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Diego
Medina
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Não
foi o chute de 25 metros de Janeth contra a Eslováquia. Nem
a cesta salvadora de Alessandra diante da Rússia. Tampouco
a enterrada absurda de Vince Carter sobre a França. Para
mim, a cena do basquete de Sydney, aquele retrato que vai abrir
o álbum olímpico, focaliza Alonzo Mourning, ajoelhado
na beira da quadra, rezando para não cair o último
arremesso da Lituânia.
Cerca de 30 centímetros separaram o tiro de Sarunas Jasikevicius
do chuá, os lituanos da glória, os norte-americanos
do degredo, os Jogos-2000 da história.
Mas foram suficientes para despedaçar a imagem do Time
dos Sonhos. A seleção dos EUA acabou ganhando
o ouro, mas deixou a Austrália sem o apelido _bastaram duas
Olimpíadas, e não os 50 anos estimados em Barcelona-92,
quando Michael Jordan & Cia botaram as quadras para sonhar pela
primeira vez.
Você já deve ter tropeçado em diagnósticos
nesses dez dias de pós-operatório: o quarto Dream
Team trocou a técnica pela arrogância, o mundo
perdeu a reverência, os rivais ficaram literalmente mais fortes,
os EUA não levaram seus melhores...
Tudo bem, fazem sentido. Mas para entender a súbita vulnerabilidade
dos norte-americanos é preciso cavar mais fundo.
Esta coluna já tratou das particularidades do basquete da
NBA, de como a obrigatoriedade da marcação homem-a-homem
lapidou o esporte na América do Norte, deixou-o mais sofisticado
e difícil de jogar (não é por outra razão
que estrangeiros penam tanto para se adaptar à liga profissional).
Sydney provou que a equação também funciona
invertida.
Acostumados a isolamentos, a corta-luzes definitivos, à divisão
geométrica da quadra, os norte-americanos simplesmente refugaram
ante a defesa por zona.
Sobretudo contra a Lituânia, que congestionou o garrafão
com três (às vezes, quatro) atletas e destacou os dois
restantes (ou um) para pressionar a bola.
Como se quebra uma marcação dessa? Com superpivôs
habilidosos (para neutralizar a sombra tripla sob a tabela), velocidade
na transição (para impedir que o oponente monte a
zona), jogadas ensaiadas (para vazá-la por insistência)
e arremessos de três pontos (para forçá-la a
se abrir).
O DT 4 chegou à Olimpíada sem nenhuma
dessas munições.
Não explorou pivôs, por inabilidade na convocação
(havia só um para a posição, o defensivista
Mourning). Não contra-atacou, por paralisia tática.
Não ensaiou, por vadiagem na preparação no
Havaí (coquetel de frutas na jacuzzi não é
treino). E não chutou de longe, por falta de cacoete.
Ora, você pode argumentar, os EUA formam seus atletas na universidade,
cujos campeonatos usam e abusam da defesa por zona. Era, então,
de se esperar que os craques da NBA tivessem repertório para
sair da enrascada.
O problema é que os garotos têm se profissionalizado
cada vez mais rápido, atraídos por um mercado ávido
por novos heróis. Na correria, deixam de burilar os fundamentos
do basquete.
Dessa forma, o DT 4 carrega, em média, somente
2,8 anos de bagagem universitária.
O DT 1, tão arrogante e displicente como este
(gastava mais tempo em charutos e carteado do que com a bola laranja),
tinha 3,6 anos de experiência.
NOTAS
Pesadelo
1
Antes que os amantes do basquete puro se entusiasmem,
é preciso deixar claro que o projeto DT hoje
não concebe riscos nem concessões comerciais. Os
universitários não vão voltar. Os profissionais
é que terão de estudar.
Pesadelo 2
As outras 11 seleções olímpicas canalizaram
33% de seu ataque para os tiros de três pontos. Os EUA pararam
em 24,6%.
Pesadelo 3
Os EUA tiveram a defesa mais violenta, 24,5 faltas por jogo (16%
acima das demais). Com isso, rompendo uma tradição,
não venceram a batalha dos lances livres. Chutaram, em
média, um a menos do que os adversários (28,7 x
29,8).
Pesadelo 4
Com o fiasco em Sydney, continua despencando a margem de pontos
das vitórias dos Dream Teams: 43,7 (Barcelona-92),
37,8 (Toronto-94), 31,7 (Atlanta-96) e 21,6 (Sydney-00).
E-mail:
melk@uol.com.br
Leia
mais:
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03/10/2000 - O jogo das porcentagens
26/09/2000
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