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Sábado, 12 de agosto de 2000

Entre dois mundos

José Henrique Mariante
     
Diego Medina


A vitória em Hockenheim tornou agudo um sintoma que Barrichello vem apresentando desde que assinou pela Ferrari: o discurso esquizofrênico.
Tentando administrar o inadministrável, suas declarações são dadas conforme a necessidade e a nacionalidade dos microfones.
Para a mídia brasileira, por exemplo, ele alimenta esperanças, deixa em aberto a possibilidade de lutar pelo título, reafirma seu respeito pela escuderia e pelo companheiro, mas nunca admite sua condição de segundo piloto.
Para o resto do mundo, seu discurso é mais ameno, polido, como a frase proferida anteontem, quando indagado sobre o que aconteceria se liderasse uma prova com o alemão na cola. "Honestamente, não sei. Provavelmente, decidiríamos pelo rádio."
Honestamente, qualquer um que acompanha minimamente a F-1 sabe o que iria acontecer.
Barrichello só desistiu dessa inábil postura política nas semanas que antecederam a vitória na Alemanha, quando a falta de desempenhos convincentes o deixou sem saída. Dessa fase, outra pérola, já registrada em coluna anterior: "É essa minha paciência, é essa minha vontade que vai me trazer um dia uma vitória".
A vitória já veio. E a expectativa do público, refletida nas chamadas da Globo para o GP da Hungria, embaladas com exagero pelo Tema da Vitória, é muito maior, tornando a situação do piloto brasileiro ainda mais complexa.
E Barrichello, no lugar de adotar uma atitude mais sóbria, mais equilibrada, voltou à carga.
Apenas para demonstrar como a realidade européia de Barrichello é diversa da que experimentamos por aqui, Mika Hakkinen, em Budapeste, resolveu criticar a Ferrari pela postura adotada em relação ao brasileiro. "É horrível sair à pista sabendo que você só pode ser o segundo."
(Faltou perguntar ao finlandês se essa não era a mesma sensação de seu companheiro de equipe.)
Outro exemplo? A jornalistas brasileiros, Barrichello afirma que Hungaroring é um de seus circuitos preferidos, onde sempre obtém bons resultados. Sua melhor posição, até aqui, foi um quinto lugar, e, no comunicado de imprensa da Ferrari, o piloto afirma que não gosta da pista.
Neste momento, porém, mais do que o discurso, a situação do piloto é que é esquizofrênica.
De um lado, precisa satisfazer a expectativa de seu público. De outro, a expectativa da Ferrari, oposta, que é dar prioridade para Michael Schumacher.
Falar apenas o conveniente é pouco para resolver o problema.

Ainda mais esquizofrênicos do que Barrichello, pilotos da Indy foram a Brasília nesta semana tentar uma carência no projeto de lei que proíbe publicidade de cigarros no país, aprovado em primeira votação na Câmara.
Um deles chegou a afirmar que "não era a favor do cigarro", mas que dependia do patrocínio tabagista para continuar a correr.
Será? É mais fácil crer que ele só está lá por causa do patrocinador, não por sua capacidade na pista.
Aliás, é a explicação para uma empresa gastar US$ 10 milhões por ano a despeito do carro com sua marca raramente vencer.


NOTAS

Novidade
A TV digital continua inventando na Europa. Ontem, na transmissão do treino, uma câmera transmitiu imagens de dentro do cockpit do Arrows de Pedro de La Rosa, acompanhando o movimento de seus pés nos pedais.

F-3000
Budapeste abriga hoje a penúltima etapa da temporada. Ontem, na classificação, Bruno Junqueira obteve a pole. Nicolás Minassian, francês que divide a liderança do campeonato com o piloto brasileiro, larga em quarto.

Zonta
Rejeitado pela BAR, que deve promover o novo contratado Olivier Panis na Bélgica, Ricardo Zonta já tem traçado seu futuro, que não é a Indy, escapatória de muitos brasileiros nos últimos anos: vai tentar ser piloto de testes da Jordan ou da McLaren.




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mariante@uol.com.br



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