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Sexta-feira, 25 de agosto de 2000

Xadrez e damas

Eduardo Ohata
     
Diego Medina


Todos estão acostumados com o fato de, nas chamadas da TV para os Jogos Olímpicos, o boxe ser representado por um tipo forte, a la Schwarzenegger, com músculos exagerados à mostra. É um estereótipo errado, ao menos no que se refere ao boxe amador.
Na Olimpíada, diferentemente do que ocorre no profissionalismo, em que domina a força, valem principalmente velocidade e precisão (para identificar melhor os golpes, a parte da frente da luva é pintada de branco).
Cada toque vale um ponto, não importa a força, ou falta de, com que é desferido. Aliás, um golpe preciso leva o mesmo valor de uma queda imposta a um adversário. A duração dos combates, breve (oito minutos de ação), também desfavorece pegadores.
As inovações que serão adotadas nos Jogos de Sydney acentuarão a diferença entre amadorismo e profissionalismo, que seriam praticamente esportes distintos.
Em Atlanta-96, ainda eram três assaltos de três minutos cada um. Agora, em Sydney, serão quatro assaltos, com dois minutos cada um. Ou seja, quando o pegador estiver começando a encontrar a distância que melhor lhe convém, o assalto estará terminado.
O fato de a partir de Barcelona-92 ter sido adotada a contagem eletrônica, em substituição à contagem subjetiva dos jurados, foi outro modo de desvalorizar a potência (é claro, às vezes o pegador tem seu dia, vide David Reid, que garantiu o único ouro dos EUA em 1996 com um nocaute nos últimos segundos do combate).
Mas o uso das polêmicas ma­ quininhas ainda gera controvérsia. Como três dos cinco jurados têm de apertar um botão em seus mouses quase simultaneamente ao perceber que um golpe foi acer­ tado, eles têm de contar com excelente reflexo, como um garoto que passa horas jogando videogame.
Para citar um exemplo, em Barcelona, o jurado ganês Keith Dadzie foi suspenso por não ter sido capaz de registrar nenhum golpe. No amadorismo, por uma questão estratégica, também é importante permanecer no meio do tablado, onde todos os jurados têm uma melhor visão dos golpes.
Não só as regras, como também as ‘‘peças’’, têm suas particularidades no amadorismo, que favorece atletas altos, com braços longos, que têm melhores condições de lançar socos retos, claros.
Em termos de vestimentas, a distinção é o capacete protetor (usado por amadores), cuja eficiência em evitar danos no cérebro é questionada, pois, evitando o nocaute rápido, submete os lutadores a um castigo prolongado.
Dois exemplos na vida prática ilustram bem a diferença entre amadorismo e profissionalismo.
O norte-americano Howard Davis Jr. (veloz, mas sem a menor pegada) é considerado até hoje um dos grandes pela escola amadora cubana, entretanto não chegou ao título como profissional.
Mas a recíproca também é verdadeira. O demolidor Mike Tyson perdeu nas seletivas olímpicas a chance de ir a Los Angeles-84, mas no profissionalismo... Bem, todos já sabem o que aconteceu.
Alguns dizem que (guardadas as devidas proporções) a diferença entre o boxe amador e o profissional seria como aquela entre o jogo de damas e o xadrez, em que apenas o tabuleiro é o mesmo.


NOTAS

Brasil 1
Adilson Rodrigues, o Maguila, 42, está aposentado. Pelo menos é o que o peso-pesado afirma a esta coluna. ‘‘Gostaria de uma revanche com Daniel Frank, mas minha mulher e filhos dizem para parar.
É, está decidido, chegou a hora de pendurar as luvas.’’ No dia 7, Adenílson Lima Santos (96 kg), filho do boxeador, faz sua estréia internacional em Chicago, nos EUA.

Brasil 2
Com o desinteresse dos ex-campeões Goyo Vargas e Roberto Garcia em enfrentar Acelino Freitas, o Popó, os promotores do baiano apelam agora para os norte-americanos Carlos Hernandez e Fred Neal, para o cubano Ramón Ledon e para o ex-campeão Alejandro Gonzalez.
Também voltam a oferecer chance ao peso-pena Angel Vazquez, além de terem até cogitado argentinos.




E-mail: eohata@folhasp.com.br


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