Diego
Medina
|
|
A
entrada no ringue de Oscar de la Hoya, no sábado, foi
acompanhada por uma canção do CD que o norte-americano acaba
de gravar, com músicas em inglês e castelhano. No Staples
Center, percebia-se que as torcedoras traziam nas mãos o álbum
de fotos do ‘‘Garoto de Ouro’’ e não o programa oficial da
apresentação.
E, como se quisesse mostrar que está antenado com o mundo
do entretenimento, De la Hoya, desgostoso com a decisão dividida
em favor de Shane Mosley (dois jurados deram a vitória ao
rival enquanto um terceiro optou por De la Hoya), invocou
até o argumento do seriado ‘‘Arquivo X’’ para explicar sua
derrota, durante entrevista coletiva.
O resultado teria sido fruto de uma conspiração perpetrada
por indivíduos não-identificados. ‘‘O boxe é um negócio. Interessaria
a muita gente que eu perdesse, assim poderia haver uma revanche,
com mais dinheiro em jogo. Creio que também foi o caso contra
Félix Trinidad (que venceu De la Hoya, por pontos
em decisão polêmica, em 99)’’, acusou, sem, no entanto, nomear
os que estariam envolvidos em tal conspiração.
A
seguir, o galã De la Hoya ameaçou se aposentar. ‘‘Acho que
nunca mais vou vencer um combate apertado. Se não queriam
me dar a vitória, que concedessem o empate, assim foi demais.
Vou rever as minhas opções, incluindo a aposentadoria.
’’
Mas em qual outra profissão De la Hoya receberia US$ 8
milhões (mais porcentagem do pay-per-view) por um dia de trabalho?
O mais provável é que De la Hoya retorne aos ringues para
uma revanche, em novembro, seguindo os planos de Bob Arum,
presidente da Top Rank, empresa que promove suas apresentações.
Na contagem desta coluna, De la Hoya teria vencido Mosley
por um ponto, mas não há criticas para a decisão em favor
de Mosley. Na verdade, o combate foi bastante parelho
e a tarefa dos jurados dificílima (daí a decisão ter sido
dividida): não houve unanimidade da parte dos jurados em cinco
dos 12 assaltos disputados.
Próximo
ao ringue, percebia-se, até sonoramente, que os golpes
de De la Hoya levavam mais força do que os de Mosley. O desafiante
despejava uma quantidade maior de socos, mas os contragolpes
de De la Hoya, ao final das combinações do rival,
anulavam a vantagem de Mosley.
A partir da metade da luta, no entanto, a história mudou.
De la Hoya sentiu o cansaço, passando a acertar menos golpes.
E, a partir dessa etapa, Mosley, a exemplo do que fazia ‘‘Sugar’’
Ray Leonard, inteligentemente adotou a tática de ‘‘roubar’’
os assaltos, acelerando suas atividades ao ser avisado de
que faltavam poucos segundos para os intervalos.
Outra deficiência de De la Hoya foi não ter demonstrado
criatividade, limitando-se a só caminhar em linha reta desferindo
golpes. ‘‘Para que iria boxear se não me dariam a decisão?’’
Não é bem assim. Foi simplesmente um combate muito equilibrado,
até agora a melhor luta do ano, com a vantagem alternando
entre os pugilistas. Ao contrário do que ocorre no seriado
‘‘Arquivo X’’, De la Hoya não necessita recorrer a agentes
federais para explicar sua derrota.
NOTAS
Ontem
Shane Mosley concordou ao ser questionado sobre a similaridade
do combate de sábado com aquele disputado entre Júlio
César Chávez (o latino pegador) e Meldrick Taylor
(o norte-americano boxeador), em 1990, com vitória
para o mexicano. Você está certo,
em termos. Foram lutas semelhantes, mas houve uma troca de
golpes mais franca em nosso combate, disse o novo
campeão. A principal diferença, entretanto,
foi o final feliz para o lutador mais técnico desta
vez.
Amanhã
Lou Savarese faz juz à condição
de azarão na proporção de 20 para 1 no
combate de amanhã com o ex-campeão mundial dos
pesos-pesados Mike Tyson, na Escócia. Savarese estava
aposentado quando foi convidado para enfrentar Tyson.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
Leia
mais:
Leia
as colunas anteriores:
|