O torneio olímpico de tênis perdeu a graça para a maioria
do público. Para os brasileiros, sem Gustavo Kuerten, o que
ver? Para os australianos, sem Patrick Rafter, Lleyton Hewitt
ou Mark Phlippoussis, por que ir ao Tennis Centre?
Mas esse torneio olímpico, que à primeira vista, confesso,
soou absurdo para mim, está dando destaque a um tenista que
merece o ponto de luz que agora está sobre a sua cabeça: o
russo Yevgeny Kafelnikov.
O russo nunca foi o queridinho do público. Muito menos da
mídia e dos promotores do tênis mundial. Por isso, sempre
ganhou menos em patrocínio que os outros reis das quadras.
Em muitos lugares, algumas cidades nos Estados Unidos e na
Europa, sente-se nada à vontade para jogar.
Joga e vai para o hotel. Pede comida no quarto. Vê TV. Folheia
o jornal. Volta para a quadra, joga, muitas vezes desanimado,
vai para o hotel, telefona para a mulher. Volta para quadra,
desanimado, até perder. Ou ganhar e, sem sorriso muito aberto,
erguer o troféu.
Kafelnikov sente-se injustiçado, colocado em segundo plano,
mesmo sendo campeão em 20 torneios, 2 Grand Slams inclusive.
Acha que, por conta desse negócio chamado negócio, não é reconhecido
pela mídia, por patrocinadores e por torcedores.
"Quando ganhei o primeiro Grand Slam (Roland Garros), ninguém
percebeu, ninguém deu bola", disse logo depois de ganhar o
segundo, o Aberto da Austrália do ano passado.
E, na Copa do Mundo do ano passado, deixou claro o quanto
se sente magoado. Falou mal, e muito, de Pete Sampras e Andre
Agassi, então indiscutivelmente os melhores da temporada e
dos últimos anos.
A um pequeno grupo de jornalistas, um deles este colunista,
falou, sem dó, que o show não é entre Pete e Andre. "Eu não
incluo somente a mim, mas Thomas Enqvist, Gustavo Kuerten,
tenistas que estão fazendo da ATP um show", disse, firmemente,
triste porém..
"Eu vejo a cobertura de tênis nas TVs. É deprimente. Parece
que só existem os americanos. Eles falam de Agassi, e Sampras,
20 minutos, e depois 1 ou 2 minutos dos outros tenistas. É
uma falta de respeito, é preciso ter respeito!"
Nada mudou. Kafelnikov ainda não é visto como uma das grandes
estrelas da ATP (Kuerten é mais, Agassi e Sampras muito mais).
Ainda não consegue grandes patrocínios. Não virou queridinho,
nem desperta grandes paixões. Nada mudou mesmo, e ele continua
vencendo, fazendo sucesso. Em Sydney, está com a medalha de
ouro nas mãos.
Notas
Lá
Outro tenista que merece o aplauso nesta semana é o brasileiro
Alexandre Simoni, que conquistou o título do Torneio de Brasov,
na Romênia. Nas duplas, chegou às semifinais do torneio challenger.
É o segundo título de Simoni em challenger neste ano.
Aqui
É só na Folha Online que esta coluna está sendo publicada.
Na Folha de S.Paulo, continuo dando espaço à cobertura olímpica
do jornal. Na próxima semana, volto a amolar os leitores do
papel.
E-mail: reandaku@uol.com.br
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