalados por campanhas belíssimas em Nova York. Gustavo Kuerten já chegou. Patrick Rafter aparece em fotos e fotos de Sydney, mostrando-se muito à vontade entre seu público.

Que a competição olímpica de tênis nos dê gosto de ver. Diferentemente de outras novelas.

*

Esta coluna está sendo publicada apenas em sua versão online. As próximas duas também assim serão. No jornal papel, abro espaço para a cobertura primorosa da Folha de S.Paulo em Sydney.



E-mail: reandaku@uol.com.br



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