Chegou ao Brasil com a febre da NBA, espalhou-se
vitaminada pelo vôlei, seduziu o futsal e caiu nas
graças do futebol. A palavra "liga", e a idéia que ela
embute, nunca foi tão redigida por jornais, destacada em
propostas de regulamento e massacrada em discursos e
cartolas.
De repente, organizar um campeonato independente das
federações virou atalho certo para a modernidade, a
panacéia para os esportes coletivos. Vamos fazer uma
liga! Não, uma superliga!!!
A histeria não é exclusividade brasileira. Na semana
passada, quando o futebol nacional anunciava a pavorosa
Copa Havelange, o basquete da Europa rachava "em nome da
independência".
Descontentes com a condução da batuta da Fiba, a máxima
entidade da bola-ao-cesto, 24 equipes lançaram
oficialmente a Euroliga, uma competição anual autônoma,
administrada pelos próprios clubes.
Entre os dissidentes, estão os tradicionais Olympiakos, da Grécia, e Real Madrid e Barcelona, da Espanha.
Sua insatisfação ruminava há muitos anos, mas uma
discussão sobre os direitos de televisão precipitou a
cisão.
Os times da Euroliga questionavam os contratos da Fiba
com a ISL, empresa de marketing esportivo com base na
Suíça. Alegavam que, sem intermediários, conseguiriam
remuneração maior pelas transmissões. E, de fato,
arrancaram da espanhola Telefonica US$ 175 milhões por
cinco temporadas, muito mais do que o compromisso
vigente.
A Fiba rejeitou o lobby e criticou a negociação,
acusando a Telefonica de ocultar cláusulas do contrato
(há informações de que o valor também incluiria a exclusividade dos direitos de Internet).
A federação confirmou, então, a organização da sua
Suproliga, com 20 equipes, entre elas três das quatro
melhores do último Europeu: Panathinaikos, da Grécia,
Maccabi, de Israel, e Efes, da Turquia. E passou a
ameaçar os árbitros e os ginásios que se envolverem com
a liga independente.
Ainda é cedo para tirar conclusões sobre o confronto.
A dissidência merece um crédito inicial. Não por fazer
uso da fórmula "liga", mas porque os últimos anos da
gestão Borislav Stankovic à frente da Fiba foram
marcados pela estagnação _o basquete estourou no planeta
e a federação não capitalizou.
Mas há dois problemas que o "racha" traz à tona, e que
merecem uma reflexão urgente.
O primeiro é que hoje, pelo menos no papel, cabe à Fiba
zelar pelas políticas de incremento do esporte
(categorias de base, difusão territorial, torneios
internacionais etc). Num novo cenário, que aliene a
entidade das competições de ponta, seria necessário
rediscutir essa responsabilidade. E decerto não será a
Telefonica que quererá assumi-la...
O segundo é que o basquete não vive um bom momento no
continente. Há uma queda geral de público, e, por razões econômicas e sociais, o Leste europeu, formador
consagrado de craques, perdeu competitividade. Se a
situação já era ruim com um campeonato, que dirá com dois? É preciso cuidado para não repetir os erros do
boxe, que tem muitos campeões e nenhuma credibilidade.
NOTAS
Ásia 1
A NBA pôs o dedo, e a ABA pagou a conta. Na primeira
edição organizada com a ajuda dos norte-americanos, a
"liga" asiática registrou um prejuízo de US$ 1 milhão
(metade do que gastou).
Ásia 2
O diagnóstico é de que o torneio naufragou porque
obrigou os times a realizarem 20 partidas, em 22
cidades, em menos de um mês.
Ásia 3
Uma equipe implantada pela NBA, o Ambassadors, ganhou o
título depois de bater o China All-Stars no mata-mata
decisivo. Com atletas rejeitados na América do Norte,
ela representou Hong Kong na competição.
Ásia 4
E Hong Kong teve o pior público dos seis times, menos de
mil espectadores por partida.
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