Diego
Medina
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Todos estão acostumados com o fato de, nas chamadas da TV
para os Jogos Olímpicos, o boxe ser representado por um tipo
forte, a la Schwarzenegger, com músculos exagerados à mostra.
É um estereótipo errado, ao menos no que se refere ao boxe
amador.
Na Olimpíada, diferentemente do que ocorre no profissionalismo,
em que domina a força, valem principalmente velocidade e precisão
(para identificar melhor os golpes, a parte da frente da luva
é pintada de branco).
Cada toque vale um ponto, não importa a força, ou falta de,
com que é desferido. Aliás, um golpe preciso leva o mesmo
valor de uma queda imposta a um adversário. A duração dos
combates, breve (oito minutos de ação), também desfavorece
pegadores.
As inovações que serão adotadas nos Jogos de Sydney acentuarão
a diferença entre amadorismo e profissionalismo, que seriam
praticamente esportes distintos.
Em Atlanta-96, ainda eram três assaltos de três minutos cada
um. Agora, em Sydney, serão quatro assaltos, com dois minutos
cada um. Ou seja, quando o pegador estiver começando a encontrar
a distância que melhor lhe convém, o assalto estará terminado.
O fato de a partir de Barcelona-92 ter sido adotada a contagem
eletrônica, em substituição à contagem subjetiva dos jurados,
foi outro modo de desvalorizar a potência (é claro, às vezes
o pegador tem seu dia, vide David Reid, que garantiu o único
ouro dos EUA em 1996 com um nocaute nos últimos segundos do
combate).
Mas o uso das polêmicas ma quininhas ainda gera controvérsia.
Como três dos cinco jurados têm de apertar um botão em seus
mouses quase simultaneamente ao perceber que um golpe foi
acer tado, eles têm de contar com excelente reflexo, como
um garoto que passa horas jogando videogame.
Para citar um exemplo, em Barcelona, o jurado ganês Keith
Dadzie foi suspenso por não ter sido capaz de registrar nenhum
golpe. No amadorismo, por uma questão estratégica, também
é importante permanecer no meio do tablado, onde todos os
jurados têm uma melhor visão dos golpes.
Não só as regras, como também as ‘‘peças’’, têm suas particularidades
no amadorismo, que favorece atletas altos, com braços longos,
que têm melhores condições de lançar socos retos, claros.
Em termos de vestimentas, a distinção é o capacete protetor
(usado por amadores), cuja eficiência em evitar danos no cérebro
é questionada, pois, evitando o nocaute rápido, submete os
lutadores a um castigo prolongado.
Dois exemplos na vida prática ilustram bem a diferença entre
amadorismo e profissionalismo.
O norte-americano Howard Davis Jr. (veloz, mas sem a menor
pegada) é considerado até hoje um dos grandes pela escola
amadora cubana, entretanto não chegou ao título como profissional.
Mas a recíproca também é verdadeira. O demolidor Mike Tyson
perdeu nas seletivas olímpicas a chance de ir a Los Angeles-84,
mas no profissionalismo... Bem, todos já sabem o que aconteceu.
Alguns dizem que (guardadas as devidas proporções) a diferença
entre o boxe amador e o profissional seria como aquela entre
o jogo de damas e o xadrez, em que apenas o tabuleiro é o
mesmo.
NOTAS
Brasil 1
Adilson Rodrigues, o Maguila, 42, está aposentado. Pelo menos
é o que o peso-pesado afirma a esta coluna. ‘‘Gostaria de
uma revanche com Daniel Frank, mas minha mulher e filhos dizem
para parar.
É, está decidido, chegou a hora de pendurar as luvas.’’ No
dia 7, Adenílson Lima Santos (96 kg), filho do boxeador, faz
sua estréia internacional em Chicago, nos EUA.
Brasil 2
Com o desinteresse dos ex-campeões Goyo Vargas e Roberto Garcia
em enfrentar Acelino Freitas, o Popó, os promotores do baiano
apelam agora para os norte-americanos Carlos Hernandez e Fred
Neal, para o cubano Ramón Ledon e para o ex-campeão Alejandro
Gonzalez.
Também voltam a oferecer chance ao peso-pena Angel Vazquez,
além de terem até cogitado argentinos.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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