Diego
Medina
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No
dicionário do basquete profissional, renovar é um
verbo perigoso, que precisa ser conjugado com rigor e parcimônia.
Nos campeonatos de elite no Brasil, por um problema de ordem administrativa,
são raros os exemplos de recompensa.
A equipe que prioriza jovens talentos, que põe a molecada
para jogar, quase sempre morre na praia. Pior, amadurece atletas
para depois perdê-los para os mesmos adversários
que a humilharam em quadra - um canibalismo preguiçoso,
que, no final das contas, termina por inibir a própria
lapidação de jogadores.
Tanto o masculino como o feminino sentem a falta de linhas de
produção verticais, clubes que formem atletas e
que, ao mesmo tempo, ofereçam boas perspectivas de profissionalização.
Franca, Santo André e Osasco se retraíram. Pinheiros
e Palmeiras,
sabotados, balançam. O que se vê é um ziguezague
de jogadores, um troca-troca sem compromisso e responsabilidade
que estende pelo caminho muitos dos poucos talentos que o esporte
insiste em produzir no país.
Na NBA, as coisas seguem caminhos diferentes, mas desembocam em
uma crise similar. Na América do Norte, o forno do esporte
está sob o controle da universidade. Teoricamente, a liga
profissional não precisa se preocupar com a revelação
de craques - tem apenas de se preparar para a "refeição"
anual.
O problema é que, cada vez mais ávida por novas
histórias e novos personagens, a indústria vem precipitando
as fornadas. Os jogadores pulam cada vez mais jovens para a NBA.
Do ponto de vista pessoal, ótimo, que ponham logo a mão
na bolada. Mas, do ponto de vista estratégico, não
há o que festejar.
O circuito universitário tremeu. Programas tradicionais
perderam apelo - North Carolina, onde estudou Michael Jordan,
passou semanas sem técnico. O êxodo de craques fez
o público cair, nos ginásios e na televisão.
Mas o mais grave é que, sem ter aprimorado os fundamentos
nas escolas, boa parte dos garotos não corresponde às
expectativas infladas pelos marqueteiros da NBA. Frustrados, os
fãs ludibriados pelo "hype" acabam se voltando
contra o próprio esporte.
Boston e Chicago, franquias importantes da liga, cavaram sua sepultura
ao optar por essa trilha. Montaram equipes jovens, amplificando
o talento de seus calouros. Hoje, lutam para fugir da lanterna
da competição. Não enchem os ginásios
nem vêem perspectivas de recuperação.O
Indiana implodiu o núcleo de veteranos que o conduziu ao
vice-campeonato, em junho, e resolveu apostar em garotões
superatléticos e promissores. Agora, briga para ficar em
8º no Leste...
A verdade é que todos os grandes campeões da história
da NBA escoravam-se, de alguma forma, em atletas com anos de estrada.
O Chicago, de Jordan e Scottie Pippen, tinha Bill Cartwright e
John Paxson. O San Antonio, de Tim Duncan, contava com David Robinson
e Avery Johnson. O LA Lakers, de Shaquille O'Neal e Kobe Bryant,
prestigiava A.C.Green e Ron Harper.
Em breve, diante de tão radical revolução
etária, a molecada da NBA vai ter de se virar sozinha.
É muita responsabilidade _e risco.
NOTAS
Juventude
1
Pela
primeira vez na década, a NBA rejuvenesceu. Em média,
os profissionais da liga norte-americana têm 27 anos e 9
meses, dois meses a menos do que na temporada 99/00.
Juventude
2
Por enquanto, a NBA não tem razões para comemorar
a última safra de jogadores. Entre os calouros, o principal
cestinha é o armador Stephen Jackson (New Jersey), único
a registrar mais de dez pontos por partida - 11, para ser exato.
É o pior desempenho coletivo dos últimos 20 anos.
Juventude
3
Temperados por veteranos, Portland e Los Angeles Lakers entraram
nos eixos e estão invictos há mais de uma semana.
Junte o San Antonio e saia de baixo.
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