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Terça-Feira, 27 de junho de 2000

A questão carioca

Melchiades Filho
     
Diego Medina

O Flamengo, como todas as equipes que o cestinha defendeu, vive e morre por Oscar. No Nacional, o Vasco prova que é um time talhado para fazer prevalecer a parte final da equação.
Antes, algumas ressalvas: Oscar é o melhor, mais carismático e mais conhecido jogador de basquete da história latino-americana _e, aos 42 anos, ostenta o mais mortal arremesso do Brasil.
Agora, as conclusões: o Flamengo é um time bitolado, satisfeito em depender da pontaria do veterano _e, aos 42, Oscar está velho para essa responsabilidade.
Todo o esquema ofensivo rubro-negro se ampara nos tiros de três pontos. A equipe gira para executar corta-luzes "altos", além do garrafão, a fim de livrar o ala.
Ciente, o Vasco levou sua defesa ao perímetro nas finais. Estendeu uma cortina na linha de três pontos e mandou Rogério grudar em Oscar nos deslocamentos.
Mesmo pressionado, o Flamengo seguiu arriscando de longe. Chutou 70% mais do que o adversário nas duas derrotas: 55 bolas, contra 32. Mas acertou só 15 arremessos, contra 17 do oponente.
Com 27%, é o pior aproveitamento em três pontos do time na era Oscar _e o próprio cestinha construiu essa péssima performance, com 32 tentativas e apenas 31% de acerto.
Uma opção para o Flamengo seria acionar o jogador que executa o corta-luz. No entanto, esse lance, conhecido como "pick and roll", nunca foi o forte de Josuel (que sonolência...) e Pipoka, sabidamente mais eficientes perto da cesta _e, mais do que isso, de costas para ela.
Outra alternativa, a melhor, seria investir nas infiltrações, já que quase todos os vascaínos são lentos na movimentação lateral de pernas (que o diga o francano Valtinho, o armador fura-bolos que causou tanto estrago à defesa do Vasco nas semifinais).
Mas a criatividade não tem sido o forte de Ratto e Duda. Ignoro os motivos, mas os condutores de bola flamenguistas hesitam em atacar o garrafão. Receio de encarar o gigante Vargas? Falta de habilidade? Veto da comissão técnica? O fato é que a dupla computou só 13 assistências, a metade dos rivais Helinho e Demétrius.
Na defesa, o fator Oscar também tem desequilibrado.
A marcação nunca foi o forte do cestinha _que dirá agora, no final de sua carreira. O Flamengo, corretamente, procura poupá-lo, fixando-o às vezes no garrafão defensivo, na sobra, desobrigado de correr atrás de Rogério.
O problema é que Oscar também não tem mais joelhos para se fazer de ala de força. Não à toa, os rubro-negros levaram uma sova em rebotes até aqui, 64 a 83.
E, fazendo a coisa desandar de vez, o vascaíno emparelhado com Oscar, o ala-pivô Sandro Varejão, respondeu ao desdém com uma média de 21 pontos nas finais.
Porque é um atleta inteligente, Oscar deve ter percebido que todos os problemas da equipe de certa forma passam por ele. Porque jamais se conformou com a derrota, traduziu a frustração em declarações destemperadas no domingo. Mas, porque ainda é uma máquina de produzir pontos, porque sempre conviveu com o imponderável _e porque seu time é preguiçoso_, só ele é capaz de virar o jogo a partir de hoje.



NOTAS

RJ 1
Vale lembrar que esta é a primeira final carioca da história do basquete brasileiro.

RJ 2
A primeira e última vez que o Rio levantou o título nacional masculino foi em 1967, quando o Botafogo, numa zebraça, bateu o Corinthians por 85 a 83. O time carioca era tão humilde que seu técnico servira de guia para as estrelas visitantes. Mas duas lendas arruinaram o favoritismo do time paulista, que contava com a base da seleção brasileira que fora bicampeã mundial em 1963: o pivô Ubiratan perdeu a cabeça (envolveu-se numa briga e acabou expulso), e o ala Amaury Pasos, dois lances livres com o cronômetro zerado. Era 1º de abril.

RJ 3
Primeiro título, logo no primeiro campeonato com o Vasco? Êee, Hélio Rubens...



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