''Impressionante.'' Os anúncios em publicações especializadas
promovendo a defesa de Roy Jones Jr. contra o desafiante Eric
Harding, no último sábado, traziam apenas o retrato do campeão
unificado dos meio-pesados (Conselho Mundial de Boxe, Associação
Mundial de Boxe e Federação Internacional de Boxe) e frases
elogiosas pinçadas de artigos de jornais ou revistas.
Harding não mereceu nem um destaquezinho no canto do pôster,
mesmo sendo o primeiro colocado no ranking da FIB.
E não é para menos. Considerado por muitos o melhor lutador
do mundo na atualidade, há a expectativa de que Roy Jones
Jr. seja atração suficiente para atrair público e espectadores
toda vez que se apresenta, independentemente de quem é o adversário.
Mas é aí que está o problema.
Tal é o domínio de Roy Jones Jr. sobre a oposição, que seus
combates tornam-se sem graça. Todos os grandes pugilistas
necessitam de adversários de qualidade para serem considerados
''grandes''.
Entre os pesados, Muhammad Ali teve Sonny Liston, Joe Frazier,
George Foreman e Ken Norton como coadjuvantes. O sorridente
''Sugar'' Ray Leonard, campeão em cinco categorias distintas
de peso, mostrou que não era apenas um produto da mídia contra
Roberto ''Mano de Piedra'' Durán, Thomas ''Hit Man'' Hearns
e ''Marvelous'' Marvin Hagler.
Tal é a qualidade de Roy Jones Jr., que os especialistas acreditam
que os únicos oponentes viáveis para o norte-americano seriam
pesos-pesados ou o invicto campeão dos meio-pesados pela Organização
Mundial de Boxe, o alemão Dariusz Michalczewski.
Surpreendentemente, o combate com Harding, no sábado, foi
mais competitivo (e chato) do que o esperado, com nenhum dos
boxeadores levando perigo ao oponente. Mais surpresa ainda
causou o anúncio de Jones jr. ao afirmar que estaria disposto
a descender para a categoria dos supermédios (peso imediatamente
inferior ao dos meio-pesados).
Nesta categoria, os adversários de ''mais nome'' seriam o
médio-ligeiro Félix Trinidad (um meio-médio natural) e o campeão
dos médios pela FIB, Bernard Hopkins, em revanche. É bom
lembrar que ambos têm estrutura corporal inferior à de Roy
Jones Jr.
Roy Jones Jr. explica que suas melhores atuações acontecem
quando uma parte de sua personalidade conhecida como R.J.
(abreviação de seu nome) toma conta. A última vez que isso
aconteceu foi quando massacrou Montell Griffin em um assalto
em revanche (Griffin havia ganhado o primeiro combate por
desqualificação). ''Fico mais ousado quando libero essa parte.''
Talvez seja uma boa hora para publicações especializadas e
promotores de seus combates pararem de chamá-lo de ''Einstein
ou fenômeno'' e passar a se referir a ele simplesmente como
''R.J.''.
NOTAS
Brasil 1
Até que Claudio Martinet não era tão mal assim. O argentino,
que foi nocauteado em três assaltos por Acelino Freitas, o
Popó, no ano passado, venceu o compatriota Julio Pablo Chacón,
no sábado passado, em uma verdadeira zebra. Chacón é o terceiro
do ranking dos superpenas da Associação Mundial de Boxe e
iria disputar uma eliminatória pelo título em outubro.
Brasil 2
A programação de boxe envolvendo Edson do Nascimento, o Xuxa,
décimo do ranking dos leves da AMB, e Alexandre Silva, no
Guarujá, no litoral paulista, foi transferida para o próximo
dia 21.
Mas será que não seria uma idéia melhor a tal noitada ser
realizada no próximo mês, quando não teria de concorrer com
a Olimpíada?
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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