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Terça-Feira, 29 de agosto de 2000


Tornozelos quebrados

Melchiades Filho
     
Diego Medina

Há vários caminhos para um time superar a defesa adversária. Pode confundi-la com corta-luzes, atordoá-la com tiros de longa distância, surpreendê-la com a rápida transição para o ataque ou, o básico, desmontá-la na base da porrada mesmo.

Parece simples? Não é.

Quanto mais competitivo o jogo, mais sofisticada deve ser a execução desses recursos. Os “picks” requerem sincronia, os arremessos precisam cair, o contra-ataque necessita de foco, a pancada tem ser bem dada.

E, a despeito de treinos e ensaios exaustivos, existem momentos em que nenhuma das armas funciona, em que o time empaca e ponto final _muitas vezes, por mérito da marcação.

Por isso, não importa a tática, haverá sempre demanda nas quadras pelo improviso, pelo drible.

As finais da WNBA, recém-encerradas, foram um ótimo exemplo. Jogos feios, trancados, só resolvidos quando duas atletas provaram-se capazes de driblar.

Vale ressaltar que não me refiro à imagem do drible do futebol, associada à desmoralização do oponente. Tampouco à tradução do inglês “dribble”, que quer dizer o fundamento do bate-bola.

Trata-se, sim, do talento para, do nada, conceber a cesta. E essa capacidade têm de sobra Sheryl Swoopes, 29, e Cynthia Cooper, 37, estrelas do Houston, tetracampeão norte-americano.

A primeira, voraz, dribla sempre em direção à tabela, sustentada pela explosão do movimento de pernas (o chamado “first step”). A segunda, mágica, como um daqueles ratinhos espertos de labirinto de laboratório, domina a arte da aceleração e desaceleração durante o bate-bola.

Não é exagero creditar às duas o sucesso texano. O esquema ofensivo do time se sustenta na auto-suficiência delas, ao espacejar (alienar) suas companheiras.

Assim como não é exagero afirmar que a falta de uma Swoopes, de uma Cooper, é o principal problema da seleção brasileira que estará nos Jogos de Sydney.

Ao contrário do que se poderia esperar, uma vez que este é o país do “jeitinho” e do “suingue”, o time olímpico não sabe driblar.

Tanto que o técnico Antonio Carlos Barbosa, passados quase quatro meses de treinos, ainda não definiu as armadoras titulares. Nem Helen, a principal armadora, nem Adriana, a principal arremessadora, têm cacoete e repertório para se virar sozinhas diante de uma defesa apertada.

Havia uma torcida para que Janeth suprisse essa carência. A ala brasileira, afinal, passou as duas últimas temporadas na WNBA atuando na armação, aprimorando a condução de bola.

Mas a ducha de água fria veio nas mesmas partidas que consagraram Swoopes e Cooper. Ficou claro que Janeth continua atuando melhor perto da cesta, de costas para a tabela, criando arremessos em situações de “post-up”. E que ainda é incapaz de quebrar tornozelos, de se aventurar no mano-a-mano no perímetro.

Contra o New York, registrou mais violações (8) do que assistências (5) e cestas (5).

Barbosa estuda uma saída arriscada, com Claudinha e Helen compartilhando a armação. A tentativa não entusiasma, mas faz sentido. Cruze os dedos.


NOTAS

Drible 1
A TV traz nesta semana uma chance espetacular para checar em que estágio se encontra o trabalho de Barbosa. As brasileiras pegam às 17h30 de sábado, na ESPN Brasil, nada menos do que a seleção norte-americana, favoritíssima ao ouro em Sydney.


Drible 2
Para quem não se recorda, trata-se de uma reedição da última final olímpica.


Drible 3
Se para os fãs é imperdível, temo que o amistoso seja traumático para as meninas. As americanas estão voando, como ficou evidente no massacre sobre as canadenses (90 x 51), no sábado. E as brasileiras não sabem quem começa em quadra...


Drible 4
E, às 23h, a ESPN International exibe um jogo do “Dream Team”. Lá se vai outro sábado...




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