Não dá para engolir uma das principais desculpas adotadas
por membros da seleção brasileira olímpica de boxe para explicar
o fracasso em Sydney.
‘‘Os jurados roubaram, a diferença de pontos entre os brasileiros
e os adversários não era tão grande. Tudo porque o Brasil
não traz jurados aos Jogos Olímpicos’’, argumentou o técnico
da seleção brasileira Ulisses Pereira.
Sim, é verdade que dezenas de pontos dos brasileiros deixaram
de ser computados, por incompetência ou má fé dos jurados.
Mas a verdade é que eles foram dominados pelos rivais, não
foi só um pontinho que definiria os resultados de suas apresentações.
Os próprios pugilistas admitiram isso em entrevistas. ‘‘Iria
perder, mas queria terminar em pé’’, disse o meio-médio-ligeiro
Kelson Carlos
Outro detalhe. Se quem levasse jurados à Olimpíada obtivesse
realmente tanta vantagem, qual seria a explicação para os
EUA terem conquistado apenas dois ouros (Oscar de la Hoya
e David Reid) nos dois últimos Jogos? E por que então comenta-se
até hoje que Roy Jones Jr., que é norte-americano, foi roubado
em 92?
Ou seja, a ineficiência do sistema de contagem de pontos é
real, mas não serve como justificativa. Principalmente quando
se leva em conta que esta formação teve a melhor preparação
para Olimpíada que uma seleção brasileira de boxe já contou,
com patrocínio (de última hora, é verdade), inúmeros torneios
internacionais e estágios no exterior?
Também não dá para levar a sério outra explicação, apresentada
por um dos atletas: ‘‘não estava no meu dia’’. Aposto que,
ao contrário dele, grandes pugilistas, como o porto-riquenho
Félix Trinidad, também tiveram ‘‘dias maus’’, mas sempre encontraram
um meio para seguir vencendo.
Pior, com uma preparação bem mais modesta e com igual número
de atletas (seis), o time que competiu em Atlanta registrou
resultados mais expressivos, cinco vitórias (três a mais do
que a equipe que competiu em Sydney), sendo que Daniel Bispo
esteve a uma vitória de um bronze.
Uma demonstração de maturidade da parte do time que competiu
em Sydney seria não responsabilizar fatores externos por sua
performance. É melhor atletas e treinadores mostrarem humildade,
refletir e procurar respostas no interior do próprio grupo.
Para finalizar, uma resposta a um membro da Confederação Brasileira
que argumentou que o boxe não fez um papel tão feio em Sydney,
uma alusão ao fracasso dos favoritos brasileiros nos Jogos
(futebol, vôlei de praia, tênis etc). Pois é, e perdeu uma
chance de ouro de brilhar em uma Olimpíada sem grandes destaques
nacionais.
NOTA
Estréia O filme Rocky Marciano, baseado na vida do legendário
ex-campeão mundial dos pesos-pesados estréia amanhã (sábado,
30 de setembro), às 15h40, na programação do canal de filmes
Telecine 1, da Net. O filme, produzido pela rede norte-americana
de TV a cabo Showtime, provocou protestos da parte da família
de Marciano.
E-mail: eohata@folhasp.com.br
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