Durante
a Copa dos EUA, em 1994, Luis Fernando Veríssimo escreveu
um artigo interessante em que descrevia os jogadores brasileiros
em campo como verdadeiros canadenses.
Todos
se lembram, o time de Parreira avançava no torneio
e chegaria ao título com um futebol sem brilho, mas
muito eficaz. Na visão de Veríssimo, basicamente
"neutro", algo que nos acostumamos a verificar como
qualidade tipicamente canadense.
Um
time canadense, de fato, soa como algo neutro. O curioso,
porém, é que quem pisa no Canadá uma
vez na vida guarda, quase sempre, uma idéia diferente.
Montreal,
por exemplo, consegue promover uma das mais divertidas corridas
do calendário. Nem tanto pelo circuito, mas pela atmosfera
que cerca o GP.
A
pista fica em um parque belíssimo, numa ilha, que herdou
as instalações do remo erguidas para os Jogos
Olímpicos de 1976.
Como
é um circuito temporário, boa parte das arquibancadas
são tubulares, semelhantes às de Interlagos.
Mas a diferença fica por conta do espaço, amplo
e verde, que permite ao cidadão circular livremente
por verdadeiros bosques, fazer piquenique, comprar bobagens,
tomar cerveja, enfim, se divertir. O público chega
ao local de metrô. E os únicos carros que alcançam
a ilha são os de serviço e os credenciados.
Enfim,
o público, que é simpático e gosta de
F-1, é bem tratado.
Invertendo
a comparação de Veríssimo na Copa, os
canadenses parecem brasileiros _ou, melhor dizendo, a imagem
idílica que carregamos pelo mundo.
Enquanto
isso, os milhares que comparecem a Interlagos todos os anos
são obrigados a serem neutros, impassíveis diante
das filas ciclópicas, dos sanitários e lanchonetes
precários, do aperto das arquibancadas e dos preços
exorbitantes pagos para suportar esse verdadeiro flagelo em
troca de duas boas horas de corrida.
Interlagos
sintetiza São Paulo e a horrível paisagem em
que a cidade se transformou, a estupidez imobiliária,
a incompetência lucrativa do poder público, a
burrice coletiva de seus habitantes.
Montreal
mostra que um evento decente não precisa de mundos
e fundos, apenas inteligência nos gastos e respeito
ao público.
Interlagos
também poderia ser um belo parque, de utilidade pública
e privada durante 365 dias por ano. No lugar de construir
conjuntos habitacionais inumanos nas cercanias, estender seus
domínios, criar os chamados espaços de admissão
geral, a preços populares, aumentar a arrecadação,
baixar os preços, trazer as filas das ruas para alamedas
internas, enfim, criar espaço para as pessoas respirarem
e se divertirem como legítimos canadenses.
Não
é difícil.
*
No circuito que leva o nome de seu pai, Villeneuve voltou
a liderar a boataria da F-1 com especulações
que vão desde uma permanência milionária
na BAR (leia-se Honda) até a uma mítica vaga
futura na Ferrari (com o alemão se aposentando), passando
pelo já surrado convite da Benetton.
Nem a sisuda "Autosport" inglesa escapou _o título
da última capa é "O único piloto
que Schumacher teme".
NOTAS
Le
Mans
Como já indicavam as sessões de qualificação,
a Audi colocou seus três R8 na frente no grid de largada
das 24 Horas de Le Mans. As TVs brasileiras vão ignorar
o evento, mas o aficionado poderá acompanhar a prova,
que começa hoje, às 11h (de Brasília),
pela Internet. A General Motors, que tem dois Corvettes e
dois Caddilacs na corrida, promete inovar, disponibilizando
até dados de telemetria enviados dos carros na pista,
imagens de bordo (até com visão noturna _infravermelho),
som do motor, narração dos pilotos etc. O endereço:
www.gm.com.
F-3000
Haberfeld volta a pilotar um carro da categoria desde seu
sério acidente em Barcelona, na próxima semana,
durante testes em Zeltweg. Se for bem, volta ao campeonato
em Magny-Cours, dia 1º de julho.
E-mail: mariante@uol.com.br
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