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Quarta-feira, 31 de maio de 2000

Paris é
uma festa

Thales de Menezes
     
Diego Medina


De jogo mesmo, raquetadas de verdade, até agora só rolou um dia. Mas 24 horas de Roland Garros já dão vontade na gente de falar algumas coisas.

Falar que Gustavo Kuerten teve uma estréia digna do melhor tenista do
mundo. Lembrou a década de 70, quando um Borg ou um Connors pegava seu
adversário na primeira rodada de um torneio de Grand Slam e enfiava, pelo menos, um 6/0. Kuerten enfiou dois no esforçado sueco de nome mediterrâneo. E, se jogasse tudo, partia para um humilhante triplo 6/0.

Roland Garros dá vontade de falar também que o clube parisiense continua o cenário mais charmoso de todo o circuito profissional. As quadras, as árvores, as almofadas nas arquibancadas, a água Perrier gelada, aquelas mulheres que parecem só existir ali e nas capas de revistas. Roland Garros é o único Grande Slam que não enjoa, mesmo depois de 14 dias no mesmo lugar.

E dá vontade de falar de Pete Sampras, coitado, que entra na quadra de saibro com a mobilidade de uma pata choca e tem de buscar forças para mostrar às pessoas que o título de melhor de todos os tempos não é injustificado. Mas aí o cara comete 60 erros não-forçados contra Mark Philippoussis e perde o jogo numa dupla falta, a sétima dela na partida.
Para Sampras, a França é um fantasma cada vez maior.

Bem, Bjorn Borg não venceu o US Open, Ivan Lendl fracassou sempre em Wimbledon e Jimmy Connors e John McEnroe não conquistaram a França. Sem dúvida, Sampras está em ótima companhia.

E o Aberto Francês já dá vontade de falar que a barra vai pesar para a suíça Martina Hingis. O público local não esqueceu o show de estrelismo e antipatia na final do ano passado, contra a alemã Steffi Graf. Hingis já percebeu o clima e evita circular muito pelo clube, ela que antes era daquelas que almoçava e jantava nos restaurantes do complexo.

Aliás, Roland Garros é tão bacana que alguns tenistas adoram passar o dia lá. Michael Chang, Goran Ivanisevic e Carlos Moyá são alguns que preferem chegar pela manhã, evitando o trânsito, e gostam de ficar vendo os jogos até a noite baixar. E o que é mais surpreendente é que do lado de fora dos muros não está uma cidade pouco atrativa, está simplesmente Paris.

Ontem, com a chuva, muito tenistas passaram o tempo jogando cartas e sinuca. O público, mesmo de capa e guarda-chuva, caminhou animado pelas alamedas arborizadas, fez compras nas lojinhas de bugigangas e comeu muito bem nos restaurantes do clube.

Voltando à chave dos jogos, ainda dá vontade de falar que Fernando Meligeni vai ter uma grande chance de revitalizar suas expectativas na segunda rodada. O brasileiro joga com a responsabilidade de repetir a ótima performance do ano passado, quando foi semifinalista, para manter as chances de ir aos Jogos de Sydney. Na estréia, venceu um jogo bem a seu estilo, na base da raça. Agora, pega Alex Corretja e, se vencer, pode receber a carga de adrenalina necessária para empurrá-lo no torneio. Meligeni é um tenista movido pelo lado emocional, e a atmosfera do evento francês é quente, dá para sentir a torcida dentro da quadra.

Para terminar uma análise tão precoce, resta dizer que Roland Garros é a última chance da antes tão temida “armada espanhola” conseguir sua redenção na temporada. Os torneios de verão na Europa mostraram a ascensão de uma legião latino-americana, principalmente dos argentinos, e a decadência dos espanhóis. Resta a Moyá, Corretja, Costa e o emergente Juan Carlos Ferrero a missão de salvar a honra da Espanha em quadras francesas.

Mas, como foi dito, até agora só rolou um dia de jogos. Os próximos dez dias serão de arrebentar.

NOTAS

Consolação
“Pelo menos eu tenho certeza que não serei o único humilhado dessa maneira”, disse o sueco Andreas Vinciguerra depois de levar um passeio de Gustavo Kuerten.

Botando banca
“Kuerten não é o grande adversário a ser batido aqui. Temo muito mais Agassi, Kafelnikov e Moyá. Se jogar contra Kuerten, sei como ganhar”, disse o sueco Magnus Norman

Rasgando seda
“Se Kuerten continuar jogando em Paris como vinha fazendo até a semana passada, seremos 127 caras disputando um vice-campeonato. Não dá para ganhar dele. Kuerten está numa daquelas fases em que o tenista pode jogar cinco sets por dia sem deixar o ritmo cair. Quanto mais joga, melhor joga”, disse o espanhol Carlos Moyá.

Na boa
“Paris é uma festa. Jogar aqui é uma honra. Quem ganha? Ora, Kuerten!”, disse um feliz Michael Chang.






E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



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