Causou
furor, há alguns anos, uma reportagem da revista "Time"
sobre bebês. Em poucas palavras, afirmava que várias
ligações nervosas do cérebro estão
em plena formação durante os primeiros anos
de vida, tornando os mesmos vitais para a formação
física e psicológica do indivíduo, ou
algo assim.
Dessa
conclusão derivaram-se outras, algumas sérias,
como
o fato de uma criança mal
estimulada ou maltratada na infância ter enormes chances
de se tornar um adulto criminoso, outras controversas, como
a de que uma criança de dois anos irá aprender
uma língua estrangeira mais facilmente que uma mais
velha.
A
partir disso, elaborei certa vez uma tese estapafúrdia,
a de que um piloto de F-1, se não devidamente estimulado
em seu início de carreira, tenderia a perecer, se tornar
um pária no grid.
Óbvio,
não há o mínimo fundamento científico
em tal teoria, apenas a conveniência de explicar alguma
coisa com outra.
Lembro
que, à época, meu grande exemplo era Schumacher
e, contra-exemplo, Frentzen, dois pilotos que surgiram juntos,
do mesmo ambiente, das mesmas categorias de base.
O
primeiro era bicampeão, o segundo, típico frequentador
de segundo pelotão, que ganhava a condescendência
da mídia mais pela sua solicitude e simpatia do que
pelo talento na pista.
No
final das contas, abandonei a tese e esqueci do assunto.
Há
alguns dias, porém, um experiente piloto brasileiro
me escreveu para descrever sua tese pessoal sobre Barrichello.
Segundo ele, o atual ferrarista passou muitos anos a bordo
de carros ruins, o que, ao contrário do que diz o senso
comum, não o obrigavam a andar no limite _afinal, por
que arriscar o pescoço para chegar em 11º e não
em 13º?
Agora,
em um dos melhores carros do grid, andar no limite seria uma
obrigação para o piloto, já que a concorrência
é muito mais forte. Anos de, digamos, letargia teriam
que ser apagados.
A
tese se completa com a constatação de que Barrichello
tem ou terá plenas condições de se adaptar
à nova situação rapidamente, bastando
somente um pouco mais de tranquilidade nas próximas
corridas.
Imediatamente
me lembrei de minha teoria dos bebês, indagando se tanto
tempo de filas intermediárias não havia calcificado
a habilidade do piloto brasileiro.
Apenas
Barrichello pode responder essa pergunta, e tem mais uma dezena
de corridas para comprovar a boa forma que o levou meteoricamente
à F-1.
E,
sobre meteoros, eles surgem aos montes na categoria. Poucos,
no entanto, se firmam. Jenson Button, o novo garoto-sensação
dos ingleses, é o mais recente exemplar da espécie.
De novo, o tempo dará a resposta.
Montoya
é outro, e a diferença dele para o resto da
Indy está no que faz na pista. Ano passado, com o melhor
carro do grid, foi campeão inconteste. Neste, pena
com um equipamento nitidamente inferior, mas fazendo pole
e liderando corridas.
Barrichello,
por diversas razões, perdeu sua primeira chance, claro,
sempre a mais viável.
Ganhou
outra agora, mas dificilmente terá uma terceira.
NOTAS
Prudência
A Ferrari decidiu ontem não utilizar a nova evolução
do 049 em corrida. O propulsor continuará restrito
a classificações, o que, em contraste com a
evolução demonstrada pela McLaren nas últimas
provas, denuncia uma certa falta de confiança no time.
Aposentadoria
Como a boataria cresceu, Hakkinen foi obrigado a desmentir
que estaria pensando em pendurar o capacete no final do ano.
Nos bastidores, o finlandês está recebendo uma
proposta por semana. E não de uma única escuderia.
Previsão
Ensaio da TV alemã para cerimônia do pódio
realizado em Nurburgring mostra a expectativa local para a
temporada: hasteadas, pela ordem, bandeiras de Alemanha, Reino
Unido e Finlândia.
E-mail: mariante@uol.com.br
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