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PENSATA

Terça-Feira, 28 de novembro de 2000


A mão que balança o berço

Melchiades Filho
     

Diego Medina

No dicionário do basquete profissional, renovar é um verbo perigoso, que precisa ser conjugado com rigor e parcimônia.

Nos campeonatos de elite no Brasil, por um problema de ordem administrativa, são raros os exemplos de recompensa.

A equipe que prioriza jovens talentos, que põe a molecada para jogar, quase sempre morre na praia. Pior, amadurece atletas para depois perdê-los para os mesmos adversários que a humilharam em quadra - um canibalismo preguiçoso, que, no final das contas, termina por inibir a própria lapidação de jogadores.

Tanto o masculino como o feminino sentem a falta de linhas de produção verticais, clubes que formem atletas e que, ao mesmo tempo, ofereçam boas perspectivas de profissionalização.

Franca, Santo André e Osasco se retraíram. Pinheiros e Palmeiras,
sabotados, balançam. O que se vê é um ziguezague de jogadores, um troca-troca sem compromisso e responsabilidade que estende pelo caminho muitos dos poucos talentos que o esporte insiste em produzir no país.

Na NBA, as coisas seguem caminhos diferentes, mas desembocam em uma crise similar. Na América do Norte, o forno do esporte está sob o controle da universidade. Teoricamente, a liga profissional não precisa se preocupar com a revelação de craques - tem apenas de se preparar para a "refeição" anual.

O problema é que, cada vez mais ávida por novas histórias e novos personagens, a indústria vem precipitando as fornadas. Os jogadores pulam cada vez mais jovens para a NBA.

Do ponto de vista pessoal, ótimo, que ponham logo a mão na bolada. Mas, do ponto de vista estratégico, não há o que festejar.

O circuito universitário tremeu. Programas tradicionais perderam apelo - North Carolina, onde estudou Michael Jordan, passou semanas sem técnico. O êxodo de craques fez o público cair, nos ginásios e na televisão.

Mas o mais grave é que, sem ter aprimorado os fundamentos nas escolas, boa parte dos garotos não corresponde às expectativas infladas pelos marqueteiros da NBA. Frustrados, os fãs ludibriados pelo "hype" acabam se voltando contra o próprio esporte.

Boston e Chicago, franquias importantes da liga, cavaram sua sepultura ao optar por essa trilha. Montaram equipes jovens, amplificando o talento de seus calouros. Hoje, lutam para fugir da lanterna da competição. Não enchem os ginásios nem vêem perspectivas de recuperação.
O Indiana implodiu o núcleo de veteranos que o conduziu ao vice-campeonato, em junho, e resolveu apostar em garotões superatléticos e promissores. Agora, briga para ficar em 8º no Leste...

A verdade é que todos os grandes campeões da história da NBA escoravam-se, de alguma forma, em atletas com anos de estrada. O Chicago, de Jordan e Scottie Pippen, tinha Bill Cartwright e John Paxson. O San Antonio, de Tim Duncan, contava com David Robinson e Avery Johnson. O LA Lakers, de Shaquille O'Neal e Kobe Bryant, prestigiava A.C.Green e Ron Harper.

Em breve, diante de tão radical revolução etária, a molecada da NBA vai ter de se virar sozinha. É muita responsabilidade _e risco.

NOTAS

Juventude 1
Pela primeira vez na década, a NBA rejuvenesceu. Em média, os profissionais da liga norte-americana têm 27 anos e 9 meses, dois meses a menos do que na temporada 99/00.

Juventude 2
Por enquanto, a NBA não tem razões para comemorar a última safra de jogadores. Entre os calouros, o principal cestinha é o armador Stephen Jackson (New Jersey), único a registrar mais de dez pontos por partida - 11, para ser exato. É o pior desempenho coletivo dos últimos 20 anos.

Juventude 3
Temperados por veteranos, Portland e Los Angeles Lakers entraram nos eixos e estão invictos há mais de uma semana. Junte o San Antonio e saia de baixo.



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