Diego
Medina
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De jogo mesmo, raquetadas de verdade, até agora só rolou um dia. Mas 24
horas de Roland Garros já dão vontade na gente de falar algumas coisas.
Falar que Gustavo Kuerten teve uma estréia digna do melhor tenista do
mundo. Lembrou a década de 70, quando um Borg ou um Connors pegava seu
adversário na primeira rodada de um torneio de Grand Slam e enfiava,
pelo menos, um 6/0. Kuerten enfiou dois no esforçado sueco de nome
mediterrâneo. E, se jogasse tudo, partia para um humilhante triplo 6/0.
Roland Garros dá vontade de falar também que o clube parisiense continua
o cenário mais charmoso de todo o circuito profissional. As quadras, as
árvores, as almofadas nas arquibancadas, a água Perrier gelada, aquelas
mulheres que parecem só existir ali e nas capas de revistas. Roland
Garros é o único Grande Slam que não enjoa, mesmo depois de 14 dias no
mesmo lugar.
E dá vontade de falar de Pete Sampras, coitado, que entra na quadra de
saibro com a mobilidade de uma pata choca e tem de buscar forças para
mostrar às pessoas que o título de melhor de todos os tempos não é
injustificado. Mas aí o cara comete 60 erros não-forçados contra Mark
Philippoussis e perde o jogo numa dupla falta, a sétima dela na partida.
Para Sampras, a França é um fantasma cada vez maior.
Bem, Bjorn Borg não
venceu o US Open, Ivan Lendl fracassou sempre em Wimbledon e Jimmy
Connors e John McEnroe não conquistaram a França. Sem dúvida, Sampras
está em ótima companhia.
E o Aberto Francês já dá vontade de falar que a barra vai pesar para a
suíça Martina Hingis. O público local não esqueceu o show de estrelismo
e antipatia na final do ano passado, contra a alemã Steffi Graf. Hingis
já percebeu o clima e evita circular muito pelo clube, ela que antes era
daquelas que almoçava e jantava nos restaurantes do complexo.
Aliás, Roland Garros é tão bacana que alguns tenistas adoram passar o
dia lá. Michael Chang, Goran Ivanisevic e Carlos Moyá são alguns que
preferem chegar pela manhã, evitando o trânsito, e gostam de ficar vendo
os jogos até a noite baixar. E o que é mais surpreendente é que do lado
de fora dos muros não está uma cidade pouco atrativa, está simplesmente
Paris.
Ontem, com a chuva, muito tenistas passaram o tempo jogando cartas e
sinuca. O público, mesmo de capa e guarda-chuva, caminhou animado pelas
alamedas arborizadas, fez compras nas lojinhas de bugigangas e comeu
muito bem nos restaurantes do clube.
Voltando à chave dos jogos, ainda dá vontade de falar que Fernando
Meligeni vai ter uma grande chance de revitalizar suas expectativas na
segunda rodada. O brasileiro joga com a responsabilidade de repetir a
ótima performance do ano passado, quando foi semifinalista, para manter
as chances de ir aos Jogos de Sydney. Na estréia, venceu um jogo bem a
seu estilo, na base da raça. Agora, pega Alex Corretja e, se vencer,
pode receber a carga de adrenalina necessária para empurrá-lo no
torneio. Meligeni é um tenista movido pelo lado emocional, e a atmosfera
do evento francês é quente, dá para sentir a torcida dentro da quadra.
Para terminar uma análise tão precoce, resta dizer que Roland Garros é a
última chance da antes tão temida armada espanhola conseguir sua
redenção na temporada. Os torneios de verão na Europa mostraram a
ascensão de uma legião latino-americana, principalmente dos argentinos,
e a decadência dos espanhóis. Resta a Moyá, Corretja, Costa e o
emergente Juan Carlos Ferrero a missão de salvar a honra da Espanha em
quadras francesas.
Mas, como foi dito, até agora só rolou um dia de jogos. Os próximos dez
dias serão de arrebentar.
NOTAS
Consolação
Pelo menos eu tenho certeza que não serei o único humilhado dessa
maneira, disse o sueco Andreas Vinciguerra depois de levar um passeio
de Gustavo Kuerten.
Botando banca
Kuerten não é o grande adversário a ser batido aqui. Temo muito mais
Agassi, Kafelnikov e Moyá. Se jogar contra Kuerten, sei como ganhar,
disse o sueco Magnus Norman
Rasgando seda
Se Kuerten continuar jogando em Paris como vinha fazendo até a semana
passada, seremos 127 caras disputando um vice-campeonato. Não dá para
ganhar dele. Kuerten está numa daquelas fases em que o tenista pode
jogar cinco sets por dia sem deixar o ritmo cair. Quanto mais joga,
melhor joga, disse o espanhol Carlos Moyá.
Na boa
Paris é uma festa. Jogar aqui é uma honra. Quem ganha? Ora, Kuerten!,
disse um feliz Michael Chang.
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