Diego
Medina
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O assunto da semana no mundo do boxe é o fato de Evander Holyfield
ter amanhã a chance de ser o primeiro tetracampeão dos pesados.
Um feito inédito, histórico, que no passado foi tentado por
Muhammad Ali.
Mas agora é hora de pôr o provável feito de Holyfield em perspectiva.
Qual seria o valor de um cinturão obtido à custa de uma vitória
sobre (o desconhecido) John Ruiz, que ascendeu nos rankings
mundiais mais pelo trabalho de bastidores do polêmico Don
King do que por mérito?
Aliás, Ruinz, ooops, Ruiz, não é tão desconhecido assim. O
nocaute sofrido por ele em só 19 segundos para David Tua foi
um dos mais brutais nos últimos tempos.
Depois da derrota para Tua, Ruiz ‘‘redimiu-se’’ com vitórias
sobre desconhecidos e sobre o ex-campeão Tony Tucker, que
aposentou-se logo depois. Para a Associação Mundial de Boxe,
foi o bastante para posicioná-lo em primeiro do ranking mundial.
Pior, o cinturão pelo qual estarão lutando foi tomado no tapetão
de Lennox Lewis. Tudo porque o britânico preferiu enfrentar
antes Michael Grant (que tinha currículo superior ao de Ruiz,
com vítimas como Andrew Golota, Obed Sullivan e Lou Savarese).
Tudo bem, Ruiz era o desafiante oficial. Mas como Lewis já
havia concordado em dar a ele uma chance (após Grant), custava
a AMB, ou quem quer que estivesse por trás da destituição,
ter tido um pouquinho de paciência?
E é bom lembrar que Holyfield teve duas chances para tomar
o cinturão do inglês, mas não o fez (empatou o primeiro combate
e perdeu por pontos na revanche).
Para mostrar que o ponto de vista desta coluna é compartilhado
por muitos, Lewis foi apresen tado como o ‘‘verdadeiro e
indiscutível campeão dos pesos-pesados’’ antes de sua última
defesa.
Mas não são só as circunstâncias que levaram à luta Holyfield-Ruiz
que desvalorizam a possível e provável conquista de Holyfield.
É só considerar que, à época que Floyd Patterson tornou-se
o primeiro bicampeão da categoria, havia só uma versão do
título.
Quando Ali conquistou o tricampeonato, já havia duas (AMB
e Conselho Mundial de Boxe). Agora, Holyfield é beneficiado
por contar com três frações (AMB, CMB e Federação Internacional
de Boxe).
Ou quatro, se a Organização Mundial de Boxe for considerada.
Ou infinitas, se ganharem credibilidade a Associação Internacional
de Boxe, Federação Mundial de Boxe, Organização Internacional
de Boxe, Associação Nacional de Boxe etc.
Do ponto de vista histórico, porém, caso vença, Holyfield
será de fato considerado o primeiro tetracampeão, e ninguém
poderá fazer nada a respeito. Mas isso não vai alterar em
nada seu status atual junto à comunidade pugilística.
Falando francamente, Holyfield não precisa disso. Basta ver
quem bateu (para ler seu cartel profissional completo, basta
ir à página desta coluna na Internet, para saber que Holyfield
é um futuro membro do Hall da Fama.
O título de papel que pode ganhar amanhã não significa muito,
se comparado a tudo que já realizou. Pior, o coloca, pela
primeira vez, no papel de vilão.
NOTAS
Brasil 1
Com o desinteresse, ou medo, de vários rivais em potencial
de enfrentar Acelino Freitas, o Popó, os interessados em sua
carreira sondam agora o ex-campeão dos penas Goyo Vargas para
sua próxima luta. Na preliminar, Harry Simon defende o título
dos médios-ligeiros da Organização Mundial de Boxe.
Brasil 2
O leve Edson do Nascimento e o cruzador Rogério Lobo, que
assinaram contrato com Don King, viajam no próximo mês para
Miami, onde passam a morar e treinar.
Brasil 3
O galo Alexandre Silva tenta o título latino pela OMB, vago,
em 1º de setembro.
Brasil 4
No dia 18, Marcos Duarte tem revanche com o ex-campeão dos
médios Jorge Castro.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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