A produção do filme começou na sexta-feira,
quando Grant
Hill anunciou o que o esporte queria, e o que 28 equipes
não queriam ouvir. O ala decidira trocar o Detroit
Pistons pelo Orlando Magic, na próxima temporada da NBA.
A
transferência seria o primeiro passo para a criação
de
um supertime na liga norte-americana. No vácuo de Hill,
fechariam com o clube da Flórida o armador Tracy McGrady
(Toronto Raptors) e, sobretudo, o superpivô Tim Duncan
(San Antonio Spurs).
A assinatura dos papéis só poderia ocorrer em agosto.
Apesar disso, os estúdios da NBA correram para divulgar
o script: afinal, McGrady avisara que o Orlando era sua
prioridade, e Hill jamais deixaria o Detroit se não
soubesse que seria seguido por Duncan (além do estilo de
jogo, os dois têm o mesmo empresário...).
Explica-se a histeria da liga de basquete. Ela cresceu
sempre que os torcedores conseguiram identificar com
facilidade os grandes astros da indústria.
O reinado do Boston Celtics, nos anos 60, viabilizou-a
como negócio no território norte-americano. A rivalidade
entre o Los Angeles Lakers e o Boston, nos 80, impediu
que naufragasse após uma série de escândalos
de suborno
e drogas e seduziu a TV. E a explosão do Chicago Bulls,
nos 90, encheu seus bolsos e estendeu suas fronteiras
para o globo.
Com a aposentadoria de Michael Jordan, essa era de
dinastias se interrompeu. O público nos ginásios
caiu,
os índices de audiência despencaram, o faturamento
dos
licenciamentos estancou.
Daí o otimismo da NBA diante da conquista do título
de
99/00 pelo Los Angeles Lakers. Com uma dupla de jovens
heróis (Shaquille O'Neal e Kobe Bryant) e um técnico
estrelado (Phil Jackson, hexacampeão pelo Chicago), o
time californiano juntou carisma e currículo para ajudar
a liga a voltar a estourar bilheterias.
Na avaliação dos roteiristas do basquete, para que
os
negócios decolassem, faltava só um vilão,
um adversário
para os Lakers. Com Hill, Duncan e McGrady, esse papel
caberia ao Orlando.
O duelo teria tudo para reeditar a intensidade do
confronto LA x Boston da década de 80.
No lugar da questão racial, que "coloriu" os
épicos
embates entre Magic Johnson e Larry Bird, haveria dessa
vez um ingrediente cultural. Se O'Neal e Bryant
representam um basquete urbano, hip-hop, vibrante e
agressivo, Hill e Duncan praticam uma bola-ao-cesto
classe média-alta, acid jazz, suave e muito eficiente.
A qualidade técnica da trilha sonora estaria garantida.
Os quatro artistas são os melhores da NBA em suas
posições _escale Gary Payton ou Jason Kidd como
armador
e você terá o legítimo "Dream Team".
E nenhum cria
encrencas longe das telas. Sorridentes e acessíveis,
fazem a alegria dos fãs _e dos marketeiros.
Não haveria motivos, também, para duvidar do potencial
comercial do duelo. Los Angeles e Orlando, as casas da
Disney, vivem do (e para o) entretenimento.
Mas os produtores cometeram um erro de principiante ao
ignorar a volatilidade das estrelas. Ontem, após dois
dias de brindes, McGrady falava em Chicago, e Duncan
cogitava seguir sua carreira "indie" no Texas, deixando
Hollywood para mais tarde.
A NBA, que pensava até na pré-estréia, voltou
ao story-
board.
NOTAS
Mickey
1
Para
tentar atrair Duncan, o mais cobiçado astro da NBA
(é o único capaz de humilhar O'Neal), o Orlando
fizera a
lição de casa. O treinador, um assistente técnico,
o
coordenador de vídeo e dois jogadores que o time
contratou nos últimos dois anos são amigos íntimos
do
pivô campeão pelo San Antonio em 1999.
Mickey
2
O Magic aprendeu com o tombo que levou em 1996, quando
O'Neal surpreendeu o clube ao trocá-lo pelos Lakers.
Mickey
3
Por questões de regulamento, o contrato com o Orlando
renderá US$ 67,5 milhões por seis anos de serviço
a
Hill. Se renovasse com seu time, embolsaria quase US$ 20
milhões a mais. Mas a Flórida, ao contrário
de Michigan
e Texas, é um Estado que não recolhe imposto de
renda...
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