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PENSATA

Terça-Feira, 15 de agosto de 2000


O mundo visto do alto

Melchiades Filho
     
Diego Medina

A era Michael Jordan desviou o olhar para o perímetro, para a acrobacia, e confundiu as coisas. Mas, pouco a pouco, o basquete se recupera da hipnose e volta a reverenciar a importância dos pivôs, os protagonistas das principais revoluções do esporte.
George Mikan, o pioneiro dessa linhagem de gigantes, por exemplo, dobrou as regras do jogo nos anos 50.
Contratado porque “era muito alto para a época e se parecia com Super-Homem”, ele assombrou a ABA (primeiro nome da NBA) logo nas primeiras partidas.
Na defesa, usava seus 2,10 m e 111 kg para bloquear arremessos praticamente dentro da cesta.
No ataque, desmoralizava a regra dos três segundos no garrafão, que obriga o atleta a se movimentar sob a cesta: para tocar o aro, mesmo fora do garrafão, bastava a Mikan esticar o braço.
Os jogos perderam graça, e a liga resolveu interferir. Em 1948, para acabar com a eterna frustração dos arremessadores, proibiu a interferência do defensor quando a bola estivesse na descendente. E, em 1951, para afastar fisicamente Mikan da cesta, redesenhou a quadra e aumentou a largura do garrafão, de 1,82 m para 3,64 m (nascia a “zona morta”...).
A carreira de Bill Russell pode não ter tido repercussões tão espetaculares como a de Mikan. Mas não é exagero afirmar que o pivô, 11 títulos em 13 temporadas pelo Boston, foi o atleta mais influente dos 53 anos da NBA.
Russell inventou nos anos 60 o “toco” (bloqueio de um arremesso ainda na curva ascendente).
Até ele chegar, o jogo era vertical, corria na direção cesta-cesta. Mas, para fugir da marcação agressiva do novato de 2,09 m e 101 kg, os times viram-se forçados a horizontalizar o esquema, desviando a bola para as laterais da quadra. O saldo tático: trocava-se a bandeja pelo tiro de longa distância.
Mais, até os 60, nem todo atleta saltava para arremessar (“jump shot’’); a maioria o fazia com os pés plantados (“set shot’’). Por sair de mais baixo, o “set shot’’ era fácil de ser bloqueado. Russell causou sua extinção.
Como ele recuperava a bola (rebote, desarme, toco) facilidade, o Boston podia acelerar a transição defesa-ataque, surpreendendo rivais acostumados com um ritmo cadenciado. E assim foi inventado o contra-ataque.
Outros pivôs inscreveram seus nomes nos anais do basquete.
É o caso de Kareem Abdul-Jabbar, 2,18 m e 121 kg, o maior cestinha da história da NBA, com 38.387 pontos, que levou ao banimento temporário das enterradas no circuito universitário, nos anos 60, e que criou um arremesso quase infalível, o “sky hook’’ (gancho), na década seguinte.
É o caso de Wilt Chamberlain, 2,15 m e 125 kg, a maior máquina de produzir pontos que já se viu, o único a conseguir atingir três dígitos no placar (100, em 1963).
É o caso de Moses Malone, 2,09 m e 118 kg, que em 1976 tornou-se o primeiro jogador a pular da escola para os profissionais sem passar pela universidade.
É o caso de Hakeem Olajuwon, 2,13 m e 116 kg, que nos anos 90 levou a arte do drible às alturas.
E talvez seja o caso de Shaquille O’Neal, 2,16 kg e 143 kg, e de Tim Duncan, 2,13 m e 115 kg, que, embora jovens para “fazer história”, escoraram a campanha dos dois últimos campeões da NBA.


NOTAS

Escada 1
O diferencial da seleção brasileira que vai buscar o pódio em Sydney não está na categoria de Janeth, mas na versatilidade do seu quarteto de pivôs: Alessandra (1,98 m), Cíntia Tuiú (1,93 m), Marta (1,91 m) e Kelly (1,89 m).

Escada 2
Na WNBA, é uma pivô, Lisa Leslie (1,96 m), quem explica a ótima campanha do Los Angeles, o primeiro classificado ao segundo “round” dos playoffs e favorito, ao lado do Houston, ao título de 2000.

Escada 3
Os dois novatos convocados por Hélio Rubens para a Copa 500 Anos, que começa hoje no Rio, são pivôs: Estevam (2,10 m) e Paulão (2,10 m).

Escada 4
A quarta edição do “Dream Team”, que os EUA vão enviar à Olimpíada, tem só um pivô: Alonzo Mourning (2,08 m).




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