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"Sugar" Shane Mosley


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Sexta-feira, 23 de junho de 2000

Arquivo X

Eduardo Ohata
     
Diego Medina


A entrada no ringue de Oscar de la Hoya, no sábado, foi acompanhada por uma canção do CD que o norte-americano acaba de gravar, com músicas em inglês e castelhano. No Staples Center, percebia-se que as torcedoras traziam nas mãos o álbum de fotos do ‘‘Garoto de Ouro’’ e não o programa oficial da apresentação.
E, como se quisesse mostrar que está antenado com o mundo do entretenimento, De la Hoya, desgostoso com a decisão dividida em favor de Shane Mosley (dois jurados deram a vitória ao rival enquanto um terceiro optou por De la Hoya), invocou até o argumento do seriado ‘‘Arquivo X’’ para explicar sua derrota, durante entrevista coletiva.
O resultado teria sido fruto de uma conspiração perpetrada por indivíduos não-identificados. ‘‘O boxe é um negócio. Interessaria a muita gente que eu perdesse, assim poderia haver uma revanche, com mais dinheiro em jogo. Creio que também foi o caso contra Félix Trinidad (que venceu De la Hoya, por pontos em decisão polêmica, em 99)’’, acusou, sem, no entanto, nomear os que estariam envolvidos em tal conspiração.
A seguir, o galã De la Hoya ameaçou se aposentar. ‘‘Acho que nunca mais vou vencer um combate apertado. Se não queriam me dar a vitória, que concedessem o empate, assim foi demais. Vou rever as minhas opções, incluindo a aposentadoria.
’’ Mas em qual outra profissão De la Hoya receberia US$ 8 milhões (mais porcentagem do pay-per-view) por um dia de trabalho? O mais provável é que De la Hoya retorne aos ringues para uma revanche, em novembro, seguindo os planos de Bob Arum, presidente da Top Rank, empresa que promove suas apresentações.
Na contagem desta coluna, De la Hoya teria vencido Mosley por um ponto, mas não há criticas para a decisão em favor de Mosley. Na verdade, o combate foi bastante parelho e a tarefa dos jurados dificílima (daí a decisão ter sido dividida): não houve unanimidade da parte dos jurados em cinco dos 12 assaltos disputados.
Próximo ao ringue, percebia-se, até sonoramente, que os golpes de De la Hoya levavam mais força do que os de Mosley. O desafiante despejava uma quantidade maior de socos, mas os contragolpes de De la Hoya, ao final das combinações do rival, anulavam a vantagem de Mosley.
A partir da metade da luta, no entanto, a história mudou. De la Hoya sentiu o cansaço, passando a acertar menos golpes. E, a partir dessa etapa, Mosley, a exemplo do que fazia ‘‘Sugar’’ Ray Leonard, inteligentemente adotou a tática de ‘‘roubar’’ os assaltos, acelerando suas atividades ao ser avisado de que faltavam poucos segundos para os intervalos.
Outra deficiência de De la Hoya foi não ter demonstrado criatividade, limitando-se a só caminhar em linha reta desferindo golpes. ‘‘Para que iria boxear se não me dariam a decisão?’’
Não é bem assim. Foi simplesmente um combate muito equilibrado, até agora a melhor luta do ano, com a vantagem alternando entre os pugilistas. Ao contrário do que ocorre no seriado ‘‘Arquivo X’’, De la Hoya não necessita recorrer a agentes federais para explicar sua derrota.


NOTAS

Ontem
Shane Mosley concordou ao ser questionado sobre a similaridade do combate de sábado com aquele disputado entre Júlio César Chávez (o latino pegador) e Meldrick Taylor (o norte-americano boxeador), em 1990, com vitória para o mexicano. ‘‘Você está certo, em termos. Foram lutas semelhantes, mas houve uma troca de golpes mais franca em nosso combate’’, disse o novo campeão. A principal diferença, entretanto, foi o final feliz para o lutador mais técnico desta vez.

Amanhã
Lou Savarese faz juz à condição de azarão na proporção de 20 para 1 no combate de amanhã com o ex-campeão mundial dos pesos-pesados Mike Tyson, na Escócia. Savarese estava aposentado quando foi convidado para enfrentar Tyson.



E-mail: eohata@folhasp.com.br


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