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Sexta-feira, 3 de novembro de 2000

Depoimento de um ex-toxicômano

Eduardo Ohata
     

Diego Medina

''Por que fiz isso? Porque sou humano, tenho sentimentos como todo mundo'', respondeu o tricampeão mundial de boxe Alexis Arguello, quando o questionei sobre o fato de ele recentemente ter se envolvido com as drogas.

Diversos dos pugilistas que usam drogas costumam aparecer em manchetes policiais. Mas em entrevista à revista ''The Ring'' (a mais tradicional do gênero), há alguns anos, o promotor de lutas Bob Arum afirmou que metade dos nomes da elite do pugilismo (até alguns dos mais insuspeitos) seriam usuários de drogas.

Os casos são inúmeros e todos os promotores já perderam boxeadores por causa disso.

Os norte-americanos ex-campeões mundiais e medalhistas olímpicos Pernell Whitaker (Main Events, do treinador Lou Duva) e Kennedy McKinney (Top Rank, de Arum), por exemplo, chegaram a ser internados por causa de cocaína. O problema encurtou também a carreira de alguns pesos-pesados de Don King, como Mitch ''Blood'' Green (que aguentou dez assaltos com Mike Tyson), e os ex-campeões Tony Tucker, Greg Page e Oliver McCall, entre outros.

Mesmo com tantos exemplos, alguns casos ainda são capazes de nos pegar desprevenidos e chocar, como certamente é o do nicaraguense Arguello, um mem bro do Hall da Fama do boxe e um símbolo de classe dentro e fora dos ringues, que foi adotado como um dos embaixadores do boxe após a sua aposentadoria.

Que tipo de frustração faria al guém que ao menos aparente mente, tem tudo ser seduzido pelas drogas? Principalmente quando se trata de Arguello, que conquistou tanto (títulos entre os penas, superpenas e leves, além de um currículo de 19 vitórias e 3 derrotas em lutas válidas por título), um ídolo nacional, um empresário cuja situação financeira é bastante estável.

'' Como atleta, segui uma vi da de honestidade, sempre procurei fazer as coisas da maneira correta. E nunca havia percebido como a sociedade é injusta'', disse para mim Arguello, nesta semana durante a convenção do Conse lho Mundial de Boxe, no México.

Ele citou, por exemplo, seu inconformismo com o fato de os políticos terem desviado milhões doados pelos EUA para ajudar a população da Nicarágua. ''Me perguntava como puderam fazer algo desse tipo, aquilo me perturbava profundamente.''

Arguello passou a beber, um hábito logo substituído pela cocaína e pelo crack. Pensou em suicídio e começou a vender os bens para manter seus vícios.

Até que duas conversas o fize ram mudar sua atitude. A primeira foi quando um amigo lembrou que ''você não pode mudar o mundo sem antes mudar você.''

A segunda conversa ocorreu em seu íntimo. ''Sabe, ao 15 anos pedi a Deus para ser o pri meiro campeão mundial da Nicarágua. E fui tão abençoado que ele permitiu que atingisse essa honra não por uma, mas por três vezes. E agora ele perguntava: 'e você, Alexis, o que tem feito por mim?' Percebi que não vinha fazendo nada. Sabe, antes teria sucumbido, mas acho que Deus permitiu que meu pior inimigo me atingisse agora porque, recuperado dessa experiência, posso aconselhar melhor os jovens. E mostrar que, a exemplo do que ocorria quando era campeão, ainda tem poder de reação.



NOTA

Nos ringues
O brasileiro Acelino Freitas, o Popó, ganhou um motivo para estar confiante caso consiga garantir uma unificação com o campeão dos superpenas pelo CMB, Floyd Mayweather. É que o norte-americano teve trabalho para derrotar o ordinário Emanuel Burton, em nove assaltos, no sábado. Mas a luta foi disputada entre os leves, o que pode significar que Mayweather estará subindo de categoria em breve.

Fora dos ringues
Nestes tempos em que a segurança dos atletas é um dos assuntos em destaque, houve duas gafes antipedagógicas na convenção do CMB. Uma dramatização em vídeo mostrou um garoto treinando com sparring em seu primeiro dia na academia (algo condenado por qualquer treinador sério), e o que é pior, sem usar protetor de cabeça. E um brinquedo distribuído aos membros do CMB traz dois boxeadores que trocam cabeçadas quando se aciona um botão.


E-mail: eohata@folhasp.com.br


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