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Sábado, 10 de junho de 2000

Culto ao vivo

José Henrique Mariante
     
Diego Medina


Escrevi certa vez (e levei algumas pedradas por isso) que Gustavo Kuerten era postulante à vaga de herói deixada por Senna no imaginário do brasileiro.

Claro, boa parte dos disparos partiu de fãs incondicionais do tricampeão, que se transformou em uma espécie de oráculo, um sujeito a ser cultuado
convenientemente pelo que fez, como sempre acontece com os heróis modernos, fabricados ou não.

Passados alguns anos e com o tenista perto de se tornar o primeiro do mundo (mesmo que não passe, especialistas o apontam como a próxima grande estrela do circuito), a discussão já é outra.

Kuerten é o bom moço da hora, o único esportista que supera a cada vez mais complicada barreira imposta pelos direitos de TV, que, entre outras coisas, fez a Globo (tentar) ignorar, no início deste ano, o Mundial de Clubes da Fifa com o Corinthians campeão.

As razões, claro, não se encontram apenas na propalada simpatia do menino cabeludo, que fica entre o "sem jeito" e o "desencanado" nas entrevistas, tipo que alimenta sua popularidade.

Está também, é claro, nos interesses que envolvem cada esporte e que, ironicamente, fazem do tênis algo que se encaixa perfeitamente em um "Jornal Nacional", mas não na rígida grade de programação da emissora.

Um funcionário graduado da emissora disse, há alguns anos, que Kuerten nunca conseguiria o mesmo espaço que Senna, por mais torneios que ganhasse.

E a razão para isso é puramente comercial. Kuerten, por incrível que pareça, é notícia na Globo. Futebol e F-1 podem até ser notícia, mas antes de tudo são produtos, caros, aliás, da emissora.

Futebol dá muito ibope e muito dinheiro. F-1 às vezes dá ibope, mas dá dinheiro sempre _e, sem Senna, só esse fator mantém as transmissões da categoria.

A semelhança fundamental, porém, é que os dois esportes permitem à emissora total controle sob as transmissões. A F-1 tem um calendário definido e acontece, na maior parte das vezes, em horário mais do que conveniente.

O futebol, com final marcada para as 16h de um sábado, não merece maior comentário.

Ninguém consegue controlar o horário de um Grand Slam. Pior, ninguém consegue garantir a presença de Kuerten em uma final.

E, assim, Kuerten só é notícia, boa notícia muitas vezes, que merece destaque e tudo mais, mas que nunca será transmitida ao vivo _exceção feita a Olimpíada, outro evento que é produto.

Algo parecido já aconteceu com a NBA de Michael Jordan, que virou notícia, por força das circunstâncias, há alguns anos.

Para desespero dos senistas, Kuerten já é, faz tempo, o grande herói nacional do esporte _não é achismo, pesquisas dizem isso.

Mas os fiéis podem ficar tranquilos, pois o tenista não será anabolizado pela narração de Galvão Bueno muito menos merecerá tema da vitória, esse tipo de coisa que locupleta as grandes conquistas no bananal.

E se, ao contrário do que se prega hoje aqui, um dia Kuerten merecer esse carnaval e uma transmissão ao vivo, com certeza estará escrevendo a história.

Não apenas das quadras, mas de todo o esporte nacional.


NOTAS

Le Mans
A tradicional corrida, que acontece no próximo final de semana, na França, não deverá sentir a ausência de algumas grandes montadoras européias. Nada menos que três marcas dos EUA estarão na corrida: Chrysler, Chevrolet e Caddilac, que volta às 24 Horas após um intervalo de 50 anos. A Audi é favorita: seja por ter feito um enorme investimento na prova, seja por seus três carros terem obtido os três melhores tempos nas sessões de qualificação.

F-1
Barrichello segurou a língua em Mônaco e, por incrível que pareça, recebeu críticas daqueles que consideravam que deveria aproveitar o segundo lugar para descascar seus detratores. O piloto não fez muito no principado, mas fez o certo. Dentro e fora da pista. Que continue assim pelo resto da temporada.




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