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Terça-Feira, 7 de novembro de 2000


Viva a Argentina!

Melchiades Filho
     

Diego Medina

O Pan-Americano de Clubes é uma competição desmoralizada, disputada por equipes de aluguel e pontuada por estrelas em fim de carreira. Não costuma merecer crédito nem consideração.

Mas não é o caso, pelo menos para o Brasil, da última edição do torneio, disputada no final de outubro no Uruguai. A participação bisonha das equipes nacionais catalisou reflexões necessárias sobre o basquete nacional.

Para muitos que vivem o (e do) esporte, caiu a "ficha". Finalmente perceberam a estagnação que abate as quadras do país.

Afinal, o todo-poderoso Vasco, base da seleção brasileira, numa prova da falta de competitividade e relevância do Estadual do Rio, tomou cascudos sucessivos até terminar em quinto (entre oito times).

Resultado: até o sempre positivo Hélio Rubens anda reticente.

Nas últimas semanas, o técnico da seleção e do Vasco pipocou declarações de preocupação quanto à participação do masculino em Atenas-2004.

É isso. Nem mesmo os Jogos de Sydney acabaram, estamos a dois anos do Mundial de Indianápolis (a primeira etapa da classificação olímpica), e o choro começou.

O pior é que está certo. Todo mundo largou à nossa frente.

Pesquisa minuciosa do jornalista Fabio Zambeli rastreou 35 argentinos em ação no exterior.

Dois enfrentam o desafio da NBA: o ala-pivô Ruben Wolkowyski, que já assinou por dois anos com o Seattle, e o armador Pepe Sanchez, que na última hora cavou uma vaga no Philadelphia.

Dez lapidam o jogo na Espanha, oito na primeira divisão destaque para Fabricio Oberto (Tau) e Ariel Eslava (Real Madrid).

A maioria encara o campeonato nacional mais duro da Europa, o Italiano.

São 17 jogadores, 15 na divisão de elite. Hugo Sconochini e Emanuel Ginóbili atuam pelo Kinder Bologna, um dos favoritos ao título da Euroliga.

O Brasil ignora os intercâmbios. Se não me falha a memória, do primeiro escalão do basquete nacional, apenas o ala Guilherme Joanoni arrisca a pele na Espanha. Janjão, que refinou o jogo e a cintura na Itália, capitulou e agora desfruta o veraneio vascaíno.

No país, soltamos fogos de artifício quando promessas, como Diego e João Paulo, descolam time para disputar o Estadual...
A CBB fortaleceu o Nacional? Pois dá vergonha dele, se comparado ao Argentino (competitividade, torcida, ginásios, calendário... escolha o critério).

A CBB reativou a rotina das seleções de base? Pois os vizinhos há anos investem nas categorias inferiores e, em menos de dois anos, roubaram todos os títulos que pertenciam aos brasileiros.

A CBB festejou o título do Pan-Americano de 99, importante para devolver auto-estima ao basquete nacional? Pois a Argentina enviou a Winnipeg uma seleção reserva, para que jovens ganhassem experiência internacional.

Por essas e outras, não dá para acreditar em Atenas-2004.

Na realidade, como lembra Zambeli, a única chance de chegar à Olimpíada é apostar nos arqui-rivais em Indianápolis.

Se os argentinos ficarem entre os primeiros no Mundial, o continente americano ganhará outra vaga nos Jogos. Aí, caberia ao Brasil disputá-la com venezuelanos, dominicanos etc. Que coisa.



NOTAS


Latino 1

A NBA abriu o campeonato com um recorde de 46 atletas nascidos fora dos EUA. Nunca a América Latina teve tantos representantes: seis, cinco deles calouros. Não há nenhum brasileiro.

Latino 2
O mexicano Eduardo Najera (Dallas) e o dominicano Felipe Lopez (Washington) viraram titulares. Mas o destaque latino até aqui é o pivô porto-riquenho Daniel Santiago (Phoenix), com 6,3 pontos, 2,3 rebotes e 57,1% de precisão nos arremessos em pouco mais de 12 minutos por jogo.

Latino 3
Outra vez, os Jogos Abertos do Interior causam a interrupção do Paulista de basquete. Em vez de mofar nos ginásios, treinando bandejas, o time masculino do Pinheiros programou amistosos contra equipes universitárias na Flórida. Pelo menos alguém está se mexendo.



E-mail: melk@uol.com.br


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