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PENSATA

Terça-Feira, 4 de julho de 2000

Seis degraus de separação

Melchiades Filho
     
Diego Medina


O Vasco não é um bicho-papão na marcação, como pintam os rivais e como confortavelmente endossa a comissão técnica do time. Alguns vascaínos, como Byrd e Varejão, titubeiam no mano-a-mano, não conseguem acompanhar nem a sombra.
Os playoffs deixaram isso claro. Com infiltrações, o Franca quase aplicou uma surpresa histórica nas semifinais. E, na decisão, Oscar & Cia. rubro-negra não encontraram problemas para manter pontuações altas (36 e 103).
Mas, para controlar o oponente, desacelerar o ritmo da partida, a defesa vascaína é decente. Sobretudo no Brasil, em que os atacantes não têm coragem e/ou competência para agredir a cesta.
O ataque cruz-maltino também não faz babar. Os corta- luzes, símbolos das jogadas ensaiadas, são raros e carecem de sofisticação. A bola parece girar esterilmente e quase sempre vai para perto da tabela (“low post”).
Mas essa massagem da bola, tão incompatível com o corrido basquete moderno, aparece, no Vasco, como virtude. O ataque pouco se desespera, não se assusta com marcações dobradas. Servindo esse feijão-com-arroz pouco temperado, obteve por jogo 25 assistências, 75% a mais do que o flamenguista. E, principalmente, repartiu o ônus da cesta entre os jogadores. Todos os cinco titulares registraram mais de dez pontos por partida nas finais. Não que o Vasco prescinda de cestinhas. Os veteranos Vargas, 37, e Charles Byrd, 34, cumprem esse papel. Aos desavisados, pode parecer um erro, pois ambos passaram, há muito tempo (uma década?), do auge físico. Mas Vargas e Byrd ainda sabem sacar uma cesta da cartola, outra raridade nas quadras nacionais (tanto que os dois são estrangeiros...). Na hora do aperto, é a eles que a bola é confiada. O primeiro escoa, como um pedágio, quase todos os ataques de meia-quadra. E o segundo se encarrega de “desentupi-los” nas situações críticas. Vargas anotou 26,5 pontos por jogo na decisão; Byrd, 20,7.
Esse esquema, maçante e repetitivo, hipnotiza o adversário e permite que coadjuvantes dêem o bote. No caso do Vasco, Rogério é o mais beneficiado. Incapaz de criar o próprio arremesso, ele é um estilingue mortal quando ignorado pela marcação. Na segunda vitória sobre o Fla, explodiu silenciosamente com 33 pontos.
Quem também engana à primeira vista é o banco de Hélio Rubens. Dos sete reservas, só três costumam jogar. Mas Demétrius, Aylton Tesch e Mingão fornecem o combustível de que os titulares precisam _o primeiro nas infiltrações, os outros nos rebotes.
Toda essa estrutura, tanto o esquema tático como os próprios atletas, foi transplantada de Franca para o Rio. E, se o público carioca ainda não teve tempo para se converter, os dirigentes vascaínos cuidaram para assegurar uma arquibancada entusiasmada _distribuiu ingressos para torcidas organizadas do futebol (mais de 60% do público das finais).
Uma marcação pé-no-chão, que garanta muitas posses de bola, canalizadas para cestinhas confiáveis, mas rendidos ocasionalmente por coadjuvantes, numa dinâmica de jogo extenuante que requer o oxigênio de bons reservas e o apoio de uma torcida engajada. Grave bem a fórmula. Vai dar mais pódios.



NOTAS

Escada 1
Hélio Rubens festeja, logo no primeiro semestre no Vasco, seu sétimo título nacional (o quarto consecutivo) e consolida o currículo mais expressivo do basquete brasileiro.

Escada 2
Cada partida teve um coadjuvante-herói (Varejão, Rogério, Ratto...). Mas achei decisiva a participação dos armadores do Vasco. Helinho e Demétrius responderam com 57 assistências e apenas 11 “turnovers” nas quatro partidas. A relação, superior a 5 para 1, é excelente. E impressiona ainda mais ao se constatar que os dois somaram apenas 190 minutos nos 170 minutos de jogo. Ou seja, registraram a produção de uma dupla, mas gastaram o tempo de quadra de um só jogador.

Escada 3
Oscar, 42, mostrou que ainda tem pontaria e fôlego (só não disputou 4 dos 170 minutos!) para virar o milênio nas quadras.




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