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Juan Pablo Montoya, em Indianápolis (EUA)


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Sábado, 3 de junho de 2000

Crueldades

José Henrique Mariante
     
Diego Medina

Barrichello classificou os brasileiros de cruéis em entrevista ao "L’Équipe" nesta semana. Sendo mais específico, a crítica recaiu sobre a mídia do país, resumida, no discurso do piloto, ao "Casseta & Planeta".

Barrichello se queixou, basicamente, das piadas, dos apelidos maldosos e da falta de "seriedade" na análise de seu trabalho na escuderia italiana.

Aos jornalistas brasileiros que cobrem a F-1, Barrichello foi seco ao ser indagado qual teria sido a reação do público em sua mais recente passagem pelo país: "Contrária à que percebo nos jornais".

E o piloto faz uma afirmação dessa no mesmo momento em que a Ferrari se vê obrigada a censurar o piloto, fazendo-o cumprir uma carência, após treinos e corridas, para só então liberá-lo para a mídia.

A explicação da Ferrari: depois do que aconteceu em Nurburgring, Barrichello deve "esfriar a cabeça", como disse um membro da escuderia, antes de começar a falar. Em suma, um artifício para que o piloto evite falar bobagens.

Barrichello deve ter lá suas razões para esquentar a cabeça, mas nada justifica a postura adolescente que adota sempre quando enfrenta dificuldades.

Pior, o momento pode até ser de dificuldade, mas uma atitude séria e inteligente (ou adulta, como preferir), traria mais resultados.

Bussunda e a mídia podem ser cruéis com Barrichello. Mas o piloto é ainda mais cruel consigo mesmo ao se expor publicamente, levantando suspeitas e fazendo acusações, que poderiam até ser verdadeiras, mas que caem em descrédito logo em seguida por absoluta falta de argumentação.

Sem falar que, no dia em que tiver razão, Barrichello não a merecerá, pela insana repetição de justificativas a que se submete.

E sem falar também que, há alguns anos, em um GP Brasil, o piloto participou alegremente do mesmo "Casseta", sendo ridicularizado de ponta a ponta _medonho, o piloto e seu staff consideraram "saudável" o resultado do programa levado ao ar.

Acompanhando Barrichello todos esses anos, até certo ponto considerei esse tipo de atitude como ingenuidade. Depois, teimosia. Que o leitor classifique a postura do piloto agora, pois só vejo uma, nada elogiosa.

Pior, ao contrário do que acontece no Brasil, sua imagem na Europa é muito boa _está na capa da última "F1 Racing". Mas, se continuar se comportando dessa forma (boa parte dos mais de 300 jornalistas que acompanham a F-1 já sabem, a esta altura, o que significa "Pé de Chinelo"), seu futuro será ainda mais complicado.

*

Montoya deu um grande passo em sua carreira no último fim-de-semana. Alijado pela emissora que tinha os direitos da corrida no país, o público brasileiro perdeu uma corrida espetacular do colombiano, o primeiro estreante a vencer as 500 Milhas de Indianápolis desde o lendário Graham Hill, em 1966.

Liderou 167 das 200 voltas, o melhor desempenho desde 1987 (Mario Andretti, 170), o terceiro de toda a história _o recordista de todos os tempos é Al Unser, em 1970, com 190 voltas.

Montoya já está na Williams.



NOTAS

Lapso
Ao comentar suas chances de vitória em Mônaco, Schumacher foi excepcionalmente modesto: "Claro que espero uma dura batalha contra Hakkinen, mas, nesta pista, vários outros pilotos têm chance de vencer. Coulthard, Frentzen, Fisichella e meu irmão podem também sair vitoriosos." Schumacher esqueceu de alguém?

Lógica
Briatore descartou a contratação de Villeneuve para o próximo ano. Segundo o dirigente, a Benetton, antes de ter um piloto de ponta, precisa voltar a ser uma escuderia de ponta. O caminho continua livre para Antonio Pizzonia.

Indy x IRL
Se a participação da Ganassi nas 500 já parecia suficiente, Montoya pavimentou de vez o caminho para a reaproximação das duas categorias.




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mariante@uol.com.br



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