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PENSATA

Terça-Feira, 14 de novembro de 2000


Lilliput

Melchiades Filho
     

Diego Medina
Esporte conhecido por corroborar favoritismos, o basquete enfim dá vivas à diversidade. Tanto no Brasil como na NBA, as quadras renderam-se a azarões nos últimos dias: pequenos times, grandes exemplos de superação.

No topo da tabela do campeonato norte-americano, nada dos milionários Los Angeles Lakers e Portland, os favoritos à taça.

A liderança, invicta, pertence ao pouco festejado Philadelphia, equipe que possui só um astro, Allen Iverson _que, aliás, faz um começo de torneio modesto.

Para alcançar as sete vitórias, o técnico Larry Brown explora um grupo de coadjuvantes com senso tático e vigor físico. O curioso é que todos haviam sido descartados por seus times anteriores.

Eric Snow, calmo armador que dita o ritmo do jogo e neutraliza os
acessos do mercurial Iverson, fora chutado pelo Seattle. Theo Ratliff, hoje o ala-pivô mais temível da Conferência Leste, veio como contrapeso em uma negociação com o Detroit. Toni Kukoc, principal oxigênio do banco de reservas, caíra em desgraça no Chicago. E George Lynch, o reboteiro da equipe, tinha sido dispensado pelo Vancouver!

Na vice-liderança, aparece outro grupo de abnegados, o Phoenix (6v e 1d). Inacreditável, para uma equipe que atua sem dois titulares (machucados) e que não tem um gigante de qualidade para disputar um campeonato dominado por superpivôs desde a aposentadoria de Michael Jordan.

Atrás, empatados, mais surpresa: o Utah e o Cleveland (5v e 1d).
O Utah volta a desafiar a natureza, de novo amparado na extraordinária capacidade técnica e médica da dupla John Stockton (38 anos e 35 batidas cardíacas por minuto em repouso, menos da metade de um cidadão normal) e Karl Malone (37 anos e taxa de apenas 3,7% de gordura corporal, um terço da média dos atletas da liga profissional).

O Cleveland, por sua vez, desafia a lógica. Não tem nenhum jogador de renome. O armador é o líder da NBA em "turnovers", o pivô registra mais faltas do que rebotes, o cestinha não marca mais de 13 pontos por jogo...

Assim como não dá para entender como Dallas e Vancouver aparecem à frente do Portland...

Já no Rio, dá, sim, para entender como o modesto Botafogo tornou-se o único invicto no Estadual mais estrelado do país _em pouco mais de uma semana, venceu os aclamados Vasco (duas vezes) e Flamengo (uma).

De novo, Marcelinho, 25, faz a diferença. Não raramente, ele se aproxima do "triplo-duplo" em pontos, rebotes e assistências.

O ala-armador é, de longe, o jogador com mais potencial internacional da nova safra brasileira.

Talvez seja ansioso demais para buscar a jogada de efeito _mas garante a máscara com arremessos fluidos e o prazer em infiltrar.

Talvez lhe falte topete para se arriscar a conviver com outros talentos no mesmo time _mas suas poucas experiências na seleção não foram decepcionantes.

Talvez ainda seja franzino para cruzar a fronteira _mas tomou a decisão, correta, de contratar personal trainer e nutricionista.

No fim, são tantos sinais de maturidade, dele e dos companheiros, que, no Rio, vejo chances de sucesso total. Na NBA, ainda aposto em Gulliver no epílogo.


NOTAS

Míni 1
A NBA encolheu. Em média, o atleta inscrito no campeonato 00/01 tem 2,0107 m, 60 milímetros a menos do que na temporada anterior. É a menor estatura da década.

Míni 2
Trinta centímetros mais baixo, Stephon Marbury desbancou Shaquille O'Neal e assumiu a artilharia da NBA. Soma 29,8 pontos por jogo, com um aproveitamento de 53,1% nos arremessos de quadra (índice impressionante para um jogador de perímetro). O armador é o responsável direto pela boa campanha do modesto New Jersey, que, mesmo sem três titulares, está entre os oito melhores do Leste (3v e 3d).

Míni 3
Arnaldinho é o outro nome do Botafogo que merece atenção. Assim como Marbury, tem 1,86 m.



E-mail: melk@uol.com.br


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