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Quarta-feira, 27 de setembro de 2000

Luzes no homem russo

Régis Andaku
     


O torneio olímpico de tênis perdeu a graça para a maioria do público. Para os brasileiros, sem Gustavo Kuerten, o que ver? Para os australianos, sem Patrick Rafter, Lleyton Hewitt ou Mark Phlippoussis, por que ir ao Tennis Centre?

Mas esse torneio olímpico, que à primeira vista, confesso, soou absurdo para mim, está dando destaque a um tenista que merece o ponto de luz que agora está sobre a sua cabeça: o russo Yevgeny Kafelnikov.

O russo nunca foi o queridinho do público. Muito menos da mídia e dos promotores do tênis mundial. Por isso, sempre ganhou menos em patrocínio que os outros reis das quadras. Em muitos lugares, algumas cidades nos Estados Unidos e na Europa, sente-se nada à vontade para jogar.

Joga e vai para o hotel. Pede comida no quarto. Vê TV. Folheia o jornal. Volta para a quadra, joga, muitas vezes desanimado, vai para o hotel, telefona para a mulher. Volta para quadra, desanimado, até perder. Ou ganhar e, sem sorriso muito aberto, erguer o troféu.

Kafelnikov sente-se injustiçado, colocado em segundo plano, mesmo sendo campeão em 20 torneios, 2 Grand Slams inclusive. Acha que, por conta desse negócio chamado negócio, não é reconhecido pela mídia, por patrocinadores e por torcedores.

"Quando ganhei o primeiro Grand Slam (Roland Garros), ninguém percebeu, ninguém deu bola", disse logo depois de ganhar o segundo, o Aberto da Austrália do ano passado.

E, na Copa do Mundo do ano passado, deixou claro o quanto se sente magoado. Falou mal, e muito, de Pete Sampras e Andre Agassi, então indiscutivelmente os melhores da temporada e dos últimos anos.

A um pequeno grupo de jornalistas, um deles este colunista, falou, sem dó, que o show não é entre Pete e Andre. "Eu não incluo somente a mim, mas Thomas Enqvist, Gustavo Kuerten, tenistas que estão fazendo da ATP um show", disse, firmemente, triste porém..

"Eu vejo a cobertura de tênis nas TVs. É deprimente. Parece que só existem os americanos. Eles falam de Agassi, e Sampras, 20 minutos, e depois 1 ou 2 minutos dos outros tenistas. É uma falta de respeito, é preciso ter respeito!"

Nada mudou. Kafelnikov ainda não é visto como uma das grandes estrelas da ATP (Kuerten é mais, Agassi e Sampras muito mais). Ainda não consegue grandes patrocínios. Não virou queridinho, nem desperta grandes paixões. Nada mudou mesmo, e ele continua vencendo, fazendo sucesso. Em Sydney, está com a medalha de ouro nas mãos.



Notas

Outro tenista que merece o aplauso nesta semana é o brasileiro Alexandre Simoni, que conquistou o título do Torneio de Brasov, na Romênia. Nas duplas, chegou às semifinais do torneio challenger. É o segundo título de Simoni em challenger neste ano.

Aqui
É só na Folha Online que esta coluna está sendo publicada. Na Folha de S.Paulo, continuo dando espaço à cobertura olímpica do jornal. Na próxima semana, volto a amolar os leitores do papel.



E-mail: reandaku@uol.com.br



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