Diego
Medina
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''Por
que fiz isso? Porque sou humano, tenho sentimentos como todo
mundo'', respondeu o tricampeão mundial de boxe Alexis Arguello,
quando o questionei sobre o fato de ele recentemente ter se
envolvido com as drogas.
Diversos dos pugilistas que usam drogas costumam aparecer
em manchetes policiais. Mas em entrevista à revista ''The
Ring'' (a mais tradicional do gênero), há alguns anos, o promotor
de lutas Bob Arum afirmou que metade dos nomes da elite do
pugilismo (até alguns dos mais insuspeitos) seriam usuários
de drogas.
Os casos são inúmeros e todos os promotores já perderam boxeadores
por causa disso.
Os norte-americanos ex-campeões mundiais e medalhistas olímpicos
Pernell Whitaker (Main Events, do treinador Lou Duva) e Kennedy
McKinney (Top Rank, de Arum), por exemplo, chegaram a ser
internados por causa de cocaína. O problema encurtou também
a carreira de alguns pesos-pesados de Don King, como Mitch
''Blood'' Green (que aguentou dez assaltos com Mike Tyson),
e os ex-campeões Tony Tucker, Greg Page e Oliver McCall, entre
outros.
Mesmo com tantos exemplos, alguns casos ainda são capazes
de nos pegar desprevenidos e chocar, como certamente é o do
nicaraguense Arguello, um mem bro do Hall da Fama do boxe
e um símbolo de classe dentro e fora dos ringues, que foi
adotado como um dos embaixadores do boxe após a sua aposentadoria.
Que tipo de frustração faria al guém que ao menos aparente
mente, tem tudo ser seduzido pelas drogas? Principalmente
quando se trata de Arguello, que conquistou tanto (títulos
entre os penas, superpenas e leves, além de um currículo de
19 vitórias e 3 derrotas em lutas válidas por título), um
ídolo nacional, um empresário cuja situação financeira é bastante
estável.
'' Como atleta, segui uma vi da de honestidade, sempre procurei
fazer as coisas da maneira correta. E nunca havia percebido
como a sociedade é injusta'', disse para mim Arguello, nesta
semana durante a convenção do Conse lho Mundial de Boxe, no
México.
Ele citou, por exemplo, seu inconformismo com o fato de os
políticos terem desviado milhões doados pelos EUA para ajudar
a população da Nicarágua. ''Me perguntava como puderam fazer
algo desse tipo, aquilo me perturbava profundamente.''
Arguello passou a beber, um hábito logo substituído pela cocaína
e pelo crack. Pensou em suicídio e começou a vender os bens
para manter seus vícios.
Até que duas conversas o fize ram mudar sua atitude. A primeira
foi quando um amigo lembrou que ''você não pode mudar o mundo
sem antes mudar você.''
A segunda conversa ocorreu em seu íntimo. ''Sabe, ao 15 anos
pedi a Deus para ser o pri meiro campeão mundial da Nicarágua.
E fui tão abençoado que ele permitiu que atingisse essa honra
não por uma, mas por três vezes. E agora ele perguntava: 'e
você, Alexis, o que tem feito por mim?' Percebi que não vinha
fazendo nada. Sabe, antes teria sucumbido, mas acho que Deus
permitiu que meu pior inimigo me atingisse agora porque, recuperado
dessa experiência, posso aconselhar melhor os jovens. E mostrar
que, a exemplo do que ocorria quando era campeão, ainda tem
poder de reação.
NOTA
Nos ringues
O brasileiro Acelino Freitas, o Popó, ganhou um motivo
para estar confiante caso consiga garantir uma unificação
com o campeão dos superpenas pelo CMB, Floyd Mayweather. É
que o norte-americano teve trabalho para derrotar o ordinário
Emanuel Burton, em nove assaltos, no sábado. Mas a luta foi
disputada entre os leves, o que pode significar que Mayweather
estará subindo de categoria em breve.
Fora dos ringues
Nestes tempos em que a segurança dos atletas é um dos
assuntos em destaque, houve duas gafes antipedagógicas na
convenção do CMB. Uma dramatização em vídeo mostrou um garoto
treinando com sparring em seu primeiro dia na academia (algo
condenado por qualquer treinador sério), e o que é pior, sem
usar protetor de cabeça. E um brinquedo distribuído aos membros
do CMB traz dois boxeadores que trocam cabeçadas quando se
aciona um botão.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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