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Michael Schumacher


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Sábado, 14 de outubro de 2000

Paraíso vermelho

José Henrique Mariante
     

Diego Medina

Acabou o jejum ferrarista. Michael Schumacher entrou para o seleto grupo de tricampeões mundiais da F-1 e já almeja alcançar Alain Prost, dono de quatro títulos, e, quem sabe, Juan Manuel Fangio, o melhor de todos os tempos, pentacampeão mundial.

E o que sobrou para Rubens Barrichello ou, em outras palavras, para o bananal? Os elogios de Jean Todt e a promessa, feita por Luca Montezemolo, de que será o vencedor na Malásia para fechar o ano com chave de ouro e com o título de construtores.

Fosse Barrichello de fato um jovem promissor, com todo um futuro pela frente, o público de fato não teria do que reclamar. Barrichello estaria cumprindo o velho papel de aprendiz, de quem está esperando sua hora chegar. Aliás, é assim que os dirigentes ferraristas e Schumacher o tratam dentro da escuderia.

Barrichello também gosta do papel e faz força, nas entrevistas, para dizer que está tudo bem e que está pronto para confirmar as expectativas assim que a oportunidade surgir.

O único problema é que Barrichello já não é mais um garoto, uma novidade na categoria. Está, na verdade, no meio do caminho entre um Button e um Herbert. Para quem gosta de entender as coisas por meio de imagens, está até perdendo os cabelos.

O futuro de Barrichello tem alicerces frágeis. Seu companheiro de equipe é, em poucas palavras, a equipe, e esse estado de coisas não deve se alterar depois que a receita finalmente deu certo.

A saída, se existir, é mostrar ainda mais trabalho e acabar indo para a concorrência, onde o cenário não é menos espinhoso _com mais uma temporada, quem sabe, sobre uma ou duas vagas, com a desvantagem de que o carro bom, agora, é o vermelho.

Enfim, Barrichello está no paraíso, mas sem a mínima chance de morder a maçã.

*
Schumacher conseguiu seu campeonato limpo. Por demais asséptico até. Lembrou os Jogos de Sydney, os melhores de todos os tempos, onde tudo funcionou perfeitamente, sem grandes problemas ou polêmicas, mas com gosto de faltou alguma coisa.

Não me refiro ao decantado ouro, que só serviria para ludibriar por mais quatro anos a ausência de uma política de esportes.

Em algumas modalidades faltou mesmo competição, como foi o caso do atletismo. Fala-se até que a grande ausência foi o doping, combatido de forma inédita, situação que teria afastado estrelas e sonegado surpresas.

No caso da F-1, no entanto, a falta de uma polêmica, quase sempre promovida pela disputa dos pilotos na pista, levou a decisão para os boxes. Schumacher foi campeão ultrapassando Hakkinen nos boxes. A Ferrari deu fim ao jejum histórico, de certo modo, graças àqueles seis segundos nos boxes, um fantástico pit stop.

Faltou alguma coisa. Algo que italianos, alemães e a enorme população ferrarista deste planeta que adora veículos de motor a explosão não vai sentir falta. Mas que o resto do mundo, muitos de nós inclusive, reconheceu a importância para logo esquecer.

Schumacher ainda não entrou para a história pela porta da frente. Já fugiu dos fundos, mas continua usando a porta do lado.

Notas

Antes tarde...
Gil de Ferran pode se tornar na próxima madrugada o primeiro brasileiro a conquistar um título de ponta do automobilismo desde Ayrton Senna. A missão é difícil (vitória mais ponto extra para não depender de ninguém), mas longe de ser impossível. Dizem que está se dando muito bem com Roger Penske, e que este festeja o fato de finalmente ter um piloto de verdade no time. Após tantas vitórias e poles nesta temporada, a fama de azarado já foi quase esquecida. E se Gil tiver algo a lamentar no final do ano, será o fato de a sua categoria merecer um tratamento medonho em seu próprio país. E isso vale tanto para a TV como para alguns que mandamos para Miami.

...do que nunca
Jacques Villeneuve resolveu fazer parte da GPDA, a associação de pilotos capitaneada por Michael Schumacher. Alegou que precisa participar das decisões do sindicato para poder defender seus interessantes, alguns peculiares em se tratando de F-1. Desafeto confesso do canadense, o mais novo tricampeão desceu a lenha no rival de 1997, elogiando Hakkinen, "alguém que sabe ser um adversário de verdade".


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