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Segunda-Feira, 23 de outubro de 2000

Momento especial

Cida Santos
     

Diego Medina

O Campeonato Paulista entra na fase decisiva e começa a esquentar. No Suzano, time que luta pelo oitavo título estadual, um jogador vive um momento especial: Marcelo Negrão. Em busca do tempo perdido, ele segue um programa de recuperação. O objetivo é que esteja em plena forma na Superliga.

Os números são reveladores. Há três meses, Negrão chegou ao Suzano com 100 quilos. Não tinha gordura, mas massa muscular. "Estava muito forte para um jogador de vôlei", diz o atleta. No clube, a preparação mudou e o peso caiu para 93 quilos: "Estou mais leve, ágil e subo para atacar com mais facilidade".

Nas últimas temporadas, quem o via atacar, também logo percebia o braço um tanto encolhido. Com uma sessão semanal obrigatória no Suzano de RPG (método fisioterápico de reeducação postural global), o braço já está mais estendido e, com isso, seu ataque voltou a ganhar mais potência.

Esses progressos animam o jogador, titular do Suzano, e a comissão técnica do time. Nos últimos três anos, Negrão passou por um inferno astral. Teve problemas de contusões, sofreu com a falta de preparação física adequada, mas sobretudo foi um período de depressão e com o prazer de jogar perdido.

Os problemas do jogador começaram em 97, quando o então técnico da seleção brasileira, Radamés Lattari, queria que ele deixasse de ser oposto e atuasse como ponteiro. Negrão, com um histórico de vitórias na sua posição, não gostou e nem se adaptou com a mudança. Sem saída, acabou pedindo dispensa.

O episódio criou turbulências no relacionamento entre o atleta e Lattari. Na época, com 24 anos, Negrão não entendia porque não podia lutar por uma vaga na seleção na sua posição. Uma questão difícil mesmo de ser entendida até hoje.

Magoado, o menino prodígio do vôlei brasileiro, que havia sido campeão olímpico aos 19 anos, pensou até em parar de jogar. Não parou, mas fez um percurso de quem tinha perdido a vontade de jogar: engordou, na temporada seguinte quebrou o pé, depois deixou o Brasil e foi jogar na Itália.

Chegou a ser novamente convocado para a seleção, talvez até por pressão da imprensa, mas já não apresentava a mesma forma de outras épocas. Além de tudo, havia outro problema: ele não estava nos planos de Lattari.

O certo é que nesta temporada Negrão resolveu trabalhar para tirar as marcas deixadas por esses três anos complicados da sua carreira. Acertou contrato com o time de Ricardo Navajas, técnico com fama de exigir muito de seus atletas e de fazer eles renderem o máximo em quadra.

Além dos progressos físicos e técnicos nos treinos e nos jogos, os maiores sinais que a escolha foi correta são que Negrão recuperou o prazer de jogar e voltou a ter metas: quer retornar à seleção.

O bom desta história é que ela caminha, pelo que tudo indica, para um final feliz. Mas ela também mostra como se podem perder grandes talentos e como se trabalha e se percebe pouco, nos clubes e seleções, a interferência do lado emocional no desempenho dos atletas.


NOTAS:

Tragédia russa

*Os russos Roman Iakovlev e Serguei Tetioukhine, vice-campeões olímpicos em Sydney, sofreram um acidente de carro na Itália. Iakovlev, 24, fraturou a mandíbula e deve ficar três meses longe das quadras. O caso de Tetioukhine, 25, é mais sério: fraturou o cotovelo e a bacia. Segundo informações divulgadas pela imprensa italiana, ele corre até o risco de não voltar a jogar. Os dois fizeram parte do time titular da Rússia na última Olimpíada e atuam em clubes da Itália.

Italiano

*O Modena, da brasileira Ana Flávia, estreou com derrota no Campeonato Italiano. Atual campeão do torneio, o time perdeu para o Vicenza por 3 sets a 2 no último sábado. Já o Macerata, do atacante Nalbert, venceu o Taranto por 3 sets a 1 na primeira rodada da competição. O Macerata, reforçado pelo iugoslavo Ivan Miljkovic, campeão olímpico em Sydney, é um dos candidatos ao título.



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